Animismo e epistemologia entre os Mbya Guarani: passos ameríndios para a ecologia da mente de Gregory Bateson
DOI:
https://doi.org/10.5380/cra.v25i2.95863Palavras-chave:
Gregory Bateson, Mbya Guarani, Etnologia, EpistemologiaResumo
O artigo busca homenagear o antropólogo Gregory Bateson ao aproximar algumas de suas ideias do o material ameríndio, particularmente mbya guarani. O ponto de partida é a existência de duas epistemologias, segundo Bateson, uma menos correta e a outra mais. Definindo cada uma a partir de critérios dados por relações de tipo complementar e de tipo simétrico, a investigação percorre a etnografia mbya guarani pondo em relevo certos aspectos das relações deste povo com o meio ambiente do qual fazem parte, principalmente com os pássaros, com o porco-do-mato e de modo mais geral com os “donos” (que podem ser donos de animais, plantas, lugares, etc). Conclui-se, ao final, que, diversamente ao modo ocidental de se relacionar, segundo Bateson, apenas competitivamente com a natureza, os Mbya alternam entre competição e generosidade em suas relações com o meio ambiente, resultando num tensionamento não cumulativo.
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