Animismo e epistemologia entre os Mbya Guarani: passos ameríndios para a ecologia da mente de Gregory Bateson

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/cra.v25i2.95863

Palavras-chave:

Gregory Bateson, Mbya Guarani, Etnologia, Epistemologia

Resumo

O artigo busca homenagear o antropólogo Gregory Bateson ao aproximar algumas de suas ideias do o material ameríndio, particularmente mbya guarani. O ponto de partida é a existência de duas epistemologias, segundo Bateson, uma menos correta e a outra mais. Definindo cada uma a partir de critérios dados por relações de tipo complementar e de tipo simétrico, a investigação percorre a etnografia mbya guarani pondo em relevo certos aspectos das relações deste povo com o meio ambiente do qual fazem parte, principalmente com os pássaros, com o porco-do-mato e de modo mais geral com os “donos” (que podem ser donos de animais, plantas, lugares, etc). Conclui-se, ao final, que, diversamente ao modo ocidental de se relacionar, segundo Bateson, apenas competitivamente com a natureza, os Mbya alternam entre competição e generosidade em suas relações com o meio ambiente, resultando num tensionamento não cumulativo.

Biografia do Autor

Vicente Cretton Pereira, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Rio Paranaíba, Minas Gerais

Doutorado em antropologia pela Universidade Federal Fluminense. Departamento de Ciências Humanas na UFV-RP.

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Publicado

2025-01-31 — Atualizado em 2025-02-02

Versões

Como Citar

Pereira, V. C. (2025). Animismo e epistemologia entre os Mbya Guarani: passos ameríndios para a ecologia da mente de Gregory Bateson. Campos - Revista De Antropologia, 25(2), 222–247. https://doi.org/10.5380/cra.v25i2.95863 (Original work published 31º de janeiro de 2025)

Edição

Seção

Artigos