Open Journal Systems

O papel das atribuições na constituição da hierarquia kadiwéu: uma análise das distinções eyiguayegui

Gabriela de Carvalho Freire

Resumo


O artigo revisita os escritos de agentes coloniais acerca dos Eyiguayegui e dos Guaná – de quem os atuais Kadiwéu e Terena se autodenominam descendentes – e de sua suposta hierarquia. Por meio da leitura dessas fontes em conjunto com reflexões antropológicas contemporâneas sobre os Kadiwéu, populações do Chaco e outros povos ameríndios, pretendo apresentar o papel das diferentes atribuições na construção das distinções entre aqueles que as fontes denominam “senhores”, “escravos” e “servos”, e até mesmo entre homens e mulheres. Noções de trabalho e de âmbitos público e doméstico são mobilizados na discussão, que reflete acerca das assimetrias e das relações de gênero principalmente entre os Eyiguayegui e Kadiwéu.

Palavras-chave


Gran Chaco; Kadiwéu; Terena; Assimetrias; Formas políticas ameríndias

Texto completo:

PDF

Referências


FONTES HISTÓRICAS

Aguirre, D. J. F.. ([1793] 1898). Etnografía del Chaco. Manuscrito del Capitán de Fragata D. Juan Francisco Aguirre. Boletin del Instituto Geográfico Argentino, tomo XIX. Buenos Aires, Local del Instituto.

Almeida Serra, R. F.. (1844). Extracto da Descripção da Provincia de Mato-Grosso, feita em 1797, feita por Ricardo Franco de Almeida Serra, Sargento-Mór de Engenheiros. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, v. 6 (pp. 156 - 196).

Almeida Serra, R. F.. (1845). Parecer sobre o aldeamento dos índios Uiacurús e Guanás com a descripção dos seus usos, religião, estabilidade e costume.” in Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v.7 (pp. 196-208).

Almeida Serra, R. F.. (1850). Continuação do parecer sobre os índios Uaicurús e Guanás. In Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v. 13 (pp. 348-395).

Azara, F.. ([1809] 1923). Viajes por la América Meridional, v. I. Madrid: Calpe.

Boggiani, G. ([1895] 1975). Os caduveos. Belo Horizonte, Editora Itatiaia.

Cabeza de Vaca, A. N.. ([1555] 1987). Naufrágios e Comentários. Porto Alegre: L&PM Editores.

Caceres, L.A.M.. (1865). Exploração do Rio Paraguay e Primeiras Práticas com os índios Guaikurús Revista Trimensal do Instituto Histórico Geográfico e Ethnographico do Brasil, tomo XXVIII (p. 70-117).

Castelnau, F.. ([1850] 1949). Expedição às Regiões Centrais da América do Sul. São Paulo: Coleção Brasiliana.

Debret, J B. (1834-1839). Voyage pittoresque et historique au Brésil: séjour d’um artiste français au Brésil, depuis 1816 jusqu’en 1831. Paris: Firmin Didot DEBRET, J. B. ([1834] 1972). Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. São Paulo: EdUSP, 2 v.

Debret, J. B. ([1834] 1972). Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. São Paulo: EDUSP, 2 v.

Dobrizhoffer, M. ([1784] 1970). Historia de los Abipones. Santa Fe: Universidad Nacional del Litoral.

Lozano, P. (1873). Historia de la conquista del Paraguay, Rio de la Plata y Tucuman. Buenos Aires: Casa Editora Imprenta Popular.

Paucke, F. ([1743-1767] 1942-1944). Hacia allá y para acá. Una estada entre los mocovíes. Tucumán/Buenos Aires: Universidad Nacional de Tucumán/Institución Cultural Argentino-Germana.

Rengger, J. R.. (2010). Viaje al Paraguay en los años 1818 a 1826. Assunção: Tiempo de Historia,

Rivasseau, E. ([1936] 1941). A vida dos Indios Guaycurús: Quinze dias nas suas aldeias. São Paulo: Companhia Editora Nacional.

Rodrigues do Prado, F. (1795). "História dos Índios Cavalleiros ou da Nação Guaycurú". Revista do Instituto Hisórico e Geográfico Brasileiro, v. I.(pp. 25-57).

Sánchez-Labrador, J. ([1770-1776] 1910). El Paraguay Católico. Buenos Aires, 2 v.

Schmidel, U. ([1602] 1986). Relatos de la conquista del Rio de la Plata y Paraguay 1534-1554. Madrid: Alianza Editorial.

Taunay, A.E.. (1931). Entre os nossos índios: entre Chanés, Terenas, Kinikinaus, Guanás, Laianas, Guatós, Guaycurús, Caingangs. São Paulo: Editora Melhoramentos.

Taunay, A.E. . (1874). “De Ierecê a Guaná”. In: DINARTE, Silvio (org.). Histórias Brazileiras. Rio de Janeiro.

BIBLIOGRAFIA

Carneiro da Cunha, M. (1978). Os mortos e os outros. Uma análise do sistema funerário e da noção de pessoa entre os índios Krahó. São Paulo: Hucitec.

Clastres, P. (1974). La société contre l’État: Recherches d’anthropologie politique. Paris: Éditions de Minuit.

Clastres, P. ([1974] 2003). A sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac Naify.

Clastres, P. ([1980] 2004). Arqueologia da Violência: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac Naify.

Coelho de Souza, M. (2004). Parentes de Sangue: incesto, substância e relação no pensamento Timbira. Mana v. 10, Rio de Janeiro. https://doi.org/10.1590/S0104-93132004000100002

Combès, I, Lowrey, K & Villar, D. (2009). Comparative studies and the South American Gran Chaco. Tipití v. 1 n. 1 (pp. 69-102). Disponível em https://digitalcommons.trinity.edu/tipiti/vol7/iss1/3/.Último acesso em 13/04/2021.

Cordeu, E. J. Los Tomaraxo del Chaco Boreal y los “indios caballeros” (caduveo). Aportes para la etnohistoria de un sistema intertribal. In: M. S. Cipoletti (org.) Los mundos de abajo y los mundos de arriba. Individuo y sociedad en las tierras bajas, en los Andes y más allá. Quito: Abya-Yala, 2004 (pp. 276-312).

Désy, P. (1993). The Berdaches: “Man-Woman in North-America”. Classiques des Sciences Sociales – UQAC. Disponível em http://classiques.uqac.ca/contemporains/desy_pierrette/the_berdaches/desy_the_berdaches_pp.pdf

Domínguez, M. E.. (2020). Um lugar onde se achar. Deslocamentos e rituais entre os Guarani do Chaco boreal paraguaio. Revista de Antropologia v. 63 n. 2. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2020.172072

Duran, M R C. (2016). Leituras antropológicas sobre a arte kadiwéu. Cadernos de Campo v. 24.. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v24i24p43-70

Freire, G. C. (2018). Distinções eyiguayegui (Dissertação de Mestrado). Universidade de São Paulo, São Paulo.

Guerreiro Jr., A. (2012). Ancestrais e suas sombras: uma etnografia da chefia kalapalo e seu ritual mortuário (Tese de Doutorado). Universidade de Brasília, Brasília.

Herberts, A. L. (2011). Panorama histórico dos Mbayá-Guaikuru entre os séculos XVI e XIX. In: G. José da Silva. (org) Kadiwéu: Senhoras da arte, senhores da guerra (pp. 17-47). Curitiba: Editora CRV.

José da Silva, G. (2004). A construção física, social e simbólica da Reserva Indígena Kadiwéu: memória, identidade e história (Dissertação de Mestrado). Universidade de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso do Sul.

José da Silva, G (org.). (2011). Kadiwéu: Senhoras da arte, senhores da guerra. Curitiba: Editora CRV.

JOSÉ DA SILVA, G & KOK, M (org.). (2014). Kadiwéu: Senhoras da arte, senhores da guerra v. II. Curitiba: Editora CRV.

Lecznieski, L. (2005). Estranhos laços: presação e cuidado entre os Kadiwéu (Tese de Doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Lévi-Strauss, C. ([1955] 1996). Tristes Trópicos. São Paulo: Companhia das Letras. “Parte V – Cadiueu” “Nalike” (pp. 163-210).

Lowie, R. (1948). Social and Political Organization of the Tropical Forest and Marginal Tribes. In: J. Steward (ed.). Handbook of South American Indians, v. 5. Washington D.C.: Government Printing Office.

Melatti, J. C. (1979). The relationship system of the Krahó. In D. Maybury-Lewis (ed.), Dialectical Societies: The Ge and Bororo of Central Brazil. Cambridge: Harvard University Press (pp. 46-79).

Métraux, A. (1946). Ethnography of the Chaco. In: J. Steward. Handbook of South American Indians: The Marginal Tribes, v. I. New York, Cooper Square Publishers.

Nino, B. (1912). Etnografia chiriguana. La Paz: tipografia comercial I. Argote.

Padilha, S. (1996). A arte como trama do mundo: corpo, grafismo e cerâmica Kadiwéu (Dissertação de Mestrado). Universidade de Brasília, Brasília.

Pechincha, M. (1994). Histórias de admirar: mito, rito e história kadiwéu (Dissertação de Mestrado). Universidade de Brasília, Brasília.

Perrone-Moisés, B. (2015). Festa e Guerra (Tese de Livre-Docência). Universidade de São Paulo, São Paulo.

Perrone-Moisés, B. & Lolli, P.. (2017). A ilusão hierárquica nas Américas. Ms.

Radin, P. (1946). Indians of South America. New York: Doubleday & Company, Inc.

Ribeiro, D. (1980a). Kadiwéu: ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza. Rio de Janeiro: Petrópolis.

Ribeiro, D. (1980b). Sistema familial kadiwéu. In Uirá sai à procura de Deus: ensaios de etnologia e indigenismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Santos-Granero, F. (2009). Vital enemies: slavery, predation and the Amerindian Economy of Life. Austin: University of Texas Press.

Santos-Granero,F. (2016). Masters, slaves and real people: native understandings of ownership and humaneness in Tropical American Capturing Societies. In M. Brightman, C. Fausto & V. Grotti (ed.) Ownership and nurture: studies in native Amazonian property relations. New York: Oxford, Berghan Books.

Seeger, A. (1981). Nature and society in central Brazil: The Suya Indians of Mato Grosso. Cambridge: Harvard University Press.

Siqueira Jr, J. (1992a). Arte e técnica kadiwéu. São Paulo: Secretaria de Cultura.

Siqueira Jr, J. (1992b). A iconografia kadiwéu atual. In: L. Vidal (org.) Grafismo indígena: estudos de antropologia estética. São Paulo: EdUSP.

Siqueira Jr, J. (1993). Essa terra custou o sangue de nossos avós: a construção do tempo e espaço Kadiwéu Paulo (Dissertação de Mestrado). Universidade de São Paulo, São Paulo.

Susnik, B. (1972). Dimensiones migratorias y pautas culturales de los pueblos del Gran Chaco y de su periferia (enfoque etnológico). Asunción: Universidad Católica Nuestra Señora de la Asunción.

Tola, F. C.. (2013). Introdución. Acortando distancias: El Chaco, la antropologia y la antropologia del Chaco. In Ontologia, poder, afectividad. Buenos Aires: Rumbo Sur, Colección etnográfica.

Villar, D. (2011). RENNGER, Johann Rudolph, Viaje al Paraguay en los años 1818 a 1826. Journal de la Societé des americanistes, 97-2. Disponível em http://journals.openedition.org/jsa/11997. Acesso em 08/03/2021

Villar, D. (2013). Modelos de liderazgo ameríndio. In Al pie de los Andes. Estudios de etnología, arqueología y historia. Cochabamba: Itinerarios Editorial.

Vitar, B. (2001). Las mujeres chaqueñas en las reducciones fronterizas del Tucumán: entre la tradición y el cambio (siglo XVIII). Anuario IEHS: Instituto de Estudios Historicos y Sociales v. 16.

Viveiros de Castro, E. B. (1979). A fabricação do corpo na sociedade xinguana. Boletim do Museu Nacional, Série Antropologia, n. 32 (pp. 40-49).

Viveiros de Castro, E. B. (1983). Hierarquia e simbiose em questão. Anuário Antropológico, 81, 252-262. https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6200

Viveiros de Castro, E. B. (1996). Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Mana, 2(2), 115-144. https://doi.org/10.1590/S0104-93131996000200005

Viveiros de Castro, E. B . (2002). A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac Naify.

Viveiros de Castro, E. B . (2004). Posfácio: O intempestivo, ainda. In .CLASTRES, P., Arqueologia da violência: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac Naify.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cra.v22i1.74987

Apontamentos

  • Não há apontamentos.