O estatuto das ideias de contrato social e de constituição política no contexto da teorização kantiana das relações representação/objeto
DOI:
https://doi.org/10.5380/sk.v22i1.95932Palavras-chave:
Kant, ideia, representação, constituição, contrato social, arquétipo, éctipo.Resumo
O artigo parte das afirmações de Kant de que uma constituição conforme ao direito natural é um Ideal platônico, de que, perfeita, ela é a coisa em si, e de que o pactum unionis civilis é uma ideia da razão. Assinalando que, como todas as representações, as ideias devem ser representação de algo, o texto mostra como, na análise deste ponto, Kant introduz o conceito de objeto na ideia, o que tem implicações importantes na conformação de suas filosofia política e doutrina do direito público. O desenvolvimento do texto se faz em três partes, a primeira apresenta a teoria kantiana das ideias, os termos em que nela aparece o conceito de objeto na ideia, a distinção consequente do arquétipo e do éctipo e ainda como essa distinção é especificada no caso das ideias práticas. Na segunda parte, o texto trata, primeiramente, de reconstituir como Kant, recusando o inatismo, deriva laboriosamente sua teoria do direito público do conceito de propriedade e, assim, da teoria do direito privado; depois apresenta o que se pode chamar a origem próxima do direito público, examinando o que Kant denomina o problemático e inevitável convívio lado a lado dos seres humanos e seu correlato normativo: o mandamento exeundum e statu naturali. A terceira parte cuida de mostrar que, tendo em vista que o meio de obedecer a essa injunção, o contrato social, é ele mesmo uma ideia da razão, logo um arquétipo, segue-se que, como se lê na última página da Doutrina do Direito, no plano éctipo, na vida real das sociedades, as formas de sair do estado de natureza podem ser quaisquer, sua máxima sendo “obedecei a autoridade que tem poder sobre vós”.
Referências
OBRAS DE KANT †
Edição de referência
Kants gesammelte Schriften (KGS), editados por Deutschen Akademie der Wissenchafte (anteriormente Königlichen Preussischen), 29 volumes. Editora Walter de Gruyter, Berlim, a partir de 1902.
Traduções usadas e consultadas
KANT, I. Anúncio do término próximo de um tratado para a paz perpétua em filosofia [VNAEF]. Tradução de Valério Rohden et alia. In: ethic@, v. 5, n. 2, p. 222-233, 2006. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/17386.
KANT, I. Crítica da razão pura [KrV]. Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2ª ed., 1989.
KANT, I. Crítica de la razón pura. Edição e tradução bilíngue de Mario Caimi. Mexico D. F.: Editora Fondo de Cultura Económica, Editora Autónoma Metropolitana e Universidad Nacional Autónoma de México, 2009.
KANT, I. Crítica da razão pura. Tradução de Fernando Costa Mattos. Petrópolis: Vozes, 2012.
KANT, I. Crítica da razão pura. Tradução de Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
KANT, I. Crítica da razão prática [KpV]. Edição e tradução bilíngue de Valério Rohden. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2003.
KANT, I. Critique of practical reason. Tradução de Mary J. Gregor. In: The Cambridge edition of the works of Kant: Immanuel Kant, Practical Philosophy. New York: Cambridge University Press, 1999.
KANT, I. La critique de la raison pratique. Tradução de Luc Ferry e Heinz Wismann. In: Emmanuel Kant, Œuvres philosophiques II. Paris: Gallimard, 1985.
KANT, I. Crítica da faculdade do juízo [KU]. Tradução de Valério Rohden e António Marques. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993a.
KANT, I. Crítica da faculdade de julgar. Tradução de Fernando Costa Mattos. Petrópolis: Vozes, 2016.
KANT, I. Critica del giudizio. Edição e tradução bilíngue de Massimo Marassi. Florença e Milão, Itália: Editora Bompiani, coleção Il Pensiero Occidentale, 2ª ed., revisada, 2014.
KANT, I. Immanuel Kant, lógica [Log]. Tradução de G. A. de Almeida. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1992.
KANT, I. Manual dos cursos de lógica geral. Edição e tradução bilíngue de Fausto Castilho. Campinas: Editora Unicamp, 2014.
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes [GMS]. Edição e tradução bilíngue de Guido António de Almeida. São Paulo: Editoras Discurso Editorial e Barcarolla, 2009.
KANT, I. Princípios metafísicos da doutrina do direito [MS RL]. Tradução de Joãosinho Beckenkamp. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2014.
KANT, I. A metafísica dos costumes [MS]. 3ª ed. Tradução de José Lamego. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2017.
KANT, I. Metafísica dos costumes. Tradução de Clélia Aparecida Martins (1ª parte) e de Bruno Nadai, Diego Kosbiau Trevisan e Monique Hulshof (2ª parte). Petrópolis: Vozes, 2013.
KANT, I. Metafisica dei costumi. Edição e tradução bilíngue de Giuseppe Pandolfi Petrone. Florença e Milão: Editora Bompiani, coleção Il Pensiero Occidentale, 2006b.
KANT, I. A religião nos limites da simples razão [RGV]. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1992.
KANT, I. La religione entro i limiti della semplice ragione. Edição bilíngue de Massimo Roncoroni e tradução de Vincenzo Cicero. Florença e Milão: Editora Bompiani, 2001.
KANT, I. Religion within the boundaries of mere reason. Tradução de George Giovanni. In: The Cambridge edition of the works of Kant: Religion and Rational Theology. New York: Cambridge University Press, 1996.
KANT, I. O conflito das faculdades [SF]. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1993b.
KANT, I. Sobre a expressão corrente: isto pode ser correto na teoria, mas na prática nada vale [TP]. In: Immanuel Kant, A paz perpétua e outros opúsculos. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1988.
KANT, I. Drafts for the metaphysics of morals [DMM/VAMS]. Tradução de Kennet R. Westphal. In: The Cambridge edition of the works of Kant: Lectures and drafts on political philosophy. New York: Cambridge University Press, 2016a.
KANT, I. Lectures on ethics [Leth]. Tradução de Peter Heath. In: The Cambridge edition of the works of Kant: Immanuel Kant, Practical Philosophy. New York: Cambridge University Press, 1997.
KANT, I. Lectures and drafts on political philosophy [LdPhi]. Tradução de Frederick Rauscher e Kenneth R. Westphal. In: The Cambridge edition of the works of Kant. New York: Cambridge University Press, 2016b.
Obras consultadas
BECK, l. W. A Commentary on Kant’s Critique of Practical Reason. The University of Chicago Press, Chicago, 1960.
BEINER, R. and Booth, W. J. (ed), Kant & Political Philosophy – The Contemporary Legacy, Michigan: Yale University Press, 1993.
BYRD, S. and Hruschka, J., Kant’s Doctrine of Right – A Commentary, Cambridge: Cambridge University Press, 2010.
FLIKSCHUH, K., Kant’s Sovereignty Dilemma: A Contemporary Analysis, In Journal of Political Philosophy, v. 18, n. 4, section IV, 2010. Disponível na Internet em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1467-9760.2010.00361.x/full
FLIKSCHUH, K. Kant and Modern political philosophy. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.
GRAM, M. S. Kant, Ontology & the A Priori. Evanston: Northwestern University Press, 1968.
GREGOR, M. J. Editorial notes. In: Immanuel Kant, Practical Philosophy. The Cambridge Edition of the Works of Immanuel Kant. Cambridge: Cambridge University Press, 1996.
KERSTING, W. Politics, freedom and order: Kant’s political philosophy. In: Paul Guyer (ed.), The Cambridge Companion to Kant. New York: Cambridge University Press, 1992.
KERSTING, W. Kant’s concept of the state. In: Howard Lloyd Williams (ed.), Essays on Kant’s Political Philosophy. Chicago: The University of Chicago Press, 1992.
KERSTING, W. Filosofia política del contractualismo moderno. México: Plaza y Valdés, Biblioteca de Signos, 2001.
KERSTING, W. Liberdade bem-ordenada – Filosofia do direito de Immanuel Kant. 3ª ed., ampliada e trabalhada. Tradução e revisão de L. A. Heck. Porto Alegre: S. A. Fabris Editor, 2012.
KERVÉGAN, J.-F. La théorie kantienne de la normativité. In: Jean-François Kervégan (ed.), Raison pratique et normativité chez Kant. Lyon: ENS Éditions, 2010.
KERVÉGAN, J.-F. La raison des normes – Essai sur Kant. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin, 2015.
LUDWIG, B. Whence public right? In: M. Timmons (ed.), Kant’s Metaphysics of Morals – Interpretative Essays. New York: Oxford University Press, 2002.
O’NEILL, O. Vindicating reason. In: P. Guyer (ed.), The Cambridge Companion to Kant. New York: Cambridge University Press, 1992, p. 280-308.
O’NEILL, O. Instituting principles: Between duty and action. In: M. Timmons (ed.), Kant’s Metaphysics of Morals – Interpretative Essays. New York: Oxford University Press, 2002.
PHILONENKO, A. Théorie et praxis dans la pensée morale et politique de Kant et de Fichte en 1793. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin, 1976.
PHILONENKO, A. Introdução. In: Emmanuel Kant, Métaphysique des mœurs, première partie – Doctrine du droit. Paris: Vrin, 1979.
REATH, A.; TIMMERMANN, J. (eds.) Kant’s Critique of Practical Reason – A Critical Guide. New York: Cambridge University Press, 2010.
RILEY, P. The elements of Kant’s practical philosophy. In: R. Beiner; W. J. Booth (eds.), Kant and Political Philosophy. New Haven: Yale University Press, 1993.
THOMPSON, M. Singular terms and intuitions in Kant’s epistemology. In: C. J. Posy (ed.), Kant’s Philosophy of Mathematics – Modern Essays. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 1992.
TORRES, J. C. B. Ética e felicidade: Notas para uma revisão reconstrutiva da doutrina kantiana do sumo bem. Studia Kantiana, Santa Maria, n. 13, p. 91-120, 2012.
TORRES, J. C. B. Haverá uma antinomia na doutrina kantiana do direito público? Kriterion, Belo Horizonte, v. LV, n. 129, p. 223-245, 2014.
WATKINS, E. The antinomy of practical reason: Reason, the unconditioned and the highest good. In: A. Reath; J. Timmermann (eds.), Kant’s Critique of Practical Reason – A Critical Guide. New York: Cambridge University Press, 2010.
WILLIAMS, H. L. (ed.) Essays on Kant’s Political Philosophy. Chicago: The University of Chicago Press, 1992.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 João Carlos Brum Torres

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os autores retêm os direitos autorais (copyright) de suas obras e concedem à revista Studia Kantiana o direito de primeira publicação.
Autores cedem o direito aos editores de vincular seus artigos em futuras bases de dados.
Todo o conteúdo desta revista está licenciado sob a Licença Internacional Creative Commons 4.0 (CC BY 4.0)

