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O ECOLOGISMO DOS POBRES E O RACISMO AMBIENTAL: REFLEXÕES SOBRE SOCIEDADE E NATUREZA PARA UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA

Viviane Camejo Pereira, Claudemira Vieira Gusmão Lopes

Resumo


O objetivo deste ensaio é apresentar a contribuição do ecologismo dos pobres e do racismo ambiental para a construção de uma perspectiva crítica da relação sociedade-natureza no contexto da Educação Ambiental. Parte-se de que a Educação Ambiental crítica é um campo propício para diálogos críticos sobre a problemática socioambiental em espaços escolares e não escolares. Por meio de uma revisão bibliográfica, argumenta-se que as populações tradicionais do campo, das águas e das florestas e as populações economicamente vulneráveis nas periferias das grandes cidades muitas vezes são afastadas da convivência com um ambiente conservado. A exploração e degradação da natureza e relações sociais desiguais são inerentes aos conflitos socioambientais que expressam um modelo de desenvolvimento insustentável. Debates sobre a relação sociedade-natureza focados em propostas de reciclagem, consumo consciente e outras medidas paliativas sugeridas por várias correntes ecológicas, não são suficientes para fazer o enfrentamento à escassez de recursos, à pobreza e a destruição acelerada da natureza. A relação do ser humano com a natureza é também reflexo das relações sociais. Assim, propõem-se uma Educação Ambiental crítica construída a partir do diálogo interdisciplinar com as perspectivas do ecologismo dos pobres e o racismo ambiental como forma de contextualizar o debate ambiental nas relações sociais.

Palavras-chave: Problemática socioambiental; Justiça ambiental; Vulnerabilidade socioeconômica.


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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/diver.v14i2.83342

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