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O QUE TORNA RELIGIOSA A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA? UM ESTUDO DE CASO ACERCA DAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS DE 2022

Emanuel Freitas da Silva, Kerolaine de Castro Oliveira

Resumo


O objetivo do presente artigo é apresentar uma análise acerca das relações entre religião e política no Brasil contemporâneo tais como estão se processando em momentos eleitorais. A pergunta que rege o texto, a mesma que o intitula, busca identificar particularidades presentes na representação tida como “religiosa”. Para tanto, toma-se como córpus de análise as candidaturas de dois casais evangélicos de dois diferentes estados, Ceará e Pernambuco, que buscavam a eleição para a Câmara Federal e a Assembleia Legislativa de seus estados com o intuito de formação de uma “trincheira” religiosa no Parlamento. Filiados a partidos de direita e alinhados estreitamente ao bolsonarismo como ideologia e plataforma política, ambos mobilizaram suas bases religiosas no intuito de estabelecer uma relação entre ser cristão e ser de direita, reproduzindo em seus estados agendas políticas tidas como “conservadoras”. Realizando, assim, um estudo de caso sobre tais campanhas eleitorais, valendo-nos da análise de dados obtidos em suas redes sociais, apresentamos uma reflexão sobre a representação política de atores do campo religioso, buscando compreender quais as consequências, para a democracia brasileira, da forma como tal representação tem se dado no país.

Palavras-chave


Eleições; Representação Política; Evangélicos.

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/nep.v9i1.91643

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