Open Journal Systems

O MAPA COMO RELATO

Renata Moreira Marquez

Resumo


Este ensaio propõe uma reflexão crítica sobre o mapa como modelo privilegiado de representação do espaço. Partindo da iconografia historicamente verificada com a disseminação do imaginário do globo terrestre e buscando os possíveis estratos heterotópicos ou margens de desobediência cartográfica atuantes nos mapas existentes bem como na emergência de novos mapas, aborda algumas das suas transformações históricas na tensão constantemente experimentada entre inventário e invenção, através de um conjunto selecionado de reflexões e proposições de autores vindos não da geografia mas das artes visuais e da literatura tais como Joaquín Torres-García, Georges Perec, Joan Brossa, Julio Cortázar e outros. Frente à análise da aplicabilidade do mapa como relato subjetivo e da sua aproximação com uma experiência cartográfica múltipla e diversa capaz de inventariar, nos lugares estudados, a qualidade poética da vida, o mapa ressurge, assim, como ciência das qualidades em detrimento de campo das quantidades. Propõe-se, conclusivamente, repensar a cartografia como uma plataforma científica que, mesmo nas suas origens, já guardava uma potência mítica para relatos abertos e transversais à ciência e que, no contexto atual, pode tornar-se uma plataforma de ação criativa em prol de novas sensibilidades perceptivas, novos mundos estéticos e novos movimentos prospectivos de transformação imaginativa do espaço, ampliando e complexificando o esforço de conhecer as nossas relações geográficas.

Palavras-chave


cartografia como ciência das qualidades; arte e ciência; heterotopia.

Texto completo:

ARTIGO AUTORIZAÇÃO

Referências


AUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus, 1994.

BROSSA,Joan. Poesia vista.São Paulo: Amauta Editorial, 2005.

CARERI, Francesco. Walkscapes.El andar como práctica estética. Barcelona: Gustavo Gili, 2002.

CERTEAU, Michel de. A Invenção do cotidiano. 1. Artes de fazer.Petrópolis/RJ: Vozes, 1994.CORTÁZAR, Julio. Cuentos completos 2.Buenos Aires: Punto de Lectura, 2007.

CORTÁZAR, Julio; DUNLOP, Carol. Los autonautas de la cosmopista o un viaje atemporal París-Marsella. Madrid: Alfaguara, 1996.

COSGROVE, Denis. Apollo`s eye. A cartographic genealogy of theEarth in the Western imagination. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 2001.

COSGROVE, Denis; MARTINS, Luciana Millennial Geographics. In: MINCA, C. (ed). Postmodern geography: theory and praxis.Oxford/Malden: Blackwell Publishers, 2001.

DIEGO, Estrella de. Contra el mapa.Madrid: Siruela, 2008.

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas.São Paulo: Martins Fontes, 2000.

HARLEY, JohnBrian. Deconstructing the map. In: BARNES, Trevor; DUNCAN, James S.(Orgs.).Writing worlds. Discourse, text and metaphor in the representation of landscape.New York: Routledge, 1992, p. 231-247.

MARQUEZ, Renata Moreira. Geografias portáteis: arte e conhecimento espacial. 2009. Tese de Doutorado. Instituto de Geociências, UFMG. Belo Horizonte.MASSEY, Doreen. Peloespaço: uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

PEREC, Georges. Especies de espacios.Mataró (Barcelona): Montesinos, 2007.SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes.Eurozine. Viena, 14 de fev. de 2008. Acesso 01 de set de 2013.

____. Semear outras soluções: os caminhos da biodiversidade e dos conhecimentos rivais.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

TORRES-GARCÍA, Joaquín. Universalismo constructivo, 1.Madrid: Alianza Editorial, 1984.

WELU, James A. The sources and development of cartographic ornamentation in the Netherlands. In: WOODWARD, David (Org.). Art and cartography:six historical essays. University of Chicago Press, 1987, p.147-173.

WOLLHEIM, Richard. Painting as an art.London: Thames and Hudson, 1987.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/raega.v30i0.36082