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A MORTALIDADE INFANTIL NO BRASIL DO SÉCULO XXI: DILEMAS DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL E AS DESIGUALDADES REGIONAIS EM SAÚDE

Rivaldo Mauro Faria

Resumo


A mortalidade infantil é um dos melhores indicadores para medir as desigualdades territoriais, pois é fortemente dependente das condições sociais e de vida da população. Poucos estudos, todavia, propuseram uma avaliação espacial desse indicador para todo o Brasil, não obstante a sua natureza geográfica. O objetivo deste trabalho é apresentar um estudo geográfico da mortalidade infantil para todo o país e delinear alguns processos territoriais e de saúde possivelmente associados a esse indicador. O estudo foi feito ao nível dos municípios e com dados coletados dos anos de 2013 a 2017. A taxa de mortalidade infantil (TMI) foi calculada pela relação entre nascidos vivos e óbitos infantis e estimada através do método Bayesiano empírico. Posteriormente, foi aplicado o índice I de Moran Global e Local para encontrar agrupamentos espaciais de taxas elevadas e baixas. A partir desses agrupamentos foi possível estabelecer e classificar dez situações territoriais (regiões) com características particulares para implementação de ações de prevenção e controle. Os resultados mostram um Brasil fragmentado e desigual, com elevadas TMI nos municípios da fronteira norte do país, interior da Amazônia Legal, semiárido, meio norte e zona da mata nordestina. Há ainda uma enorme área de transição entre um “Brasil do Norte” e um “Brasil do Sul”, sendo este último marcado pelas concentrações espaciais das menores TMI e melhores indicadores de privação social e de saúde.


Palavras-chave


Saúde infantil; Privação social; Território; Serviços de saúde

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/raega.v54i0.73033