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USO DA TERRA E TENDÊNCIA DE DADOS CLIMATOLÓGICOS NO ARCO DO DESMATAMENTO AMAZÔNICO

Julia Ribeiro, Vandoir Bourscheidt

Resumo


O arco do desmatamento Amazônico vem passando por intensa remoção de floresta desde os anos 1970, que resulta em impactos ligados não só a perda de serviços ambientais essenciais para a manutenção dos ecossistemas, como também a aspectos climatológicos. Nesse sentido, este trabalho busca avaliar as mudanças de uso das terras na região e relacionar com tendências de temperatura e precipitação (inclusive dias consecutivos secos e úmidos) encontradas através do teste modificado de Mann-Kendall. A pesquisa usou informações de uso da terra para o período entre 1985 e 2020, disponibilizados pela plataforma do MapBiomas e também dados climatológicos disponibilizados pelo INMET, cujo período variou de acordo com a disponibilidade de dados de cada estação. Foi identificado um aumento de pastagens, áreas urbanas e soja, e uma diminuição de formações florestais e savânicas.  Através do teste de Mann-Kendall, foram encontradas, de forma geral, tendências de aumento de temperatura nas diferentes escalas analisadas. Para a precipitação, não foi identificado um padrão claro de tendência, embora muitas estações apresentem uma redução da chuva ao longo dos anos. A associação entre as tendências de precipitação e temperatura com os diferentes usos da terra evidenciou, de forma gráfica, que as maiores tendências costumam estar associadas com maiores alterações do uso. Conclui-se, portanto, que as intensas mudanças de uso da terra podem ter influência sobre a temperatura e precipitação, o que pode gerar impactos futuros no ciclo hidrológico local e afetar diferentes setores da sociedade, reforçando a importância de ações em prol da conservação florestal.


Palavras-chave


MapBiomas; Amazônia; Uso do solo; Análise de tendência; Temperatura; Precipitação

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/raega.v59i0.93241