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Kuambü: poética e política em uma festa xinguana

Antonio Guerreiro, Marina Pereira Novo

Resumo


O objetivo deste artigo é discutir algumas relações entre poética e política no Alto Xingu, a partir da análise de canções do ritual kuambü entre os Kalapalo (falantes de língua karib daquela região). Por meio da repetição de canções compostas por outros ou de improvisos, o kuambüé um contexto marcado pela expressão musical pública de conflitos, medos, acusações, demandas ou reflexões sobre problemas cotidianos. Este trabalho analisa um fragmento deste repertório, buscando evidenciar algumas das características dos cantos, e compreender as relações entre as composições e as situações que lhes deram origem. Pretende-se demonstrar como este ritual, com seu tom ao mesmo tempo grave e jocoso, constitui um momento em que fraturas micropolíticas do cotidiano podem ser expostas e negociadas por meio de uma linguagem poética, revelando uma face geralmente oculta da socialidade do grupo local e criando condições para sua reinvenção.

Palavras-chave


artes verbais ameríndias; políticas ameríndias; ritual; Alto Xingu; Kalapalo

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cra.v21i1.70439

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