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Falas da diferença: aconselhamentos e modos de ser kanhgág pé

Paola Andrade Gibram

Resumo


Trato neste texto dos aconselhamentos kaingang, falas proferidas por pessoas detentoras do que concebem como “conhecimento dos antigos”. Para isso, trago descrições etnográficas que articulam aspectos de moralidade, de parentesco e aliança, bem como aspectos ligados à ação da liderança entre os Kaingang da T.I. Rio da Várzea (RS). Minha experiência nesta localidade levou-me a perceber que o “casar bem” – forma ideal de aliança matrimonial, que segue a exogamia de metades e o devido distanciamento genealógico – só ocorre com a presença e a performance de conselheiros na cerimônia de casamento. A eficácia plena das punições locais, por sua vez, dirigidas àqueles que infringem as “leis internas”, é da mesma forma atribuída aos aconselhamentos. Destaco também o fato de que as falas formalizadas (aconselhamentos e falas de chefe) ligam-se a formas bastante específicas de conhecimento; são reflexões sobre modos de ser kanhgág pé, revelando-se, portanto, como falas da diferença.  


Palavras-chave


aconselhamentos; moralidades indígenas; formas de conhecimento; políticas indígenas; Kaingang

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cra.v21i1.70044

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