Open Journal Systems

Feminilidades, masculinidades e performatividade de gênero no balé: aproximações e desvios da lógica heteronormativa

Maria Thereza Oliveira Souza, Marcelo Moraes e Silva, André Mendes Capraro

Resumo


O presente estudo foi construído a partir de observação direta, realizada entre fevereiro de 2019 e março de 2020, em uma escola de balé na cidade de Curitiba, vinculada a um dos mais reconhecidos teatros do Brasil. Seu objetivo foi dissertar sobre as performatividades de gênero dos indivíduos no balé e sobre as formas de institucionalização dos papéis masculinos e femininos no que tange a oposição binária e romântica nesse contexto. Buscou-se, também, delinear os comportamentos dos rapazes em relação às moças em ambiente historicamente dominado por elas. Percebeu-se que o balé se mostra como uma eficiente ferramenta para a produção da feminilidade clássica e que as diferenciações de gênero são enfatizadas nesse contexto. Entretanto, os rapazes e homens atuam tanto a partir dessa performatividade heteronormativa exigida de um bailarino quanto a partir de suas próprias representações identitárias “desviantes” e não hegemônicas, em momentos menos formais.


Palavras-chave


gênero; sexualidade; homens; mulheres; balé.

Texto completo:

Ahead of print PDF

Referências


Abreu, F. F. (2017). Reflexões sobre gênero no balé clássico. Revista Artemis, 23(1), 149-155. https://doi.org/10.22478/ufpb.1807-8214.2017v23n1.35795

Adams, M. L. (2005). Death to the Prancing Prince: Effeminacy, Sport Discourses and the Salvation of Men’s Dancing. Body and Society, 11(4), 63-86. https://doi.org/10.1177/1357034X05058020

Adelman, M. (2003). Mulheres atletas: re-significações da corporalidade feminina? Estudos Feministas, 11(2), 445-465. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2003000200006

Alterowitz, G. (2014). Toward a feminist Ballet Pedagogy: teaching strategies for ballet technique classes in the twenty-first century”. Journal of Dance Education, 14(1), 8-17. http://dx.doi.org/10.1080/15290824.2013.824579.

Assis, M. D. P., & Saraiva, M. C. (2013). O feminino e o masculino na dança: das origens do balé à contemporaneidade. Movimento, 19(2), 303-323. https://doi.org/10.22456/1982-8918.29077

Bourcier, P. (2001). História da dança no Ocidente. São Paulo: Martins Fontes.

Bourdieu, P. (1990). Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense.

Bridges, T. (2014). Hybrid Masculinities, Sexual Aesthetics, and the Changing Relationship between Masculinity and Homophobia. Gender & Society, 28(1), 58-82. https://doi.org/10.1177/0891243213503901

Bromberger, C. (2008). As práticas e os espetáculos esportivos na perspectiva da etnologia. Horizontes Antropológicos, 14(30), 237-253. https://doi.org/10.1590/S0104-71832008000200011

Butler, J. (2015). Problemas de gênero: feminismo e subversão de identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Camargo, W. X., & Kessler, C. S. (2017). Além do masculino/feminino: gênero, sexualidade, tecnologia e performance no esporte sob perspectiva crítica. Horizontes Antropológicos, 23(47), 191-225. https://doi.org/10.1590/S0104-71832017000100007

Carrion, L. C. (2019). Entre a rua e a Cypher: processos de reapropriação da cidade de Curitiba através da Dança Breaking (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

Carvalho, A. C. G., Paula, K. C., Azevedo, T. M. C., & Nóbrega, A. C. L. (1998). Relação entre flexibilidade e força em adultos jovens de ambos os sexos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 4(1), 2-8. https://doi.org/10.1590/S1517-86921998000100002

Carvalho, J. M. (2007). Corpos em risco: etnografando bailarinos de dança contemporânea em Florianópolis com ênfase em suas trajetórias na dança, noções de corpo e corporalidade (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Clegg, H., Owton, C., & Allen-Collinson, J. (2016). The cool stuff!: gender, dance and masculinity. Psychology of Women Section Review, 18(2), 6-16.

Clegg, H., Owton, C., & Allen-Collinson, J. (2018). Challenging conceptions of gender: UK dance teachers’ perceptions of boys and girls in the ballet studio. Research in Dance Education, 19(2), 128-139. https://doi.org/10.1080/14647893.2017.1391194

Clegg, H., Owton, C., & Allen-Collinson, J. (2019). Attracting and Retaining Boys in Ballet: a qualitative study of female dance teachers. Journal of Dance Education, 19(4), 158-167. https://doi.org/10.1080/15290824.2018.1472381

Cohen, A. (1979). Antropología política: el análisis del simbolismo en las relaciones de poder. In J. Llobera (ed). Antropología política (pp 53-83). Barcelona: Editorial Anagrama.

Connell, R. (1995). Políticas da masculinidade. Educação & Realidade, 20(2), 185-206.

Connell, R., & Messerschmidt, J. (2005). Hegemonic Masculinity: rethinking the Concept. Gender & Society, 19(6), 829-859. https://doi.org/10.1177/0891243205278639

DaMatta, R. (1978). O ofício do etnólogo, ou como ter Anthropological blues. Boletim do Museu Nacional, 27, 1-12.

Devide, F. P., & Votre, S. J. (2005). Doping e mulheres nos esportes. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 27(1), 123-138.

Elias, N., & Scotson, J. (2000). Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Elliot, K. (2016). Caring masculinities: theorizing an emerging concept. Men and masculinities, 19(3), 240-259. https://doi.org/10.1177/1097184X15576203

El País. (2020). Tamara Rojo. Disponível em: . Acesso em 20 abr. 2020.

Fisher, J. (2014). Why ballet men do not stand on their toes (but Georgian men do). The World of Music, 3(2), 59-77.

Flood, M. (2008). Men, Sex, and Homosociality: How bonds between Men Shape Their Sexual Relations with Women. Men and Masculinities, 10, 339-359. https://doi.org/10.1177/1097184X06287761

Fortes, M. S. R., Marson, R. A., & Martinez, E. C. (2015). Comparação de desempenho físico entre homens e mulheres: revisão de literatura. Revista Mineira de Educação Física, 23(2), 54-69.

Furlan, C. C., & Santos, P. L. (2008). Futebol feminino e as barreiras do sexismo nas escolas: reflexões acerca da invisibilidade. Motrivivência, 20(30), 28-43. https://doi.org/10.5007/2175-8042.2008n30p28

Hanna, J. (1999). Dança, sexo e gênero: signos de identidade, dominação, desafio e desejo. Rio de Janeiro: Rocco.

Jackson, S. (2006). Gender, sexuality and heterosexuality: the complexity (and limits) of heteronormativity. Feminist Theory, 7(1), 105-121. https://doi.org/10.1177/1464700106061462

Kealiinohomoku, J. (2013). Uma antropóloga olha o ballet clássico como uma forma de dança étnica. (Trad. Giselle G. A. Camargo). In G. A. Camargo (org). Antropologia da Dança I (pp. 123-142). Florianópolis: Insular.

Koutsouba, M. (1999). ‘Outsider’ in an ‘Inside’ World, or Dance Ethnography at Home. In T. J. Buckland (ed). Dance in the Field: theory, methods, and issues in dance ethnography (pp. 186-195). Londres: Macmillan.

Lara, T. C. M. (2018). Quando dançam os homens: construções de gênero e masculinidades entre bailarinos em Belo Horizonte e Viçosa (MG) (Tese de Doutorado). Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Le Breton, D. (2013). Adeus ao corpo: antropologia e sociedade. Campinas: Papirus.

Leite, L. C. M. (2007). O foco narrativo. São Paulo: Ática.

Litman, J., & Pezzo, M. (2004). Individual differences in attitudes towards gossip. Personality and Individual Differences, 38, 963-980. https://doi.org/10.1016/j.paid.2004.09.003

Lopes, C. R. R. (2011). Masculinidade em Rose: gays efeminados/homens discretos. Métis: história & cultura, 10(20), 165-184.

Lopes, J. S. (2016). Sobre as pontas dos pés: considerações a respeito do ensino do balé clássico, do seu imaginário e da saúde (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

Magnani, J. G. C. (2000). Quando o campo é a cidade: fazendo antropologia na cidade. In J. G. C. Magnani, & L. L. Torres (eds). Na Metrópole: textos de antropologia urbana. (pp 12-53). São Paulo: Editora da Universidade de São

Paulo/Fapesp.

Magnani, J. G. C. (2009). Etnografia como prática e experiência. Horizontes Antropológicos, 15(32), 129-156. https://doi.org/10.1590/S0104-71832009000200006

Marcus, G. (1991). Identidades passadas, presentes e emergentes: requisitos para etnografias sobre a modernidade no final do século XX ao nível mundial. Revista de Antropologia, 34, 197-221. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.1991.11301

Marques, A. C., & Villela, J. M. (2005). O que se diz, o que se escreve: etnografia e trabalho de campo no sertão de Pernambuco. Revista de Antropologia, 48(1), 37-74. https://doi.org/10.1590/S0034-77012005000100002

Medina, J., Ruiz, M., Almeida, D., Yamaguchi, A., & Marchi Júnior, W. (2008). As representações na dança: uma análise sociológica. Movimento, 14(2), 99-113. https://doi.org/10.22456/1982-8918.2106

Montero, P. (1991). Reflexões sobre uma Antropologia das sociedades complexas. Revista de Antropologia, 34, 103-130. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.1991.111255

Montes, V. (2013). The Role of emotions in the construction of masculinity: Guatemalan Migrant Men, Transnational Migration, and Family Relations. Gender & Society, 27(4), 469-490. https://doi.org/10.1177/0891243212470491

Nascimento e Silva, D. G. (2017). Corpo-Escrita no balé: para repensar o corpo doce da bailarina da caixinha de música em uma pesquisa em educação e arte (Tese de Doutorado). Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.

Nascimento, R. N. F., & Figueiredo, M. P. M. (2021). Ações e reações da escola diante de masculinidades hegemônicas e não hegemônicas: um olhar antropológico. Campos, 22(1), 49-68. https://doi.org/10.5380/cra.v22i1.74199

Oliveira, R. C. (1996). O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. Revista de Antropologia, 39(1), 13-37. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.1996.111579

Peixoto, F. A. (2011). O olho do etnógrafo. Sociologia & Antropologia, 1(2), 195-215. https://doi.org/10.1590/2238-38752011v129

Pickard, A. (2013). Ballet body belief: perceptions of an ideal ballet body from young ballet dancers. Research in Dance Education, 14(1), 3-19. http://dx.doi.org/10.1080/14647893.2012.712106

Polasek, K., & Roper, E. (2011). Negotiating the gay male stereotype in ballet and modern dance. Research in Dance Education, 12(2), 173-193. https://doi.org/10.1080/14647893.2011.603047

Ravaldi, C., Vannacci, A., Bolognesi, E., Mancini, S., Faravelli, C., & Ricca, V. (2006). Gender role, eating disorder symptoms, and body image concern in ballet dancers. Journal of Psychosomatic Research, 61, 529-535. https://doi.org/10.1016/j.jpsychores.2006.04.016

Richardson, N. (2016). “‘Whether you are gay or straight, I don’t like to see effeminate dancing’: effeminophobia in performance-level ballroom dance.” Journal of Gender Studies, 27(2), 207-219. https://doi.org/10.1080/09589236.2016.1202105

Risner, D. (2014). Bullying victimisation and social support of adolescent male dance students: an analysis of findings. Research in dance education, 15(2), 179-201. https://doi.org/10.1080/14647893.2014.891847

Robinson, V., Hall, A., & Hockey, J. (2009). Masculinities, sexualities, and the limits of subversion: being a man in hairdressing. Men and Masculinities, 14(1), 31-50. https://doi.org/10.1177/1097184X09354857

Sartre, M. (2013). Virilidades gregas. In A. Corbin, J. Courtine, & G. Vigarello (eds). História da virilidade: a invenção da virilidade – da Antiguidade às Luzes (pp. 17-70). Petrópolis: Vozes.

Silva, H. R. S. (2009). A situação etnográfica: andar e ver. Horizontes Antropológicos, 15(32), 171-188. https://doi.org/10.1590/S0104-71832009000200008

Strathern, M. (2016). Revolvendo as raízes da antropologia: algumas reflexões sobre “relações”. Revista de Antropologia, 59(1): 224-257. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2016.116918

Thuillier, J. (2013). Virilidades romanas: vir, virilitas, virtus. In A. Corbin, J. Courtine, & G. Vigarello (eds). História da virilidade: a invenção da virilidade – da Antiguidade às Luzes (pp. 71-124). Petrópolis: Vozes.

Veiga, F. B. (2012). A dança das regras: a invenção dos estatutos e o lugar do respeito nas gafieiras cariocas. Antropolítica, 33(2), 51-71.

Wacquant, L. (2002). Corpo e alma: notas etnográficas de um aprendiz de boxe. Rio de Janeiro: Relume Dumará.

Wulff, H. (2008). Ethereal expression: paradoxes of ballet as a global physical culture. Ethnography, 9(4), 518-535. https://doi.org/10.1177/1466138108096990




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cra.v23i2.84679

Apontamentos

  • Não há apontamentos.