"Toda Quebrada na Plástica" : Corporalidade e construção de gênero entre travestis paulistas
DOI:
https://doi.org/10.5380/cam.v6i0.4509Palavras-chave:
Travestis, Corporalidade, Sexualidade, Gênero, HeteronormatividadeResumo
Desde a comercialização dos hormônios femininos, na forma de contraceptivos, a construção da pessoa travesti ganhou um novo impulso. Na busca de um "corpo perfeito", isto é, associado a padrões socialmente sancionados como femininos, compôs-se todo um circuito estético e de cuidados de si que burla a medicina ocidental, por um lado, mas que em alguns momentos a ela se associa. Do modelo "travecão" ao "menininha", as travestis se submetem a inúmeros processos de intervenção corporal que se iniciam com a ingestão de hormônios, passando pela aplicação de silicone industrial até operações de redução da testa, extirpação do pomo-de-adão e renovadas sessões com "bombadeiras", pessoas que "fazem o corpo", isto é, injetam silicone nas travestis. Orientadas pela heteronormatividade compulsória, as travestis transformam seus corpos a fim de adequá-los a seus desejos, práticas e orientação sexual, reconhecidas por elas como "homossexuais". Nessa construção subvertem o gênero e paradoxalmente, também enfatizam o caráter de assujeitamento por detrás do culto contemporâneo a padrões de normalidade, saúde e beleza.
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