"Talvez eu não seja um homem" - antropomorfia e monstruosidade no pensamento ameríndio
DOI:
https://doi.org/10.5380/campos.v15i2.42905Keywords:
antropomorfismo, antropocentrismo, humanidade, metamorfose, monstruosidadeAbstract
Em vista do contraste proposto por Viveiros de Castro entre antropocentrismo ocidental e antropomorfismo ameríndio, o ensaio procura problematizar essa segunda noção através do estudo de algumas das etnografias em que se baseia a formulação do “perspectivismo cosmológico”. Para tanto, são analisados (i) variantes conceituais, nem sempre equivalentes, do postulado antropomórfico na obra do antropólogo; e (ii) modos divergentes da diferença ontológica entre humanidade e não-humanidade em algumas cosmologias. Levanta-se a hipótese segundo a qual o perspectivismo ameríndio comporta, em vez de uma concepção unívoca de humanidade, um conflito permanente entre antropomorfia e monstruosidade: uma sabedoria humana, “antropocêntrica”, entendida como crítica cultural da sobrenatureza, contra uma sabedoria extra-humana, teratológica, como crítica sobrenatural da cultura – e vice-versa.
References
AGAMBEN, Giorgio. 2007. Lo abierto: el hombre y el animal. Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora.
BARCELOS NETO, Aristóteles. 2000. “Monstros amazônicos: imagens waurá da (sobre)natureza”. Ciência hoje 27(162): 48-53.
BARCELOS NETO, Aristóteles. 2008. Apapaatai: rituais de máscaras no Alto Xingu. São Paulo: Edusp.
CIVRIEUX, Marc de. 1992. Watunna: un ciclo de creación en el Orinoco. Caracas: Monte Avila Editores.
CIVRIEUX, Marc de; GUSS, David M. 1997. Watunna: An Orinoco Creation Cycle. Austin: University of Texas Press.
CLASTRES, Pierre. 1990. A fala sagrada: mitos e cantos sagrados dos índios Guarani. Campinas: Papirus.
CLASTRES, Pierre. 2011. “Arqueologia da violência: a guerra nas sociedades primitivas”. In: Arqueologia da violência: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac Naify.
DANOWSKI, Déborah; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2014. Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. Desterro [Florianópolis]: Cultura e Barbárie, Instituto Socioambiental.
DESCOLA, Philippe. 1998. "Estrutura ou sentimento: a relação com o animal na Amazônia". Mana 4(1): 23-45. https://doi.org/10.1590/S0104-93131998000100002
DESCOLA, Philippe. 2005. Par-delà nature et culture. Paris: Gallimard.
GOLDMAN, Irving. 1975. The Mouth of Heaven: An Introduction to Kwakiutl Religious Thought. New York: John Wiley & Sons.
GONÇALVES, Marco Antônio. 2001. O mundo inacabado: ação e criação em uma cosmologia amazônica (etnografia pirahã). Rio de Janeiro: Editora UFRJ.
GUSS, David M. 1994. Tejer y cantar. Traducción de C. Escalona. Caracas: Monte Avila Editores.
HUGH-JONES, Stephen. 1994. “Shamans, Prophets, Priests, and Pastors”. In: N. Thomas & C. Humphrey (orgs.). Shamanism, History and the State (pp. 32-75). Ann Arbor: The University of Michigan Press.
KANT, Immanuel. 2006. Antropologia de um ponto de vista pragmático. São Paulo: Iluminuras.
KELLY LUCIANI, José Antonio. 2013. “Resenha de KOPENAWA, Davi & ALBERT, Bruce. La chute du ciel: paroles d’un chaman yanomami. Paris: Terre Humain, Plon. 2010. 819 pp.” R@U - Revista de Antropologia da UFSCar 5(1): 172-187
KOHN, Eduardo. 2013. How Forests Think: Toward an Anthropology Beyond the Human. Berkeley and Los Angeles: University of California Press.
KOPENAWA, Davi & ALBERT, Bruce. 2003. “Les ancêtres animaux”. In: B. Albert & H. Chandès (eds.). Yanomami – L’esprit de la forêt (pp. 67-87). Paris: Fondation Cartier/Actes Sud.
KOPENAWA, Davi & ALBERT, Bruce. 2015. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras.
LATOUR, Bruno. 2009. "Perspectivism: 'type' or 'bomb'?". Anthropology Today 25(2): 1-2. https://doi.org/10.1111/j.1467-8322.2009.00652.x
LATOUR, Bruno. 2012. Enquête sur les modes d’existence: une anthropologie des Modernes. Paris: La Découverte.
LÉVI-STRAUSS, Claude. 1993. História de lince. São Paulo: Companhia das Letras.
LÉVI-STRAUSS, Claude. 1997. O pensamento selvagem. Tradução de T. Pellegrini. Campinas: Papirus.
LÉVI-STRAUSS, Claude. 2013. “Jean-Jacques Rousseau, fundador das ciências do homem”. In: C. Lévi-Strauss. Antropologia estrutural dois (pp. 45-55). São Paulo: Cosac Naify.
LIMA, Tânia Stolze. 1996. "O dois e seu múltiplo: reflexões sobre o perspectivismo em uma cosmologia tupi". Mana 2(2): 21-47. https://doi.org/10.1590/S0104-93131996000200002
LIMA, Tânia Stolze. 1999. "Para uma teoria etnográfica da distinção natureza e cultura na cosmologia juruna". Revista Brasileira de Ciências Sociais 14(40): 43-52. .
https://doi.org/10.1590/S0102-69091999000200004
LIMA, Tânia Stolze. 2005. Um peixe olhou para mim: o povo Yudjá e a perspectiva. São Paulo: Editora UNESP. MANIGLIER,
MANIGLIER, Patrice. 2000. "L'humanisme interminable de Lévi-Strauss". Les temps modernes 609: 216-241.
POZZOBON, Jorge. 2013. “Vocês, brancos, não têm alma”. In: J. Pozzobon. Vocês, brancos, não têm alma: histórias de fronteiras. Belém: EDUFPA
SÁ, Guilherme. 2013. " 'Afinal, você é um homem ou um rato?' ". Campos 14(1-2): 243-259. https://doi.org/10.5380/campos.v14i1/2.37272
VILAÇA, Aparecida. 1992. Comendo como gente: formas do canibalismo wari’. Rio de Janeiro: Editora UFRJ
VILAÇA, Aparecida. 2000. "O que significa tornar-se outro? Xamanismo e contato interétnico na Amazônia". Revista Brasileira de Ciências Sociais 15(44): 56-72.
https://doi.org/10.1590/S0102-69092000000300003
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 1985. “Nimuendaju e os Guarani”. In: C. U. Nimuendaju. As lendas da criação e da destruição do mundo como fundamentos da religião dos Apapocúva-Guarani. São Paulo: HUCITEC/Edusp.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 1986. Araweté: os deuses canibais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor/ ANPOCS.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 1996. “Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio”. Mana 2(2):115-144. https://doi.org/10.1590/S0104-93131996000200005
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2002a. “Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena”. In: A inconstância da alma selvagem, e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2002b. “Esboço de cosmologia yawalapíti”. In: A inconstância da alma selvagem, e outros ensaios de antropologia (pp. 25-85). São Paulo: Cosac Naify.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2002c. “O nativo relativo”. Mana 8(1): 113-148.
https://doi.org/10.1590/S0104-93132002000100005
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2006. “A floresta de cristal: notas sobre a ontologia dos espíritos amazônicos”. Cadernos de Campo 14/15: 319-338.
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v15i14-15p319-338
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2007. “Filiação intensiva e aliança demoníaca”. Novos Estudos 77: 91-126.
https://doi.org/10.1590/S0101-33002007000100006
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2008. “Xamanismo transversal: Lévi-Strauss e a cosmopolítica amazônica”. In: R. C. Queiroz & R. F. Nobre (orgs.). Lévi-Strauss: leituras brasileiras. Belo Horizonte: UFMG.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2009. Métaphysiques cannibales: lignes d’anthropologie structurale. Paris: Presses Universitaires de France.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2011. “‘Transformação’ na antropologia, transformação da ‘antropologia’”. Sopro 58: 3-16. Disponível em: http:// www.culturaebarbarie.org/sopro/n58pdf.html.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2012a. “The Other Metaphysics and the Metaphysics of Others”. Texto inédito.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2012b. “Cosmological Perspectivism in Amazonia and Elsewhere”. Hau – Journal of Ethnographic Theory 1: 45-168.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2013. “Algumas reflexões sobre a noção de espécie”. E-misférica 10(1): artigo eletrônico
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2015. Metafísicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac Naify.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo et alli. 2005. “O solo etnográfico do perspectivismo (1)”. Núcleo de Antropologia Simétrica – Projeto AmaZone.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Authors who publish in this journal agree to the following terms:
1 Authors retain copyright to work published under Creative Commons - Attribution-NonCommercial 4.0 International (CC BY-NC 4.0) which allows:
Share — copy and redistribute material in any medium or format
Adapt — remix, transform, and build upon material
In accordance with the following terms:
Attribution — You must give appropriate credit, provide a link to the license, and indicate if changes have been made. You must do so under any reasonable circumstances, but in no way that suggests that the licensor endorses you or your use.
Non-Commercial — You may not use the material for commercial purposes.
2 Authors are authorized to distribute the version of the work published in this journal, in institutional, thematic, databases and similar repository, with acknowledgment of the initial publication in this journal;
3 Works published in this journal will be indexed in databases, repositories, portals, directories and other sources in which the journal is and will be indexed.
