Apocalipses Culturais e Apocalipses Psicopatológicos
DOI:
https://doi.org/10.5380/cra.v24i1.86785Palavras-chave:
apocalipses, literatura moderna, psiquiatriaResumo
O artigo tematiza os apocalipses, analisando documentos literários, produzidos no ocidente moderno, seja como expressões da crise da sociedade burguesa, seja como fim dela, na perspectiva de uma apocalíptica marxista. O autor lança mão de obras de literatos de porte, como Sartre, Moravia, Camus, para evidenciar como, em tempos contemporâneos, manifesta-se na ficção uma fenomenologia da impossibilidade de ser, que ele coteja com registros psiquiátricos – de Janet em particular – de relatos da experiência da loucura. Esses textos são reveladores, segundo o argumento de De Martino, da tangência entre crise social aguda, cujas modalidades se realizam em contextos diversos, e crises psíquicas individuais. Essas últimas, que não dispõem de dispositivos equivalentes aos da tradição religiosa popular, são narradas minuciosamente por aqueles que as sofrem como perda da presença, dos referenciais perceptivos da realidade instituída e reconhecida coletivamente. Metodologicamente, em síntese, De Martino compara apocalíptica contemporânea e apocalipses psicopatológicos, enfrentando uma tarefa que se coloca não só a historiadores e antropólogos, mas aos demais humanos de nossa época, em face da dissipação do ethos da transcendência, valorizador da vida. A partir desta dissipação, deparamo-nos com a perspectiva da catástrofe, pelo conflito nuclear, risco que De Martino já apontava, ou pelo colapso ambiental que, ao tempo dele, ainda não se descortinava com tanta força em nosso horizonte. Assim, uma das riquezas do texto, entre outras, é a de antecipar, para a reflexão nas ciências humanas, a conexão entre experiência subjetiva do fim, incluindo nesta o solipsismo da loucura e seus delírios de fim de mundo, e os riscos objetivos que pesam sobre nós.
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