O “mundo vivido” em Peter Gow a partir da releitura dos conceitos de terra, território e paisagem

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/cra.v25i2.90859

Palavras-chave:

Etnologia, Potiguara, sangue misturado, engajamentos, corpo

Resumo

As reflexões de Peter Gow são fontes de inspiração teórica e metodológica para um conjunto de pesquisas antropológicas que levam a sério o “mundo vivido” e que problematizam a mistura como tema de interesse etnológico por meio das teorias nativas acerca do contato interétnico. Através do olhar sobre o cotidiano, Gow procurou apreender as mudanças culturais e os agenciamentos observados nos contextos em que o “novo” se apresenta nos sistemas simbólicos enquanto propiciador da criatividade individual ou dos sujeitos particulares e coletivos. Partindo da etnografia Potiguara sobre o idioma da mistura e dos sentidos de território, proponho refletir sobre as concepções de história, parentesco e temporalidade para apontar os rendimentos analíticos da ideia de “mundo vivido”. Em seguida, discuto a formulação de Gow sobre terra para avançar na compreensão da territorialidade como campo de exploração etnográfica e estratégica de análise sobre as semânticas de terra, território, corpo e paisagem.

Biografia do Autor

José Glebson Vieira, Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Graduação em Ciências Sociais pela UFPB

Mestre em Antropologia pela UFPR

Doutor em Antropologia Social pela USP

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Publicado

2025-01-31

Como Citar

Vieira, J. G. (2025). O “mundo vivido” em Peter Gow a partir da releitura dos conceitos de terra, território e paisagem. Campos - Revista De Antropologia, 25(2), 95–123. https://doi.org/10.5380/cra.v25i2.90859

Edição

Seção

Dossiê