Open Journal Systems

Amansar inimigos: práticas de predação feminina e a consanguinização da alteridade

Patricia Carvalho Rosa

Resumo


Para interlocutores Ticuna casar e constituir conjugalidade são formas particulares de expressar as relações entre pessoas e suas capacidades agentivas, fazendo aparecer domínios generizados de socialidades através dos quais observamos operar regimes complexos de saberes, estruturas de troca e de etiquetas políticas. Ao examinar o processo matrimonial de Constância, este texto lança luzes sobre modos ticuna de administrar relações de parentesco, especificamente aquelas mobilizadas pelas capacidades predatórias femininas relacionadas à domesticação de uma categoria de afinidade potencial interétnica em um genro verdadeiro. A partir dessa situação etnográfica apresenta-se uma formulação inicial sobre práticas femininas de consanguinização de pontos de vista outros, acompanhando, para isso, os sentidos contidos nas ações de amansar marido, alterando antigos inimigos em bons esposos.

Palavras-chaves: mulheres ticuna; predação familiarizante; gênero; aliança


Palavras-chave


Antropologia, Etnologia Indígena

Texto completo:

PDF

Referências


Archambault, Julie S. 2016. “Taking love seriously in human-plant relations in Mozambique: toward an anthropology of affective encounters”. In Cultural Anthropology, Vol. 31, Issue 2, pp. 244–271.

Albert, Bruce. 1985. Temps Du Sang, Temps des Cendres. Représentation de la maladie, système rituel et espace politique chez les Yanomani du sud-est. Tese de Doutorado. Laboratoire d'ethnologie et de sociologie comparative. Universitéde Paris X.

Belaunde, Luisa. E. 2001. Viviendo Bien: Género y Fertilidad entre los Airo-Pai de la Amazonia Peruana. Lima, CAAAP / BCRP.

De la Cadena, Marisol. 2010. “Indigenous Cosmopolitics in the Andes: Conceptual Reflections Beyond ‘Politics’. In Cultural Anthropology Vol. 25, no. 2: 334–70. http://dx.doi.org/ 10.1111/j.1548-1360.2010.01061. x.

De la Cadena, Marisol. 2015. Earth beings: ecologies of practice across Andean worlds. Duke University Press.

Descola, Philippe. 2001. “The gender of gender: local models and global paradigms in the comparison of Amazonia and Melanesia”. p. 91-114 in Gender in Amazonia and Melanesia. An exploration of the comparative method. (Orgs.) Gregor, T. A & Tuzin, D. Berkeley: University of California.

Fausto, Carlos. 2001. Inimigos fiéis: história, guerra e xamanismo na Amazônia. São Paulo: EDUSP.

Goulard, Jean-Pierre. 1998a. Les genres du Corps: conceptions de la personne chez les Ticuna de haute Amazonia. Tese de Doutorado, Departamento de Antropologia e Etnologia, École de Hautes Etudes em Sciences Sociales, Paris.

Goulard, Jean-Pierre; Barry, L.S. 1998b. “Un mode de composition de l'alliance: le mariage oblique'ticuna”. Journal de la Société des Américanistes, 84-1, p: 219-236.

Goulard, Jean-Pierre 2009. Entre Mortales e Inmortales.El ser Ticuna de la Amazonía. Centro Amazónico de Antropología y Aplicación Práctica (CAAAP). Instituto Francés de Estudios Andinos.

Hugh-Jones, Christine. 1979. From the milk river: spatial and temporal processes in Northwest Amazonia. Cambridge: Cambridge University Press.

Lagrou, Else. 2007. A fluidez da forma: arte, alteridade e agência em uma sociedade amazônica (Kaxinawa, Acre). Rio de Janeiro, RJ: Topbooks.

Lasmar, Cristiane. 1999. “Mulheres Indígenas: Representações”. Estudos feministas. Dossiê Mulheres indígenas. Vol. 7 N° 1. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas /UFSC. Florianópolis. Pp: 143-153.

Lasmar, Cristiane. 2005. De volta ao Lago do Leite: gênero e transformação no Alto Rio Negro. Rio de Janeiro, RJ: NUTI.

Lasmar, Cristiane. 2008. “Irmã de índio, mulher de branco: perspectivas femininas no alto rio Negro”. Mana, vol.14, no.2, p.429-454.

Lea, Vanessa. 2001. “Parentesco enquanto uma elaboração sócio-cultural da percepção do dimorfismo sexual humano”. Texto apresentado na ANPOCS/ Seminário Temático: Sexualidade, reprodução, filiação.

Lea, Vanessa. 1999 “Desnaturalizando gênero na sociedade Mebengokre”. Estudos feministas. Dossiê Mulheres indígenas. Vol. 7 N° 1. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas /UFSC. Florianópolis. Pp: 176-194.

Lévi-Strauss, Claude. 1993[1991]. História de Lince. São Paulo, SP: Companhia das Letras.

Lévi-Strauss, Claude. 2011[1947]. As estruturas elementares do parentesco. São Paulo, SP: Vozes.

Lima, Tania. S. 2005. Um peixe olhou para mim. O povo Yudjá e a perspectiva. São Paulo: ISA/ Editora Unesp/ NuTI.

López Garcés. Claudia. 2003. “Etnicidad y nacionalidad em la frontera entre Brasil, Colombia y Peru. Los Ticunas frente los processos de nacionalidade”. In: Fronteiras, Territorios e Metaforas. Ed. García, Clara Inés. Instituto de Estudios Regionales, INER, Universidad de Antioquia. Medellín. p. 147- 160.

Macedo, Guilherme M. 1996. “A conversão Cristã e a Identidade Ticuna: a trajetória de Campo Alegre”, pp. 175-194. In Os Ticuna hoje. Manaus Editora/UFAM. Manaus.

Mccallum, Cecilia. 2001. Gender ande Sociality in Amazonia. How Real People are made. Oxford Press.

Mccallum, Cecilia. 2002. “Inimigos fiéis: história, guerra e xamanismo na Amazônia”. Mana, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 195-198, Oct.

Medeiros, Augusto K. M. 2013. Direitos indígenas entre fronteiras: cidadania, presença e mobilidade ticuna na tríplice fronteira do Brasil, Colômbia e Peru. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós- Graduação em Direito Ambiental – PPGDA / Escola Superior em Ciências Sociais / Universidade do Estado de Manaus.

Montes Rodríguez, Maria Emilia. 2004. Morfosintaxis de la lengua tikuna: Amazonía Colombiana. Bogotá: Universidad de los Andes, Facultad de Ciencias Sociales, Departamento de Antropología, Centro Colombiano de Estudios de Lenguas Aborígenes, Centro de Estudios Socioculturales e Internacionales, Ediciones Uniandes.

Nimuendaju, Curt. The Tukuna. 1972[1952]. UCPAAE, Vol. 45, Berkeley. Los Ángeles.

Oliveira Filho, João. P. 1988. Nosso Governo: os Ticuna e o regime tutelar. São Paulo: Marco Zero.

Rosa, Patricia C. 2013. “Romance de primas com primas e o problema dos afetos: parentesco e micropolítica de relacionamentos entre interlocutores tikuna, sudoeste amazônico”. Cadernos Pagu (41):77-85. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-83332013000200008.

Rosa, Patricia C. 2015. Das misturas de palavras e histórias: etnografia das micropolíticas de parentesco e os “muitos jeitos de ser Ticuna”. Tese de Doutorado, Departamento de Antropologia Social, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Rosa, Patricia C. 2016. “Do “sexo malfeito”. Transformações morais e dispositivos de sexualidade indígena”. Aceno 3(5):73-93.

Rosa, Patricia C. 2019. “Sobre as diferentes formas de habitar as normas e ativar modulações no parentesco: um caso ticuna”. Amazônica - Revista de Antropologia, [S.l.], v. 11, n. 2, dez. DOI: http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v11i2.7497

Santos, Julia. 2019. “Sobre mulheres brabas: ritual, gênero e perspectiva”. Amazônica - Revista de Antropologia, [S.l.], v. 11, n. 2, dez. DOI: http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v11i2.7643

Overing, Joanna. 1983/84. ‘Elementary Structures of Reciprocity: a comparative note con guianese, central brazilian andnorth-weat amazon socio-political thought’. In Antropológica 59-62: 331-348.

Overing, Joanna. 1986. “Images os cannibalism, death and domination in a ‘non-violent’ society”. Journal de la Société des Américanistes, n. 72, p. 133-156.

Overing, Joanna. 2002. “Estruturas elementares da reciprocidade”. Revista Cadernos de Campo. Brasil, v.10, n.10. pp. 117-138.

Porro, Antônio. 1992. As crônicas do rio Amazonas. Notas etno-históricas sobre as antigas populações indígenas da Amazônia. Vozes, Petrópolis/Rio de Janeiro.

Santos Angarita, Abel. 2010. “Narración tikuna del origen del territorio y de los humanos”. Mundo Amazónico. Vol. 1, Instituto Amazónico de Investigación (IMANI). Universidad Nacional de Colombia, Sede Amazonia. Leticia, Colômbia.

Santos Angarita, Abel. 2013. Percepción tikuna de Naane y Naüne: territorio y cuerpo. Tesis de Mestrsda em Estudos Amazônicos, Universidad Nacional da Colômbia, Leticia, Colômbia

Strathern, Marilyn. 1992. “Parts and wholes: refiguring relationships in a post-plural world”. pp. 74-104. in Conceptualizing society, (orgs.) Adam Kuper. Londres/Nova York, Routledge.

Strathern, Marilyn. 2001. “Same-Sex and Cross-Sex Relations. Some Internal Comparisons”. p. 221-242. In Gender in Amazonia and Melanesia: an exploration of the comparative method. (ed.). TUZIN, Donald F. Berkeley: University of California.

Vilaça, Aparecida. 2006. Quem somos nos: os Wari' encontram os brancos. Rio de Janeiro, RJ: Editora da UFRJ.

Viveiros de Castro, Eduardo. 1995. Antropologia do parentesco: estudos ameríndios. Rio de Janeiro, RJ: Editora da UFRJ.

Viveiros de Castro, Eduardo. 1996. “Images of nature and society in Amazonian ethnology”. Annual Review of Anthropology, 25:179-200.

Viveiros de Castro, Eduardo. 2002a. “O problema da afinidade na Amazônia”. p. 87-180, in A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac & Naif Edições.

Viveiros de Castro, Eduardo. 2002b. “Atualização e contra-efetuação do virtual: o processo do parentesco”, p. 401-455, in A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac & Naif Edições.

Viveiros de Castro, Eduardo. 2004. “Perspectival anthropology and the method of controlled equivocation. Tipiti, v. 2, n. 1, p. 3-22.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cra.v22i2.79066

Apontamentos

  • Não há apontamentos.