Pensar a catástrofe, pensar a atualidade: Os ensaios de Kant sobre o terremoto de Lisboa
DOI:
https://doi.org/10.5380/sk.v14i20.89097Palavras-chave:
Kant, terremoto de Lisboa, história da terra, trabalho da natureza, otimismo, teodiceiaResumo
Neste artigo, abordo três ensaios de Kant, escritos a propósito e na sequência do terremoto de Lisboa de 1 de novembro de 1755, e considero-os não apenas pelo contributo que deram para a explicação científica desse fenômeno telúrico (invulgar pela sua dimensão, disseminação espacial e poder de destruição), mas também pelo que representam enquanto expressão de uma nova atitude filosófica caracterizada pela atenção a atualidade e pela capacidade de o filósofo ler e interpretar o significado dos acontecimentos (sejam eles da história da Terra, da história cultural ou da história política da humanidade), quando eles afetam o destino coletivo dos homens e são portadores da pregnância de um dado momento histórico ou de toda uma época, ou suficientemente poderosos para provocar uma rutura e marcar o início de uma nova visão do mundo. Particular atenção é concedida ao que esses ensaios revelam já a respeito do que se pode considerar o característico modo de pensar de Kant, a relação das perspectivas neles expostas com os interesses naturalistas, cosmológico-cosmogónicos e geográficos do jovem filósofo, a conceção antropológica que se colhe das considerações e reflexõees expostas, que apontam para o lugar do homem na natureza e indicam qual deve ser a sua adequada relação com ela. Por fim, é contrastada a visão do jovem Kant, a respeito dessa catástrofe (que destruiu Lisboa e abalou também física e intelectualmente a Europa e os próprios fundamentos da racionalidade filosófica iluminista), com a de dois filósofos da época, Voltaire e Rousseau, no contexto do debate setecentista sobre a teodiceia.
Referências
ADICKES, E. Kant als Naturforscher, Bd. II, Berlin: Walter de Gruyter, 1925.
ARISTÓTELES, Météorologiques, édition et traduction de P. Louis, Paris: Les Belles Lettres, 2002.
BREIDERT, W. (Hrsg.), Die Erschütterung der vollkommenen Welt: Die Wirkung des Erdbebens von Lissabon im Spiegel europäischer Zeitgenossen, Darmstadt: WBG, 1994.
BREIDERT, W. Prefácio a: Immanuel Kant: Escritos sobre o Terramoto de Lisboa. pp.7-38. Coimbra: Almedina, 2005.
BUFFON, G.-L. L. C. de. Histoire naturelle, générale et particulière…, Tome I (1749), texte établi, introduit et annoté par Stéphane Schmitt avec la collaboration de Cédric Crémière, Paris: Honoré Champion, 2007.
ENCYCLOPÉDIE, ou Dictionnaire raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers, par une Societé de Gens de Lettres…, Tome VI, Paris, 1756.
FERREIRA, M. J. do C. “Roteiro da presença portuguesa na obra de Kant”. In: Santos, L. R. dos; et alii (Coord.), Kant: Posteridade e Actualidade, pp. 45- 52. Lisboa: CFUL, 2007.
FONSECA, J. P. Posfácio a: Immanuel Kant, Escritos sobre o Terramoto de Lisboa, pp.121-137. Coimbra: Almedina, 2005.
FOUCAULT, M. Qu’est-ce que les Lumières?. In Dits et écrits, IV (1980- 1988), Paris: Gallimard, 1994.
KANT, I. Kant’s gesammelte Schriften, hrsg. v. der Königlich Preussischen Akdemie der Wissenschaften, Bände I u. V: Berlin: Georg Reimer, 1910 u. 1913); Bd. IX: Berlin / Leipzig: Walter de Gruyter, 1923.
KANT, I. Escritos sobre o Terramoto de Lisboa, tradução de Benedith Bettencourt, Prefácio de W. Breidert, Posfácio de João Duarte Fonseca, Coimbra: Almedina, 2005.
KANT, I. Ensaios de Kant a propósito do terremoto de 1755, tradução de Luís Silveira, Lisboa: Publicações da Câmara Municipal de Lisboa, 1955.
LEPENIES, W. Das Ende der Naturgeschichte. Wandel kultureller Selbstverständlichkeiten in den Wissenschaften des 18. Und 19 Jahrhunderts, München: Hanser, 1976.
MARCUCCI, S. “Le savant Kant agé de trente ans”. In: Rohden, V.; Terra, R. R.; Almeida, G. A. de; Ruffing, M. (Hrsg.), Recht und Frieden in der Philosophie Kants, pp.199-212. Bd. I, Berlin/New York: Walter de Gruyter, 2008.
QUENET, G. “Le tremblement de terre de Lisbonne, un événement majeur de l’Histoire Européenne”. In: Rollo, M. F.; Buescu, A. I.; Cardim, P. (Coord.), História e Ciência da Catástrofe, 250º Aniversário do Terramoto de 1755, pp.13-37. Lisboa: IHC da FCSH da UNL / Colibri, 2007.
QUENET, G. Les tremblements de terre aux XVIIe et XVIIIe siècles. La naissance d’un risque, Seyssel: Champ Vallon, 2005.
ROUSSEAU, J.-J. Lettre à Voltaire (18.08.1756), Oeuvres, Bibliothèque de la Pléiade, t. IV, Paris: Gallimard, 1969.
SANTOS, L. R. dos. “Analogia e conjectura no pensamento cosmológico do jovem Kant”. In: Santos, L. R. dos. Ideia de uma Heurística Transcendental. Ensaios de Meta-Epistemologia Kantiana, pp. 23-58. Lisboa: A Esfera do Caos, 2012.
SANTOS, L. R. dos. “Kant e os limites do antropocentrismo ético-jurídico”. In: Santos, L. R. dos. Regresso a Kant. Ética, Estética, Filosofia Política, pp.123-174. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2012.
SOROMENHO-MARQUES, V. Razão e Progresso na Filosofia de Kant, Lisboa: Colibri, 1998, pp.172-192.
SOROMENHO-MARQUES, V. “Um terramoto entre dois mundos”, Visão 27 (2005): 30-33.
VOLTAIRE, F. M. A. Poème sur le désastre de Lisbonne / Poema sobre o desastre de Lisboa. Trad. de Vasco Graça Moura, Lisboa: Alêtheia Editores, 2013.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores mantém os direitos de republicação, sob condição de indicação de primeira publicação na Studia Kantiana.
Autores cedem o direito aos editores de vincular seus artigos em futuras bases de dados.
A Studia Kantiana utiliza a licença Creative Commons: Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International (CC BY-NC-ND 4.0)
Você tem o direito de:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato.
De acordo com os termos seguintes:
Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.
Não Comercial — Você não pode usar o material para fins comerciais.
Sem Derivações — Se você remixar, transformar ou criar a partir do material, você não pode distribuir o material modificado.