Urbanização e diversidade: endemias, males cardiovasculares e escravidão (Rio de Janeiro e Niterói, 1838-1875)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/cra.v23i2.83261

Palavras-chave:

enfermidades cardiovasculares, escravidão, urbanização, tráfico interno

Resumo

Pesquisa-se o impacto das doenças cardiovasculares no Rio de Janeiro do século XIX. Elas tiveram impacto maior no ambiente urbano, menor em áreas transitivas entre o rural e o urbano, e menor ainda no ambiente nitidamente rural. Esse impacto também foi crescente ao longo da segunda metade do século XIX, o que se ligava, na cidade, à redução da importância dos males endêmicos, mesmo que não dos epidêmicos. Quanto aos sujeitados ao cativeiro, a maior incidência se devia, na cidade, ao impacto do tráfico interno de pessoas escravizadas, que mudou a estrutura etária dessa população. A análoga superexposição de libertos, libertas e descendentes livres de gente escravizada devia-se, muito provavelmente, à especificidade da dieta de pobres em situação de mobilidade social. Apesar de, na contemporaneidade das discussões entre historiadores e médicos, os debates sobre sistemas circulatórios envolverem os problemas dos choques étnicos e civilizacionais, explicações baseadas na herança de processos adaptativos africanos são inadequadas: na década de 1850, não havia nenhuma diferença na incidência entre pessoas escravizadas e provavelmente brancas.

Biografia do Autor

Carlos Alberto Medeiros Lima, Universidade Federal do Paraná, Departamento de História

Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Professor Titular da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

 

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Publicado

2022-12-21

Como Citar

Lima, C. A. M. (2022). Urbanização e diversidade: endemias, males cardiovasculares e escravidão (Rio de Janeiro e Niterói, 1838-1875). Campos - Revista De Antropologia, 23(2), 100–122. https://doi.org/10.5380/cra.v23i2.83261

Edição

Seção

Artigos