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Lévi-Strauss, Ciência e Renúncia

Oscar Calavia Sáez

Resumo


Claude Lévi-Strauss tem sido descrito durante decênios como o representante mais completo de uma antropologia modernista caracterizada pelo cientificismo, o formalismo imobilizador e o fascínio pelo modelo das ciências exatas, contrário à história e à dimensão subjetiva. Releituras recentes têm destacado na sua obra, sobretudo em Mitológicas, valores bem diferentes dos anteriores, sublinhando conceitos mais sofisticados de história, uma noção de estrutura cifrada na variação e na transformação, e uma resolução poética dos objetivos epistemológicos da antropologia. O artigo defende que, superando-se alguns erros de interpretação devidos a leituras superficiais, é possível reconhecer na obra desse autor os traços de ambos os retratos, e que os diferentes Lévi-Strauss que daí resultam não representam no essencial épocas diferentes de um projeto intelectual reformulado, senão a alternativa entre um saber científico por definição limitado e o universo, sempre muito mais amplo, do que não pode ser dito cientificamente. Esse par ciência/renúncia é, por sua vez, uma alternativa digna de atenção ao projeto hegemônico, ao mesmo tempo confuso e totalizador, das ciências humanas.


Palavras-chave


Lévi-Strauss; ciência; estruturalismo

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cam.v9i2.15861

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