BREVE ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DA FAMÍLIA JANENE À LUZ DA CULTURA POLÍTICA
DOI:
https://doi.org/10.5380/nep.v6i1.74590Palavras-chave:
Janene, cultura política, clientelismo.Resumo
A família Janene, alvo deste artigo, é uma das famílias estabelecidas em Londrina-PR e dentre os seus mais de trinta anos de história política da cidade, sempre esteve em evidência na mídia, ligada a fatos supostamente ilícitos, sendo citado o seu envolvimento em casos de corrupção, estando também envolvidos na operação da Polícia e da Justiça Federal, conhecida como Lava-Jato. Pretende-se fazer uma breve análise da trajetória de José Janene e seus familiares, à luz dos conteúdos sobre cultura política. Para tanto, serão apresentados dados biográficos e de trajetória social da referida família, elaborados a partir do conceito de trajetórias de Pierre Bourdieu; após, far-se-á uma análise desta trajetória a partir de conceitos como clientelismo e mandonismo, pautados principalmente nos autores Tereza Sales, José Murillo de Carvalho e Vitor Nunes Leal. Como resultado de tais análises temos que Janene fez parte de um círculo vicioso: investiu dinheiro em política, obteve retorno financeiro da política, investiu mais e obteve mais dinheiro ainda e, na medida em que ganhou mais dinheiro, obteve mais poder político, chegando a ser apontado como “o político que mandou no Brasil”. Apesar de ter sido uma liderança do PP por quase toda a sua carreira política, Janene transitou tranquilamente por outros partidos, estando registradas as suas relações com PT, PMDB e PDT, com influência política e “negócios” expandidos para outros Estado do Brasil, além do Paraná, confirmando as teses sobre cultura política apresentadas pelos autores já mencionados, de que a organização da política brasileira se dá a partir da política local, individualizada em seus “caciques”, os quais por meio dos cargos e funções ocupadas em âmbito local conseguem, por meio de várias estratégias, dentre elas o clientelismo, ganhar projeção em outras esferas (estadual e nacional), comprovando que o clientelismo é um fator integrador da política no Brasil atualmente e que este não é apenas uma retórica ou um conceito vazio, mas sim um prática política de resultados garantidos, a qual acirra as desigualdades sociais, cerceia a distribuição de recursos e empobrece a oferta das políticas públicas.
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