DESIGUALDADES MATERIAIS ENTRE RAÇAS E GÊNEROS NA DISPUTA ELEITORAL:
UMA ANÁLISE DO FINANCIAMENTO DAS CAMPANHAS ELEITORAIS DOS(AS) CANDIDATOS(AS) ELEITOS(AS) PARA A CÂMARA DOS DEPUTADOS NAS ELEIÇÕES PROPORCIONAIS FEDERAIS DE 2018 E 2022
Resumo
O artigo analisa as diferenças materiais observadas entre os(as) candidatos(as) autodeclarados(as) brancos(as) e os(as) candidatos(as) autodeclarados(as) pardos(as)/negros(as) eleitos(as) nas duas últimas eleições proporcionais federais realizadas no Brasil em 2018 e 2022. Partindo das declarações de patrimônio apresentadas à Justiça Eleitoral pelos próprios(as) candidatos(as) no âmbito de seus requerimentos de registro de candidaturas e das informações a respeito da origem das receitas que abasteceram as suas campanhas eleitorais, declaradas nas suas prestações de contas de campanha, investiga-se o deságio material no financiamento das campanhas eleitorais de candidatos(as) brancos(as) e negros(as)/pardos(as) eleitos(as) para a Câmara dos Deputados em 2018 e 2022. Na sequência, avaliam-se as políticas públicas inclusivas instituídas no sistema eleitoral brasileiro para a consecução da igualdade substancial entre raças a partir da perspectiva bidimensional da justiça racial proposta por Nancy Fraser.
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