Os direitos político-eleitorais das mulheres no Brasil

cotas de gênero sob a perspectiva da democracia deliberativa

Autores

  • Renata Naomi Tranjan UFPR

DOI:

https://doi.org/10.5380/cejur.v3i2.97421

Resumo

Este artigo examina a política de cotas de gênero no Brasil, inserida no contexto mais amplo dos direitos humanos, com ênfase nas implicações práticas e nos desafios enfrentados em sua aplicação. A partir de uma abordagem qualitativa, de natureza exploratória e com análise indutiva, busca-se compreender os avanços e entraves na implementação dessas medidas, identificando padrões regionais. A análise é contextualizada por referenciais normativos e por contribuições da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, cuja atuação é brevemente ilustrada por precedentes como os casos Maria Merciadri de Moroni (Argentina) e Janet Espinoza Feria (Peru). O estudo discute as premissas democráticas da representação política, ressaltando que, mesmo com recentes reformas constitucionais — como a Emenda Constitucional nº 117/2022 e a chamada 'PEC da Anistia' —, partidos e órgãos eleitorais ainda falham em cumprir integralmente a legislação de cotas. Conclui-se que, apesar dos obstáculos internos, o fortalecimento dos direitos políticos das mulheres no Brasil encontra respaldo na atuação do sistema internacional de direitos humanos, o qual fomenta uma rede institucional e colaborativa indispensável à defesa democrática.

Referências

ALVARADO, Paola. Más allá de la utopía: del diálogo interjudicial a la constitucionalización a la constitucionalización del derecho internacional. Tesis (Doctorado en Derecho Internacional y Relaciones Internacionales) – Universidad Complutense de Madrid. Madrid. 2013.

AMANTINO, A. K. Democracia: a concepção de Schumpeter. Revista Teoria e Evidencia Econômica, v. 5, n. 10, 1998.

BRASIL. Observatório Nacional da Mulher na Política completa dois anos de atividades. Portal da Câmara dos Deputados, Brasília, 2023. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/secretarias/secretaria-da-mulher/observatorio-nacional-da-mulher-na-politica/noticias-1/observatorio-nacional-da-mulher-na-politica-completa-dois-anos-de-atividades. Acesso em: 05 nov. 2024.

BOBBIO, Norberto. Il futuro della democrazia: Una difesa delle regole del gioco. Torino: Einaudi, 1995. e-book.

CEDAW. Observaciones finales del Comité para la Eliminación de la Discriminación contra la Mujer: Brasil, 2003, CEDAW/C/BRA/1-5, 29 Período de Sesiones. New York: Naciones Unidas.

CEDAW. Observaciones finales del Comité para la Eliminación de la Discriminación contra la Mujer: Brasil, 2007, CEDAW/C/BRA/CO/6, 39. Período de Sesiones. New York: Naciones Unidas.

CHUEIRI, V. K; BOCKMANN, E.; CÂMARA, H. F; GODOY; M. G. Fundamentos de Direito Constitucionais: novos horizontes brasileiros. 1ª ed. JusPODIVM: Salvador, 2021.

CHUEIRI, V; GODOY, M. Constitucionalismo e Democracia - Soberania e Poder Constituinte. REVISTA DIREITO GV, SÃO PAULO 6(1), p. 159-174, JAN-JUN 2010.

CHUEIRI, V; KOZICKI, K. Uma Constituição Radical é possível? Disponível em: https://xdocs.com.br/doc/chueiri-vera-e-kozicki-katya-uma-constituicao-radical-e-possiveldocx-xn45ym2703oj. Acesso em 14 ago. 2022.

COLÓN-RÍOS, J. Weak Constitutionalism: democratic legitimacy and the question of constituent power. New York: Routledge, 2012.

COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Informe n. 103/01. Caso 11.307. María Merciadri de Moroni vs. Argentina. 11 de octubre de 2001, IV. Solución amistosa, Acuerdo de solución amistosa.

COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Informe n. 51/02. Petición 12.404. Janet Espinoza Feria y otras vs. Perú. 10 de octubre de 2002.

CORTE IDH. Caso Yatama vs. Nicarágua. Exceções Preliminares, Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 23 de junho de 2005.

CORTE IDH. Informe Democracia y Derechos Humanos en Venezuela. 2009.

FERNANDES, B. G. Curso de Direito Constitucional. 9ª ed. Salvador: JusPODIVM. 2017.

FERREIRA, S. L. A Constituição Reinventada pelas Crises: do Neoconstitucionalismo ao Constitucionalismo Internacionalizado. Direito e Política nas Decisões do Poder Judiciário. v. 7 n. 32, 2010.

FH. Freedom House. Election Vulnerability Index. Election Watch for the Digital Age, 2022. Disponível em: https://freedomhouse.org/report/election-watch-digital-age#brazil. Acesso em: 19 ago. 2022.

GARGARELLA, R. La justiticia frente al gobierno: sobre el carácter contramayoritario del poder judicial. Barcelona: Ariel, 1996.

GODOY, M. G. Constitucionalismo e Democracia: uma leitura a partir de Carlos Santiago Nino e Roberto Gargarella. São Paulo: Saraiva Jur, 2012.

GODOY, M. G. Devolver a Constituição ao povo: crítica à supremacia judicial e diálogos institucionais. Belo Horizonte: Fórum, 2017.

GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 18ª ed. Atlas: Barueri, 2022.

IBGE. Disponível em: https://censo2022.ibge.gov.br/panorama/. Acesso em: 13 jul. 2023.

LEFORT, C. A Invenção Democrática. Editora Brasiliense, 1981. São Paulo.

KROOK, Mona Lena; HUGHES, Melanie M.; PAXTON, Pamela. Gender quotas for legislatures and corporate boards. Annual Review of Sociology, 43, 331-352, 2017, p. 331-352.

LIMA, Jairo. Democratização do controle de constitucionalidade: análise das emendas constitucionais no Brasil pós-1988. Tese (Doutorado em Direito do Estado) – Universidade de São Paulo. São Paulo. 2018.

LIMA, Jairo. Decisão por Supermaioria nas Cortes Constitucionais: o caso das emendas constitucionais inconstitucionais. Revista Estudos Institucionais, v. 6, n. 3, p. 1310-1331, set./dez. 2020.

MENDES, C. H. Direitos Fundamentais, Separação de Poderes e Deliberação. São Paulo: Saraiva, 2011.

MENDES, G. F.; BRANCO, P. G. G. Curso de Direito Constitucional. 14ª ed. São Paulo: Saraiva jur, 2019.

MONTEIRO, Vítor de Andrade. Direitos Humanos e direitos políticos: perspectivas e tendências do direito eleitoral perante o Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Revista IIDH, vol. 61, p. 173-201. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/tablas/r34226.pdf. Acesso em 29 jul. 2023.

NETO, Cláudio Pereira de Souza. Teoria constitucional e democracia deliberativa: um estudo sobre o papel do direito na garantia das condições para a cooperação na deliberação democrática. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.

NINO, C. S. La constitución de la democracia deliberativa. Barcelona: Gedisa, 2003.

OLIVEIRA, Pedro Henrique Costa de. A proteção internacional dos direitos político-eleitorais das mulheres: análise dos casos “María Merciadri de Moroni vs. Argentina” e “Janet Espinoza e outras vs. Peru”. Resenha Eleitoral, Florianópolis, n. 23, n. 1, p. 109-138, 2019.

OLIVEIRA, Thaísa; AZEVEDO, Victoria. Cúpula da República teve só 4 mulheres no pós-ditadura e segue masculina. FOLHA DE S. PAULO, em 7 mar. 2023. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2023/03/cupula-da-republica-teve-1-mulher-para-cada-16-homens-apos-redemocratizacao-e-segue-masculina.shtml. Acesso em: 31 jul. 2023.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitoshumanos. Acesso em: 22 abr. 2022.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, 2966. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm. Acesso em: 22 abr. 2022.

ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos (“Protocolo de San Salvador), 1999. Disponível em: http://www.cidh.org/basicos/portugues/e.protocolo_de_san_salvador.htm. Acesso em: 22 abr. 2022.

ORTEGA, Roberto Niembro. Sobre la legitimidad democrática del diálogo entre jueces nacionales e internacionales tratándose de derechos fundamentales. In: BOGDANDY, Armin von; PIOVESAN, Flávia; ANTONIAZZI, Mariela Morales (coords.). Direitos humanos, democracia e integração jurídica: emergência de um novo direito público. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

PAIVA, Leticia. PEC que anistia partidos por descumprir cotas pode deter avanço feminino na política. JOTA, em 31 mar. 2022. Disponível em: https://www.jota.info/casa-jota/pec-que-anistia-partidos-por-descumprir-cotas-pode-deter-avanco-feminino-na-politica-31032022. Acesso em: 31 jul. 2023.

PICADO, Sonia. Derechos políticos como derechos humanos. In: Tratado de derecho electoral comparado de América Latina / comps. Dieter Nohlen, Daniel Zovatto, Jesús Orozco, José Thompson, 2. ed., México: FCE, Instituto Interamericano de Derechos Humanos, Universidad de Heidelberg, International IDEA, Tribunal Electoral del Poder Judicial de la Federación, Instituto Federal Electoral, 2007.

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e diálogo entre jurisdições. Revista Brasileira de Direito Constitucional – RBDC, São Paulo, n.19, p. 67-93, 2012.

PIOVESAN, Flávia. Ius constitutionale communelatino-americano em Direitos Humanos e o Sistema Interamericano: perspectivas e desafios. Revista Direito e Práxis, v. 8, n. 2, p. 1356-1388, 2017.

PIOVESAN, Flávia; FACHIN, Melina Girardi. Artigo 25: Proteção Judicial. In: PIOVESAN, Flávia; FACHIN, Melina Girardi; MAZZUOLI, Valerio de Oliveira (orgs.). Comentários à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos. RJ: Forense, 2019.

PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 14ª ed. SP: Saraiva, 2013.

PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos: Desafios e Perspectivas Contemporâneas. Rev. TST, Brasília, vol. 75, n. 1, jan/mar 2009.

PIOVESAN, Flávia; HERNANDES, Luiz Eduardo Camargo Outeiro. Democracia: proteção constitucional e internacional. ExpressaJur: São Paulo, 2023.

QUIJANO, A. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. In: CLÍMACO, Danilo Assis (org.). Antología esencial: de la dependencia histórico-estrutural a la colonialidad/descolonialidad del poder. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

RAINHA, Jamila Coco. Quem disse que lugar de mulher não é na política? A difícil inserção das mulheres no espaço de tomada de decisão, in: Anais do XI Congresso Luso Afrobrasileiro de Ciências Sociais. Salvador: Universidade Federal da Bahia. Acesso em: 13 jul. 2023.

SCHUMPETER, J. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura 1961.

SILVA, R. D. P. Aventuras Constituintes: Venezuela e a ditadura soberana do povo. 2018. Monografia (Bacharelado em Direito) – Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2018.

TEODORO, Rafael. Cotas de gênero em eleições proporcionais: como funcionam? Politize!, em 02/04/2020. Disponível em: https://www.politize.com.br/cotas-de-genero-em-eleicoes/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAjwwb6lBhBJEiwAbuVUSoyXbpbsxEod8BzHh8SvM9lbuHEEDoAfKW3UwezAvMvU8QmTa1EnVBoCqf4QAvD_BwE. Acesso em: 13 jul. 2023.

Downloads

Publicado

2025-10-13

Como Citar

Tranjan, R. N. (2025). Os direitos político-eleitorais das mulheres no Brasil: cotas de gênero sob a perspectiva da democracia deliberativa. Revista Eletrônica Do CEJUR, 3(2), 141–159. https://doi.org/10.5380/cejur.v3i2.97421