O TURISMO ANTI-MODERNO: FAMÍLIAS POLÍTICAS, ARRANJOS E COALIZÕES NA PASTA MINISTERIAL
DOI:
https://doi.org/10.5380/nep.v10i1.95759Palavras-chave:
Ministério. Turismo. Poder. Família. Genealogia.Resumo
Referenciado por sua capacidade de geração de renda, o turismo se mantém no centro dos debates que tratam do desenvolvimento no país, afinal, são quase cem anos de políticas públicas em âmbito federal, o que culminou na organização da pasta ministerial. É incontestável a afirmação dos privilégios de classe e a concentração de riqueza em índices quase únicos no Brasil, o que substitui ou até nega outras representações aprofundando nossa desigualdade social, uma das maiores do mundo. Obviamente, o turismo é espelho da estrutura histórico social, e reproduz o seu núcleo central. Nessa direção, pesquisas apontam a importância de se conhecer as estruturas genealógicas do país, para se compreender a realidade social e política brasileira, prenhe do atravessamento familiar com concentração do poder nas principais instituições. Não há na literatura acadêmica debates sobre os interesses familiares nas instituições que envolvem o turismo. Nosso desafio foi investigar, por meio de um esforço genealógico, com apoio da prosopografia, os protagonistas desta pasta ministerial. Os dados levantados apontam que o Ministério do Turismo, criado no século XXI, reproduz o perfil político familiar arraigado na antiga ordem, com conexões de parentescos, imbricadas em complexas estruturas de poder que garante a continuidade familiar, o controle do poder e das riquezas. Agrega-se um perfil de políticos conservadores, partidarização e regionalização no contexto da pasta.
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