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DE MODELO IDEAL DE GESTÃO TERRITORIAL À REALIDADE ATUAL: AS DISFUNCIONALIDADES NA RESERVA EXTRATIVISTA CHICO MENDES (ACRE/BRASIL)

Alexsande Oliveira Franco, Cicilian Luiza Löwen Sahr

Resumo


A imensidão da região amazônica mostra um leque de interações sociais em territórios diversos, cada um com sua própria dinâmica. Seringueiros, indígenas e ribeirinhos por mais de século fizeram parte da natureza. Estes, todavia, foram sendo gradativamente integrados a um projeto de “modernidade” em que forças estatais e do capital se apoderaram de seus territórios. Um a um, esses povos foram sendo invisibilizados, passando a serem considerados “tradicionais”. Para amenizar estas expropriações, a partir da década de 1990 o Estado passou a implantar diferentes modelos territoriais, entre eles, o das Reservas Extrativistas (RESEX). O presente artigo busca avaliar as disfuncionalidades deste modelo. A discussão se ampara numa abordagem de matriz sistêmica e no estudo de caso da Reserva Extrativista Chico Mendes, símbolo da luta seringueira. Como recorte espacial adotam-se dois subconjuntos de seringais no município de Epitaciolândia, sendo três com características tradicionais - Filipinas, Porongaba e Povir - e três com características não tradicionais - Nova Esperança, Santa Fé e Rubicon. As reflexões se baseiam no conteúdo de entrevistas semiestruturadas realizadas com 12 moradores e 6 gestores da reserva. Conclui-se que este modelo apresentou intensa dinâmica em seus subsistemas político-administrativo, sociocultural, econômico e ecológico, afastando-se do ideário de sua concepção. Tal afastamento pode ser atribuído à negligência com determinadas questões: redução no preço e na produção dos produtos extrativistas, expansão da pecuária na região e entrada de moradores na área com perfil diferente do apregoado. Estes fatores contribuíram para gerar disfuncionalidades no modelo.


Palavras-chave


Análise sistêmica; Unidades de Conservação; Extrativismo; Seringueiros; Amazônia

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/raega.v54i0.74076