Open Journal Systems

Briga de galos no Maranhão: didáticas através de apropriações de textos de antropologia

Luiz Couceiro

Resumo


Entre julho de 2014 e janeiro de 2015, lecionei Laboratório de Ensino de Ciências Sociais no município de Codó (MA), pelo Programa de Formação de Professores para Educação Básica (Profebpar) existente na Universidade Federal do Maranhão. Ao saberem que era antropólogo, contudo, os alunos pediram que fizesse um “resumo de antropologia”, pois alegavam que não “haviam entendido” essa disciplina. De improviso, como estratégia pedagógica, abordei processos de construção de classificação social através de discussões entre natureza e cultura, costurando vários autores-exemplares de tipos de antropologia. Os alunos riram das interpretações de Clifford Geertz sobre briga de galos, e foi quando descobri que eram familiarizados com esse universo. Nesse texto, analiso qual foi o lugar das experiências dos alunos nas suas leituras pragmáticas dos textos, influenciando as dinâmicas de ensino-aprendizagem de antropologia.

Palavras-chave


ensino de Antropologia; etnografia; metodologia do ensino; formação docente; processo de ensino-aprendizagem.

Texto completo:

PDF

Referências


Abu-Lughod, L. (1986). Veiled sentiments: honor and poetry in a Bedouin Society. Berkeley, Los Angeles: University of California Press.

Amit, V. (ed). (2000). Construct the field: ethnographic fieldwork in the contemporary world. London, New York: Routledge.

Assunção, M. R. (2008). A guerra dos Bem-te-vis: a Balaiada na memória oral. São Luís: EdUFMA.

Assunção, M. R. (2015). De caboclos a bem-te-vis. Formação do campesinato numa sociedade escravista: Maranhão, 1800-1850. São Paulo: Annablume.

Biondi, K. (2010). Junto e misturado: uma etnografia do PCC. São Paulo: Editora Terceiro Nome.

Boas, F. (2004a). Raça e progresso. In C. Castro (org). Franz Boas: Antropologia Cultural (pp. 67-86). Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Boas, F. (2004b). Antropologia. In G. W. Stocking Jr. (org). A formação da antropologia americana (1883-1911): Antologia/Franz Boas (pp. 323-340). Rio de Janeiro: Contraponto, Editora UFRJ.

Borges, A. (2016). República das mangas ou sobre o amargo gosto de tudo o que amadurece à força. Revista Pós Ciências Sociais, 13(25), 21-42. https://doi.org/10.18764/2236-9473.v13n25p21-42

Bourdieu, P. (1996). Economia das trocas linguísticas: o que falar quer dizer. São Paulo: EdUSP.

Bourdieu, P. (2012). As contradições da herança. In M. A. Nogueira, & A. Catani. Escritos de educação (pp. 229-237). 13ª ed. Petrópolis: Vozes.

Bourdieu, P., & Passeron, J. (2009). Los herderos: los estudiantes y la cultura. 2ª ed. Buenos Aires: Siglo Veintiuno.

Bowler, P. J. (2003). Evolution: The History of an Idea. Berkeley: University of California Press.

Caplan, P. (2003). Introduction: anthropology and ethics. In P. Caplan (ed). The Ethics of Anthropology: debates and dilemmas (pp. 1-33). New York: Routledge. https://doi.

org/10.4324/9780203633670

Cassirer, E. (1997). A filosofia do Iluminismo. 3 ed. Campinas: Editora da UNICAMP.

Clifford, J., & Marcus, G. (eds). (1986). Writing culture: the poetics and politics of ethnography. Berkley, Los Angeles, London: University of California Press. https://doi.org/10.1525/9780520946286

Collins, H., & Evans, R. (2010). Repensando a expertise. Belo Horizonte: Fabrefactum.

Couceiro, L. A. (2017). Cabra marcado para Bourdieu: educação e narrativas de sofrimento e violência na experiência escolar. Horizontes Antropológicos, 49, 287-309. https://doi.org/10.1590/s0104-71832017000300011

Couceiro, L. A. (2020). Etnografia hiper-realista: uma proposta para interpretar processos de ensino e aprendizagem. Revista Contemporânea de Educação, 15(32), 7-25. https://doi.org/10.20500/rce.v15i32.31554

Crapanzano, V. (1980). Tuhami: a portrait of a Moroccan. Chicago, London: University of Chicago Press. https://doi.org/10.7208/chicago/9780226191461.001.0001

Crapanzano, V. (1986). Herme’s dilema: the masking of subversion in ethnographic description. In J. Clifford, & G. Marcus (ed.). Writing culture: the poetics and politics of ethnography (pp. 51-76). Berkley, Los Angeles, London: University of California Press. https://doi.org/10.1525/9780520946286-005

Dauster, T. (2004). Entre a antropologia e a educação: a produção de um diálogo imprescindível e de um conhecimento híbrido. Ilha, 6(1-2), 197-207. https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/16610

Dauster, T. (org). (2012). Etnografia e Educação. Rio de Janeiro: Lamparina.

Evans-Pritchard, E. E. (1931). Sourcery and native opinion Africa: Journal of the Africa International Institute, 4(1), 22-55. https://doi.org/10.2307/1155736

Fabian, J. (1971). On professional ethics and epistemological foundations. Current Anthropology, 12(2), 230-232. https://doi.org/10.1086/201197

Fabian, J. (2012). Cultural anthropology and the question of knowledge. Journal of the Royal Anthropological Institute, 18(2), 439-453. https://doi.org/10.1111/j.1467-9655.2012.01751.x

Favret-Saada, J. (1977). Les Mots, La Mort, Les Sorts. Paris: Gallimard.

Ferguson, A. A. (2001). Bad Boys: public schools in the making of black masculinity. Michigan: The University of Michigan Press. https://doi.org/10.3998/mpub.16801

Firth, R. (ed). (1957). Man and culture: an evaluation of the work of Bronislaw Malinowski. New York: Humanities Press.

Fonseca, C. (2008). A interpretação das culturas: festejando os 35 anos. Cadernos de Campo, 16(16), 281-286. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v16i16p281-286

Foote Whyte, W. (2005). Sociedade de esquina: a estrutura social de uma área urbana pobre e degradada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Geertz, C. (1995). After the fact: two countries, four decades, one anthropologist. Cambridge, London: Harvard University Press.

Geertz, C. (2000). Deep play: notes on the Balinese Cockfight. In The interpretation of cultures (pp. 412-453). New York: Basic Books. https://doi.org/10.1007/978-1-349-62397-6_10

Gluckman, M. (1987). Análise de uma situação social na Zululândia moderna. In B. Feldman-Bianco (org.). Antropologia das sociedades contemporâneas (pp. 227-344). São Paulo: Global.

Gomes, F. dos S. (2005). A hidra e os pântanos: mocambos, quilombos e comunidades de fugitivos no Brasil – séculos XVII-XIX. São Paulo: Editora UNESP, Editora Polis.

Gomes, F. dos S. (2008). Peasants, maroons, and the frontiers of liberation in Maranhão. Review (Fernand Braudel Center), 31(3), 373-399.

Gomes, R. F. R. (2018). Ainda somos os mesmos e estudamos como nossos pais. Curitiba: Appris

Gusmão, N. (1997). Antropologia e educação: origens de um diálogo. Cadernos Cedes, 18(43), 8-25. https://doi.org/10.1590/S0101-32621997000200002

Handler, R. (1991). An interview with Clifford Geertz. Current Anthropology, 32(5), 603-613. https://doi.org/10.1086/204008

Hirsch, S. M., & Wright, P. G. (1993). De Bali al posmodernismo: una entrevista con Clifford Geertz. Alteridades, 3(5), 119-126.

Hume, L., & Mulcock, J. (eds). (2004). Anthropologists in the field: cases in participant observation. New York: Columbia University Press.

Lahire, B. (2004). Sucesso escolar nos meios populares: as razões do improvável. São Paulo: Ática.

Lareau, A. (2003). Unequal Childhoods: Class, Race, and Family Life. Berkeley: University of California Press.

Lareau, A. (2015). Cultural Knowledge and Social Inequality. American Sociological Review, 80(1), 1-27. https://doi.org/10.1177/0003122414565814

Leach, E. R. (1996). Sistemas políticos da Alta Birmânia: um estudo da estrutura social Kachin. São Paulo: Edusp.

Lévi-Strauss, C. (1976). Totemismo hoje. In Lévi-Strauss (pp. 95-187). Coleção Os Pensadores, vol. L. São Paulo: Abril Cultural.

Lévi-Strauss, C. (1997). O pensamento selvagem. 2ª ed. Campinas: Papirus.

Malinowski, B. (1935). Part VI. An ethnographic theory of the magical word. In Coral Gardens and their magic (pp. 213-248). v. II. London: Georde Allen and Unwin Ltd.

Malinowski, B. (1984). Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné melanésia. 3ª ed. São Paulo: Abril Cultural.

Marques, A. C. (2002). Intrigas e questões: vingança de família e tramas sociais no sertão de Pernambuco. Rio de Janeiro: Relume-Dumará.

Marques, A. C., & Villela, J. M. (2005). O que se diz, o que se escreve: etnografia e trabalho de campo no sertão de Pernambuco. Revista de Antropologia, 48(1), 37-74. https://doi.org/10.1590/S0034-77012005000100002

Mccaghy, C. H., & Neal, A. G. (1994). The fraternity of cockfighters: ethical embellishments of an illegal sport. In A. Dundes (ed). The cockfight: a casebook (pp. 66-80). Madison: The University of Wisconsin Press.

Mintz, S. W. (1984). Encontrando Taso, me descobrindo. Dados Revista de Ciências Sociais, 27(1), 45-58.

Oliveira, A. (2015). Sobre o Lugar da Educação na Antropologia Brasileira. Temas em Educação, 24(1), 40-50.

Oliveira, A., Boin, F., & Búrigo, B. (2018). Quem tem medo de etnografia? Revista Contemporânea de Educação, 13( 26), 10-30. https://doi.org/10.20500/rce.v13i26.12243

Ortner, S. (2007). Uma atualização da teoria prática; Poder e projetos: reflexões sobre a agência. In M. Grossi, P. Fry, & C. Eckert (orgs). Conferências e diálogos: saberes e práticas antropológicas (pp. 19-44; 45-80). Blumenau: Nova Letra.

Osório, A. (2015). Entre o real e o representado: um debate na história dos animais. Caderno Eletrônico de Ciências Sociais, 3(1), 75-94. https://doi.org/10.24305/cadecs.v3i1.12275

Perosa, G. S. (2006). Aprendizagem das diferenças sociais: classe, gênero e corpo em uma escola para meninas. Cadernos Pagu, 26, 87-111. https://doi.org/10.1590/S0104-83332006000100005

Radcliffe-Brown, A. R. (1922). The Andaman Islanders: a study in social anthropology. London: Cambridge University Press.

Radcliffe-Brown, A. R. (1978). O método comparativo em Antropologia Social. In J. C. Melatti (org). Radcliffe-Brown (pp. 43-58). São Paulo: Ática.

Rapport, N. (1997). Edifying anthropology: culture as conversation; representation as conversation. In A. Ames, J. Hockey, & A. Dawson (eds). After writing culture: epistemology and praxis in contemporary anthropology (pp. 177-191). London, New York: Routledge. https://doi.

org/10.4324/9780203450987_chapter_11

Rosaldo, R. (1988). Ideology, place, and people without culture. Cultural Anthropology, 3(1), 77-87.

https://doi.org/10.1525/can.1988.3.1.02a00070

Rosistolato, R. (2016). “Você sabe como é, eles não estão acostumados com antropólogos!”: uma análise etnográfica da formação de professores.” Pro-Posições, 24(2), 41-54. https://doi.org/10.1590/S0103-73072013000200004

Rosistolato, R., & Prado, A. P. do. (2015). Etnografia em pesquisas educacionais: o treinamento do olhar. Linhas Críticas, 21(44), 57-75.

Sahlins, M. (1995). Historical metaphors and mythical realities: structure in the early history of the Sandwich Islands Kingdom. Michigan: The University of Michigan Press.

Sigaud, L. (1996). Direito e coerção moral no mundo dos engenhos. Estudos Históricos, 18, 361-388.

Sigaud, L. (2004). Armadilhas da honra e do perdão: usos sociais do direito na mata pernambucana. Mana (10)1, 131-163. https://doi.org/10.1590/S0104-93132004000100005

Silva, R. V. C. da, & Couceiro, L. A. (2021). One Possible Analysis of How Quilombos Arose in Maranhão, Brazil (1780-1820) in the Face of the World Economy. No prelo.

Singer, A., & Street, B. V. (eds). (1972). Zande themes: essays presented to Sir Edward Evans-Pritchard.

Oxford: Basil Blackwell.

Smith, Philip. (2011). The Balinese Cockfight Decoded: Reflections on Geertz and Structuralism. In

J. C. Alexander, P. Smith, & M. Norton. Interpreting Clifford Geertz: cultural investigation in Social Sciences (pp. 17-32). New York: Palgrave Macmillan. https://doi.org/10.1057/9780230118980_3

Stocking Jr., G. W. (1983). The ethnographer’s magic: fieldwork in British Anthropology from Tylor to Malinowski. In Observers observed: essays on ethnographic fieldwork (pp. 70-120). Wisconsin: The University of Wisconsin Press.

Swidler, A. (1996). Geertz’s ambiguous legacy: review of “The interpretation of Cultures” by Clifford Geertz.” Contemporary Sociology, 25(3), 299-302. https://doi.org/10.2307/2077435

Teixeira, S. A. (1997). O simbolismo essencial das brigas de galos. Horizontes Antropológicos, 6, 223- 280. https://doi.org/10.1590/s0104-71831997000200013

Thornton, R. (1985). “Imagine yourself set down...”: Mach, Frazer, Conrad, Malinowski and the role of imagination in ethnography. Anthropology Today, 1(5), 7-14. https://doi.org/10.2307/3032822

Tsing, A. L. (1993). In the realm of the Diamond Queen: marginality in an out-of-the-way place. Princeton: Princeton University Press.

Tsing, A. (2015). The mushroom at the end of the world: on the possibility of life in the capitalism ruins. Princeton, Oxford: Princeton University Press. https://doi.org/10.1515/9781400873548

Turner, V. W. (1975). Dramas, Fields, and Metaphors: Symbolic Action in Human Society. Ithaca: Cornell University Press.

Villela, J. L. M. (2004). O Povo em armas: violência e política no sertão de Pernambuco. Rio de Janeiro: Relume Dumará.

Willis, P. (1977). Learning to Labor: How Working Class Kids Get Working Class Jobs. New York: Columbia University Press.

Wolf, E. (1969). Peasant Wars of the Twentieth Century. New York: Harper & Row.

Wolf, E. R., & Mintz, S. W. (2010). Fazendas e plantações na Meso-América e nas Antilhas. In S. W. Mintz O poder amargo do açúcar: produtores escravizados, consumidores proletarizados (pp. 169-223). 2ª ed. Recife: Editora Universitária UFPE.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cra.v22i2.72728

Apontamentos

  • Não há apontamentos.