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Disputas por modos de reconhecimento em políticas afirmativas no Ensino Superior brasileiro

Judit Gomes da Silva

Resumo


Neste artigo, problematizo as disputas ocorridas em diferentes momentos acerca dos mecanismos de reconhecimento de pessoas autodeclaradas negras e indígenas para o ingresso estudantil na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por meio de políticas afirmativas. Busco evidenciar o modo como, em 2013, coletivos de estudantes negras e indígenas tensionaram a decisão do Conselho Universitário sobre as comissões de validação de autodeclaração. Em 2017, esses coletivos voltaram a se mobilizar em torno de nova decisão do Conselho a esse respeito, porém, em assembleias estudantis e audiência pública. Trata-se de uma etnografia baseada em trabalho de campo realizado na UFSC entre 2017 e 2018, bem como na observação das sessões do Conselho que trataram das políticas afirmativas, disponíveis on-line, no período de 2012 a 2017. As disputas evidenciaram os agenciamentos desses estudantes pelo controle da política e suas perspectivas distintas em relação aos modos de reconhecimento.

 

 


Palavras-chave


Ensino Superior; Políticas Afirmativas; Comissões de Validação de Autodeclaração; Modos de Reconhecimento; Direito à Educação; Processos de Decisão

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cra.v22i1.74201

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