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Ações e reações da escola diante de masculinidades hegemônicas e não hegemônicas: um olhar antropológico

Raimundo Nonato Ferreira Do Nascimento, Marcos Paulo Magalhães De Figueiredo

Resumo


Durante a década de 1990, com o avanço das políticas públicas de inclusão, a escola pública brasileira foi incitada a contemplar em seus conteúdos o debate sobre sexualidade. Contudo, as diferenças de gênero e sexualidade permanecem sendo suprimidas pela escola, seja de forma sublime ou bem explícita. A partir dessa realidade e com base em uma observação participante, o artigo pretende analisar como a escola, em seus discursos normatizadores, contribui com os processos de construção e afirmação das masculinidades hegemônicas, na corporalidade dos estudantes e, consequentemente, em suas identidades. Pretendemos demonstrar como as concepções cristalizadas de uma masculinidade hegemônica produzida na e pela escola destoam da realidade discente, marcada por uma diversidade sexual e de gênero. No trabalho de campo constatamos dois tipos de masculinidades vistos enquanto ameaça, o estudante extremamente viril e violento e o estudante visto como demasiadamente feminino. Podemos concluir que a pauta do gênero na educação mobiliza as relações de desigualdade e aciona dispositivos de regulação, visando a enquadrar os estudantes em um padrão hegemônico de masculinidade, considerado salutar pela escola.


Palavras-chave


Masculinidades; Corporalidades; Educação e Diversidade; Sexualidade

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cra.v22i1.74199

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