Open Journal Systems

Fazendo parentes entre os Baniwa: reflexões sobre as relações em campo

João Jackson Bezerra Vianna

Resumo


Este artigo é uma investigação de algumas das relações possíveis entre antropólogos e seus anfitriões indígenas, considerando o parentesco como abordagem analítica pertinente. Para tanto, parto da minha experiência etnográfica entre os Baniwa, povo de língua arawak que vive no Noroeste Amazônico, descrevendo o vínculo que se estabeleceu entre mim e o casal Júlio e Maria, meus principais anfitriões. Procuro compreender como esta relação indicia diferentes posições dentro do campo do parentesco, sem-pre reversíveis, caracterizando modos dinâmicos de fazer parentes. Seguindo a ideia de um parentesco analógico (Wagner, 1977), demonstrarei como um antropólogo branco e seus anfitriões baniwa se situam em uma cadeia de analogias: brancos e indígenas, patrões e empregados, pais e filhos (adotivos, “bastardos” e “legítimos”). Ao final proponho alguns entendimentos sobre o parentesco baniwa a partir do modo como ele é constituído em uma das fronteiras do seu campo: na relação com os brancos

Palavras-chave


Baniwa; Noroeste Amazônico; Trabalho de campo; Parentesco analógico

Texto completo:

PDF

Referências


ALBERT, Bruce. “Situação Etnográfica” e Movimentos Étnicos. Notas sobre o trabalho de campo pós-malinowskiano. Campos 15(1):129-144, 2014. https://doi.org/10.5380/campos.v15i1.42993

ANDRELLO, Geraldo. 2019. De irmãos e cunhados. Formas da diferença no rio Uaupés. In.: SÁEZ, Oscar Calavia (Org.).

Ensayos de teoría etnográfica en las tierras bajas de América del Sur. Madrid, Nola Editores.

ANDRELLO, Geraldo. 2006. Cidade do Índio. Transformações e cotidiano em Iauareté. São Paulo: Editora UNESP: ISA; Rio de Janeiro: NUTI

BONILLA, Oiara. 2005. O bom patrão e o inimigo voraz: predação e comércio na cosmologia Pau-mari. Mana, 11(1):41-66. https://doi.org/10.1590/S0104-93132005000100002

CALAVIA SÁEZ, Oscar. 2006. O nome e o tempo dos Yaminawa: etnologia e história dos Yaminawa do rio Acre. São Paulo/ Rio de Janeiro, Editora da Unesp, ISA e NUTI

COELHO DE SOUZA, M. 2001. Nós, os vivos: "construção da pessoa" e "construção do parentesco" entre alguns grupos jê. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 16, n. 46, p. 69-96. https://doi.org/10.1590/S0102-69092001000200004

COSTA, Luiz. 2016. Virando funai: uma transformação Kanamari. Mana 22(1): 101-132. https://doi.org/10.1590/0104-93132016v22n1p10

COUTINHO, Gabriel. 2007. Os Aparai e Waiana e suas redes de intercâmbio. Tese: São Paulo: PPGAS/USP.

FAUSTO, Carlos. 2008. Donos demais: Maestria e domínio na Amazônia. Mana. Estudos de Antropologia Social, 14(2):329-366. https://doi.org/10.1590/S0104-93132008000200003

FIRTH, Raymond. 1998. Nós, os Tikopias. Um estudo sociológico do parentesco na Polinésia primitiva. Edusp, São Paulo.

GOW, Peter. 1991. Of mixed blood: kinship and history in Peruvian Amazonia. Oxford: Clarendon Press.

HARAWAY, Donna. 2016a. Staying with the trouble: making kin in the Chthuluceno. Duke University Press. https://doi.org/10.1215/9780822373780

HARAWAY, Donna. 2016b. Antropoceno, Capitaloceno, Plantationoceno, Chthuluceno: fazendo parentes. ClimaCom Cultura Científica - pesquisa, jornalismo e arte, Ι Ano 3 - N. 5.

HUGH-JONES, Stephen. 1992. “Yesterday’s luxuries, tomorrow’s necessities: business and barter in northwest Amazonia” In S. Hugh-Jones & C. Humphrey (eds), Barter, Exchange and Value. An anthropological approach . Cambridge: Cambridge University Press. https://doi.org/10.1017/CBO9780511607677.003

JOURNET, Nicholas. 1995. Les paix des jardins: Structures sociales des Indiens curripaco du haut Rio Negro (Colombie).

Paris: Institut D’Ethnologie, Musée de L’Homme.

KELLY, José. 2005. Notas para uma teoria do “virar branco”.

Mana 11(1):201-234. https://doi.org/10.1590/S0104-93132005000100007

KILLICK, Evan. 2008. Godparents and Trading Partners: Social and Economic Relations in Peruvian Amazonia. Journal of Latin American Studies

KOCH-GRÜNBERG, Theodor. 2005 [1903-1904]. Dois anos entre os indígenas. Manaus, EDUA, FSDB.

KOPENAWA, Davi & ALBERT, Bruce. 2015. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras. 729 p.

LÉVI-STRAUSS, C. 1993. História de Lince. São Paulo: Companhia das letras.

MATOS, M. A. Organização e história dos manxineru do alto rio Iaco. 2018. 336 f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018.

MCCALLUM, Cecilia 2001. Gender and sociality in Amazonia: how real people are made. Oxford: Berg.

MELATTI, J. C. Nominadores e genitores: um aspecto do dualismo krahô. In: SCHADEN, E. (Org.). Leituras de etnologia brasileira. São Paulo: Companhia Editorial Nacional, 1976. p: 139-149.

OVERING, Joanna. 1983-1984. Elementary structures of reciprocity: a comparative note on Guianese, Central Brazilian, and North-West Amazon sociopolitical thought. Antropológica, 59-62: 331-348.

RAMOS, Alcida Rita, Silverwood-Cope, Peter e OLIVEIRA, Ana Gita. 1980. Patrões e clientes: relações intertribais no Alto Rio Negro. In: Hierarquia e simbiose: relações intertribais no Brasil. São Paulo: HUCITEC. pp. 135-182.

SÁEZ, Oscar. 2006. O nome e o tempo dos Yaminawa: etnologia e história dos Yaminawa do rio Acre. São Paulo/ Rio de Janeiro, Editora da Unesp, ISA e NUTI.

SANTOS-GRANERO, F. Of fear and friendship: Amazonian sociality beyond kinship and affinity. Journal of the Royal Anthropological Institute, London, v. 13, n. 1, p. 1-18, 2007. https://doi.org/10.1111/j.1467-9655.2007.00410.x

SEEGER, A. 1981. Nature and society in central brazil: the suya Indians of Mato Grosso. Cambridge: Harvard University Press. https://doi.org/10.4159/harvard.9780674433038

SEEGER, A.; DA MATTA, R.; VIVEIROS DE CASTRO, E. B. 1987. A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras. In: OLIVEIRA, J. P. (Ed.).Sociedades indígenas e indigenismo no Brasil. Rio de Janeiro: Marco Zero, p. 11-29

SOARES-PINTO, Nicole. Uma incontornável diferença: parentesco nas Terras Baixas da América do Sul (1996-2016). BIB, São Paulo, n. 87, 3/2018 (publicada em dezembro de 2018), pp. 105-132.

SOARES-PINTO, Nicole. Entre as teias do marico: parentes e pajés djeoromitxi. 2014. 492 f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade de Brasília, Brasília, 2014.

TAYLOR, Anne-Cristine. 2001. “Wives, Pets and Affines: Marriage among the Jivaro”. In: L. M. Rival and N. L. Whitehead (Org.). Beyond the visible and the material: the ameriandinization of society in the work of Peter Rivière. Oxford, Oxford University Press: pp. 45- 56.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2002 “O Problema da afinidade na Amazônia” In: A inconstância da alma selvagem. São Paulo, Cosac e Naify, pp. 87-180.

VIANNA, João. 2017. Kowai e os Nascidos: a mitopoese do parentesco baniwa. Tese: Florianópolis: PPGAS/UFSC.

WAGNER, Roy. 1974. Are there social groups in the New Guinea Highlands? In: LEAF, M. (Ed.). Frontiers of anthropology. New York: D. Van Nostrand Company, p. 95-122.

WAGNER, Roy. 1977. “Analogic Kinship: A Dabiri Example”. American Ethnologist, v.4, n.4, pp. 623-42. https://doi.org/10.1525/ae.1977.4.4.02a00030

WAGNER, Roy. 2010. A invenção da cultura. São Paulo, Cosac e Naify.

WALKER, H. 2013. Under a Watchful Eye: Self, Power and Intimacy in Amazonia. Berkley, Los Angeles, London: University of California Press.

WRIGHT, R. 2005. História Indígena e do Indigenismo no Alto Rio Negro. Campinas: Mercado de Letras.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cra.v20i1.65946

Apontamentos

  • Não há apontamentos.