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Sem palavra inspirada não há movimento: lições mbya de escuta e fala

Aline de Oliveira Aranha

Resumo


Este ensaio parte de uma proposta de análise da potência da palavra-nome-espírito-caminho (nhe’ẽ) entre @s Guarani Mbya e sua capacidade de inspirar e traduzir-se em movimentos e ações, passando por uma discussão da relação entre linguagem, política e gênero e pelas estratégias e cuidados, parte da ética-estética xamânica da moderação, envolvidos na produção-proteção dos corpos-espíritos, afetos e mundos guarani. É também uma tentativa de contribuir, de uma perspectiva não androcêntrica, para um entendimento possível da relação entre nhe’ẽ e as diferentes disposições coletivas que cada pessoa desempenha na diplomacia cosmopolítica mbya, valorizando, em especial, o protagonismo e agência cosmopolítica das kunhãgue (“mulheres”) e suas inspiradoras lições de escuta e fala, que implicam um aprendizado contínuo do saber ouvir-sentir-pensar-falar-agir com o coração (py’a). Essas sábias lições podem nos auxiliar na tarefa de repensar e ampliar nossas próprias concepções de polític@, linguagem, poder e gênero e, quem sabe, compor e transformar nossos modos de (r)existir.

Palavras-chave


Guarani Mbya; xamanismo; gênero; mulheres indígenas; diplomacia cosmopolítica

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cra.v21i1.70033

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