Open Journal Systems

Acesso à justiça para pessoas com deficiência: direitos humanos e o modelo social de processo

Vitor Fonsêca

Resumo


Este artigo discute os impactos do modelo social de deficiência no acesso à justiça. Pergunta-se: — Existe um modelo social na justiça civil para pessoas com deficiência? Usou-se como metodologia a pesquisa documental de autores nacionais e estrangeiros que explicam a transição do modelo médico ao modelo social de deficiência e seu impacto no acesso à justiça para pessoas com deficiência, além de trabalhos científicos e documentos internacionais voltados aos direitos humanos que indicam boas práticas e exemplos concretos desse impacto no processo. Para tanto, o estudo começa identificando as diferenças entre o modelo médico e o modelo social de deficiência. Em seguida, propõe o artigo 13, da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, como padrão internacional para esse modelo social. Ao final, o trabalho apresenta as barreiras esperadas para esse modelo social na justiça civil, especialmente no que se refere à capacidade jurídica, e sugere “adaptações processuais” como importante ferramenta de acessibilidade na justiça civil. O artigo sugere que é preciso adotar a ideia de um “devido processo legal inclusivo”, pois as regras processuais precisam ser adaptadas às pessoas com deficiência; sugere ainda que a customização dessas adaptações não constitui um “favor” ou uma “perseguição” a pessoas com deficiência.

Palavras-chave


Acesso à justiça. Pessoas com deficiência. Modelo social.

Texto completo:

PDF

Referências


ARAOZ, Inés de. Acceso a la justicia: ajustes de procedimiento para personas con discapacidad intelectual y del desarrollo. Madri: Plena Inclusión, 2018.

BARBOSA-FOHRMANN, Ana Paula. Do modelo médico ao modelo intermediário: uma reflexão teórico-prática sobre a inclusão de pessoas com deficiência. In: BARBOSA-FOHRMANN, Ana Paula; VIVAS-TESÓN, Inmaculada (org.). Cruzando fronteiras: perspectivas transnacionais e interdisciplinares dos estudos de deficiência. Porto Alegre: Fi, 2020. p. 23-43.

BARBOSA-FOHRMANN, Ana Paula. Os modelos médico e social de deficiência a partir dos significados de segregação e inclusão nos discursos de Michel Foucault e de Martha Nussbaum. Revista Estudos Institucionais, [s. l.], v. 2, n. 2, 2016.

BARBOSA-FOHRMANN, Ana Paula; ARAÚJO, Luana Adriano. Acesso à justiça para pessoas com deficiências psicossociais: as vias do reconhecimento e da distribuição. In: BARBOSA-FOHRMANN, Ana Paula et al. (coord.). Autonomia, dignidade e deficiência. Porto Alegre: Fi, 2021. p. 432-469.

BEQIRAJ, Julinda; MCNAMARA, Lawrence; WICKS, Victoria. Access to justice for persons with disabilities: from international principles to practice. Londres: International Bar Association, 2017.

CAMPBELL, Fiona Kumari. Refusing able(ness): a preliminary conversation about ableism. M/C Journal, [s. l.], v. 11, n. 3, 2008.

CANGUILHEM, Georges. The normal and the pathological. Nova York: Zone Books, 1991.

CEDERBORG, A. C.; LAMB, M. Interviewing alleged victims with intellectual disability. Journal of intellectual disability research, [s. l.], v. 52, n. 1, p. 49-58, 2008.

CHATZOPOULOU, Anastasia. The dilemma in the deaf community: linguistic minority or persons with disability. [Nicosia]: University of Cyprus, 2014.

COMITÊ DOS DIREITOS DA CRIANÇA (CRC). General comment n. 12 (2009): the right of the child to be heard. Genebra: CRC, 2009.

COMITÊ DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (CRPD). General comment n. 1 (2014): article 12: equal recognition before the law. Genebra: CDPcD, 2014.

COMITÊ DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (CRPD). Principios y directrices internacionales sobre el acceso a la justicia para las personas con discapacidad. Genebra: CDPcD, 2020.

CONTRERAS, María José; SILVA, Eva A.; MANZANERO, Antonio L. Evaluación de capacidades para testificar en víctimas con discapacidad intelectual. Anuario de Psicología Jurídica, Madrid, v. 25, p. 87-96, 2015.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS (CEDH). Caso Nikolyan vs. Armênia. Petição 74438/14. Julgado em 3 de janeiro de 2020.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS (CEDH). Caso Shtukaturov vs. Rússia. Petição 44009/05. Julgado em 27 de junho de 2008.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS (CEDH). Caso Stanev vs. Bulgária. Petição 36760/06. Julgado em 17 de janeiro de 2012.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (Corte IDH). Caso Furlán e Familiares vs. Argentina. Exceções preliminares, Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 31 de agosto de 2012. Série C, número 246.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (Corte IDH). Caso Gonzales Lluy e Outros vs. Equador. Exceções preliminares, Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 1 de setembro de 2015. Série C, número 298.

COSTA, Flávia Albaine Farias da. O conceito de pessoa com deficiência e a proposta de um diálogo de cortes: análise do seu significado na Corte Interamericana de Direitos Humanos e na jurisprudência dos tribunais superiores brasileiros. Teoria jurídica contemporânea, [s. l.], v. 1, n. 5, p. 61-86, 2020.

DINIZ, Debora. O que é deficiência. São Paulo: Brasiliense, 2007.

DINIZ, Debora; BARBOSA, Lívia; SANTOS, Wederson Rufino dos. Deficiência, direitos humanos e justiça. SUR: Revista Internacional de Direitos Humanos, [s. l.], v. 6, n. 11, p. 65-77, 2009.

DINIZ, Maria Helena. Influência da Lei n. 13.146/2015 na teoria das incapacidades do direito civil brasileiro. Revista Jurídica Luso-Brasileira, Lisboa, n. 5, p. 981-1.014, 2016.

ESCRITÓRIO DO ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA OS DIREITOS HUMANOS (ACNUDH). A/HRC/37/25: Derecho de acceso a la justicia en virtud del artículo 13 de la Convención sobre los Derechos de las Personas con Discapacidad - Informe de la Oficina del Alto Comisionado de las Naciones Unidas para los Derechos Humanos. Naciones Unidas, 2017.

EXPÓSITO, Gabriela. A capacidade processual da pessoa com deficiência intelectual. Salvador: JusPodivm, 2019.

FLYNN, Eilionóir. Disability, Deprivation of Liberty and Human Rights Norms: Reconciling European and International Approaches. International Journal of Mental Health and Capacity Law, [s. l.], n. 22, p. 75-101, 2016a.

FLYNN, Eilionóir. Disabled justice? Access to justice and the UN Convention on the Rights of Persons with Disabilities. Nova York: Routledge, 2016b.

FLYNN, Eilionóir. Making human rights meaningful for people with disabilities: advocacy, access to justice and equality before the law. The International Journal of Human Rights, [s. l.], v. 4, n. 17, p. 491-510, 2013.

GABURRI, Fernando. Capacidade e tomada de decisão apoiada: implicações do Estatuto da Pessoa com Deficiência no Direito Civil. Direito e Desenvolvimento, [s. l.], v. 7, n. 13, p. 118-135, 2016.

GARCÍA, Rafael de Lorenzo. El derecho fundamental de acceso a la justicia: barreras que menoscaban su ejercicio a las personas con discapacidad. Anales de Derecho y Discapacidad, [s. l.], v. 4, p. 11-31, 2019.

GAW, Albert C. The development of the legal status of the deaf: a comparative study of the rights and responsibilities of deaf-mutes in the laws of Rome, France, England and America - II. American Annals of the Deaf, [s. l.], v. 51, n. 5, p. 401-423, 1906.

GIBSON, Frances. Article 13 of the Convention on the Rights of Persons with Disabilities: a right to legal aid? Australian Journal of Human Rights, [s. l.], v. 15, n. 2, 2010.

HENRY, L. et al. Perceived credibility and eyewitness testimony of children with intellectual disabilities. Journal of Intellectual Disability Research, [s. l.], v. 55, n. 4, p. 385-391, 2011.

KEBBELL, Mark R.; HATTON, Christopher; JOHNSON, Shane D. Witnesses with intellectual disabilities in court: what questions are asked and what influence do they have? Legal and Criminological Psychology, [s. l.], v. 9, n. 1, p. 23-35, 2004.

LANE, Harlan. Constructions of deafness. Disability & Society, [s. l.], v. 10, n. 2, 1995.

LARSON, David Allen. Access to justice for person with disabilities: an emerging strategy. Laws, [s. l.], n. 3, p. 220-238, 2014.

LAWSON, Anna. Disabled people and access to justice: from disablement to enablement? In: BLANCK, Peter; FLYNN, Eilionóir (coord.). Routledge Handbook of Disability Law and Human Rights. Londres: Routledge, 2017.

LINTON, Simi. Claiming disability: knowledge and identity. Nova York: New York University Press, 1998.

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.

MARTÍN, Mario Toboso. Afrontando el capacitismo desde la diversidad funcional. Dilemata (Revista Internacional de Éticas Aplicadas), [s. l.], n. 36, p. 69-85, 2021.

MILNE, Becky; BULL, Ray. Interviewing victims of crime, including children and people with intellectual disabilities. In: KEBBELL, Mark R.; DAVIES, Graham M. (coord.). Practical Psychology for Forensic Investigations and Prosecutions. West Sussex: Wiley, 2006. p. 7-24.

NUSSBAUM, Martha C. Las fronteras de la justicia: consideraciones sobre la exclusión. Barcelona: Paidós, 2007.

ORTOLEVA, Stephanie. Inaccessible justice: human rights, persons with disabilities and the legal system. ILSA Journal of International & Comparative Law, [s. l.], v. 17, n. 2, p. 281-320, 2010.

PALACIOS, Agustina. El modelo social de discapacidad: orígenes, caracterización y plasmación en la Convención Internacional sobre los Derechos de las Personas con Discapacidad. Madri: Cinca, 2008.

PERLIN, Michael L. A prescription for dignity: rethinking criminal justice and mental disability law. Farnham: Ashgate Publishing, 2013.

PERLIN, Michael L. The hidden prejudice: mental disability on trial. Washington: American Psychological Association, 2000.

PRAVDA, Douglas M. Understanding the rights of deaf and hard of hearing individuals to meaningful participation in court proceedings. Valparaiso University Law Review, [s. l.], v. 45, n. 3, 2011.

RECIO ZAPATA, María; ALEMANY CARRASCO, Alberto; MANZANERO, Antonio L. La figura del facilitador en la investigación policial y judicial con víctimas con discapacidad intelectual. Revista Española sobre Discapacidad intelectual, [s. l.], v. 43, n. 3, p. 54-68, 2012.

ROIG, Rafael de Asís. Sobre el significado de los ajustes de procedimiento. In: BARBOSA-FOHRMANN, Ana Paula et al. (coord.). Cruzando fronteiras: perspectivas transnacionais e interdisciplinares dos estudos de deficiência. Porto Alegre: Fi, 2020.

SANTOS, Wederson Rufino dos; DINIZ, Debora; PEREIRA, Natália. Deficiência e perícia médica: os contornos do corpo. RECIIS: Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde, [s. l.], v. 3, n. 2, p. 16-23, 2009.

SWIFT, Paul et al. What happens when people with learning disabilities need advice about the law? Bristol: University of Bristol, 2013.

UNITED STATES. Massachusetts Supreme Judicial Court. McDonough 457 Mass. 512, 2010.

UNITED STATES. Supreme Court of the United States. Tennessee v. Lane. 541 US 509, 2004.

UNITED STATES. United States District Court: South District Indiana. Prakel v. Indiana. 4:12-cv-45-SEB-WGH, 2015.

WALTER-BRICE, Alison et al. What do women with learning disabilities say about their experiences of domestic abuse within the context of their intimate partner relationships? Disability & Society, [s. l.], v. 27, n. 4, p. 503-517, 2012.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/rfdufpr.v68i2.85914