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Entre “lava-pés” e “lava-mãos”: valores, hierarquias e poder aristocrático nas baladas elitizadas

Daniel Machado Da Conceição, Alexandre Fernandez Vaz

Resumo


No carnaval de 2018, a postagem de um vídeo repercutiu nas redes sociais no Brasil. Ele mostrava a figura de um milionário, assíduo frequentador dos famosos beach clubs em Florianópolis/SC, que adquirira garrafas de champanhe da marca Veuve Clicquot Brut e utilizava seu conteúdo para lavar os pés sujos de areia da praia. Ao propor um comentário sobre o vídeo, o texto pretende desvelar parte das relações que são produzidas no espaço das baladas e que representam um manto aristocrático que encobre interesses e privilégios de uma classe que se reconhece como “nobre”. No esforço para elaborar a interpretação proposta, as expressões “lava-pés” e “lava-mãos” são articuladas para uma me-lhor apresentação dos argumentos. Ambas as ações presentes nas baladas – “lava-pés” e “lava-mãos” – são promotoras dos valores aristocráticos presentes na sociedade brasileira. A primeira tem sentido de obrigação para a elite do dinheiro e a segunda de servilismo voluntário na atitude dos serviçais


Palavras-chave


Baladas; Hierarquia; Distinção; Status; Classes Socias

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cra.v20i1.65899

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