SUSTENTABILIDADE E SUSTENTO DOMÉSTICO EM UM ASSENTAMENTO AGROEXTRATIVISTA DO ESTUÁRIO AMAZÔNICO
DOI:
https://doi.org/10.5380/raega.v54i0.74763Palavras-chave:
Transformações socioecológicas, Ribeirinhos, Política pública, AmazôniaResumo
Esta pesquisa discute as principais transformações sociais e ecológicas ocorridas a partir da criação, em 2004, do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) São João Batista, Ilha de Campompema, Abaetetuba, Pará e analisa a sua condição de sustentabilidade. A pesquisa de campo foi realizada no período de março a agosto de 2018, por meio de 141 entrevistas semiestruturadas. Para mensurar a percepção dos comunitários sobre a condição de sustentabilidade do PAE foram usados três índices relacionados às dimensões social, econômico e ambiental. As escalas para valoração dos indicadores apresentam valores que variaram de zero (Total Insatisfação) a quatro (Total Satisfação) e a sustentabilidade foi qualificada em cinco graus (Muito baixo; Baixo; Médio; Alto; Muito Alto). As percepções dos moradores acerca das mudanças no ambiente, a partir da implementação do PAE e posterior intensificação do cultivo do açaí, indicam que esse sistema tem enfrentado limitações relacionadas a alterações na fauna (5,7%) e no clima (39,9%), assoreamento (1,3%), desmatamento (5,1%), erosão (4,4%), poluição do rio (8,2%), queimadas (0,6%) e resíduos sólidos (34,8%). Segundo os comunitários, o assentamento apresenta um nível de sustentabilidade comunitária muito baixa. A implantação do assentamento agroextrativista na Ilha de Campompema possibilitou o estabelecimento de melhorias locais, a exemplo do acesso ao ensino público e gratuito, mas as dificuldades relatadas pelos ribeirinhos refletem contradições e desafios já elencados na região, evidenciando que a questão socioambiental precisa ser reconhecida com a seriedade e prioridade que deve ter nas políticas públicas.
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