ESTADO DE INJUSTIÇA E CONFLITO SOCIOAMBIENTAL: O CASO DO ACAMPAMENTO JOSÉ LUTZENBERGER

Autores

  • Ener Vaneski Filho Universidade Federal do Paraná
  • Katya Isaguirre Torres Universidade Federal do Paraná

DOI:

https://doi.org/10.5380/raega.v46i2.58105

Palavras-chave:

Campesinato, meio ambiente, racismo ambiental.

Resumo

Nesse artigo se objetiva avaliar, a partir do recorte do direito à terra e ao território como dimensão essencial para reprodução da vida, a quem servem as áreas protegidas e o papel do Estado nesse contexto. As formas de apropriação tradicionais da terra não são captadas na sua complexidade, nem respeitadas na sua diversidade sendo frequente as sobreposições e desterritorializações dos povos por sobre o fundamento da defesa da natureza. O caso do acampamento agroflorestal José Lutzenberger, localizado em Antonina no estado do Paraná, na região classificada como Litoral, e em uma área de grande interesse para a preservação da biodiversidade bem representa a dimensão desse conflito entre a terra vivida e a terra intocada. O local onde desde 2004 agricultores(as) caiçaras da região reivindicam o direito ao uso, era ocupado por uma criação de búfalos, e tinha apoio de órgãos de fiscalização ambiental. Analisando o processo administrativo e demais documentos produzidos por órgãos do Estado, principalmente o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, acredita-se que o acampamento por sua opção “política” não é “bem vindo”, e sofre o que chamamos de “racismo ambiental”. Trabalha-se com a hipótese que confrontado por um lado por outra população de bubalinos (fazenda vizinha), e pelo outro, por uma área de proteção ambiental privada, o acampamento preserva melhor do ponto de vista socioambiental e da biodiversidade que os seus vizinhos. Concluímos que a conservação deve ser realizada com a inclusão dos agricultores(as), e não em espaços considerados “santuários”.

Biografia do Autor

Ener Vaneski Filho, Universidade Federal do Paraná

Doutorando em Meio Ambiente e Desenvolvimento na Universidade Federal do Paraná MADE/UFPR. Mestre em Geografia/Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Graduado em Geografia pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória - PR.

Katya Isaguirre Torres, Universidade Federal do Paraná

Doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento junto ao MADE/UFPR. Professora no Departamento de Direito Público da Universidade Federal do Paraná, nos cursos de graduação e pós-graduação. Leciona as disciplinas de direito ambiental e agrário. Coordenadora do grupo de pesquisa e extensão EKOA: Direito, Movimentos Sociais e Natureza. Pesquisadora colaboradora da unidade de Socioeconomia, Ambiente e Desenvolvimento (SEED), do Departamento de Gestão e Ciências do Ambiente da Universidade de Liège, Campus Arlon/BE

Referências

ACSELRAD, H. MELLO, C. C. do A; BEZERRA, G. N. O que é justiça ambiental. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.

ACSELRAD, H. Mediação e negociação de conflitos socioambientais. In: Encontro Temático da 4ª Câmara da Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, 9. Anais... Brasília, 2010.

ALTIERI, M. A. Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa. 3. Ed. Rio de Janeiro: 2012.

BECKER, B. (Coord.). Logística e ordenamento do território: subsídio à elaboração da Política Nacional de Ordenamento do Território – PNOT. Brasília: Ministério da Integração Nacional, 2006.

BORGES. C. Floresta com araucária: vítima recorrente de arranjos imorais. In. Opnião. http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/floresta-com-araucaria-vitima-recorrente-de-arranjos-imorais-9j9wojq2yt2fbbfvig8ac0p5a

BRANDEMBURG, A. Do Rural Tradicional ao Rural Socioambiental. Ambiente & Sociedade Campinas. Volume: XIII, n. 2, p. 417-428, jul.dez. 2010.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Capítulo III: da política agrícola e fundiária e da reforma agrária: Artigo 186. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> , acesso em 26 de setembro de 2016.

COTRARA. Proposta de criação do assentamento agroflorestal José Lutzenberger. Curitiba. 2006.

DIEGUES, Antônio Carlos. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: HUCITEC, 1996.

FACCO. V. A. B. Alternativas aos impérios agroalimentares a partir do campesinato agroecológico: as experiências do acampamento agroflorestal José Lutzenberger (MST-Antonina/PR), 2015.

FOLADORI, G. Una tipologia del pensamiento ambientalista. In: FOLADORI, G.; PIERRI, N. (Eds.). Sustentabilidad? Desacuerdos sobre el desarrollo sustentable. México: Universidad Autônoma de Zacatecas 2005. p. 81-128.

HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. 2 ed. rev. Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 2009

IBAMA/IAP. Área de Proteção de Guaraqueçaba. Relatório Técnico. 2003.

INCRA - Ministério do Desenvolvimento Agrário / Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Laudo Agronômico de Fiscalização — Imóvel:• Fazenda São Rafael, município de Antonina — PR. 2004.

LEAL, C. Relatório. COLIT. Secretária Estadual de Meio Ambiente do Paraná, 2004.

LOERA, Rangel. N. A espiral das ocupações de terra. São Paulo: CERES/Polis, 2006.

MARTÍNEZ ALIER, J. O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de valoração. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2012.

OECO. O que é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural? Disponível em <http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28475-o-que-e-uma-reserva-particular-do-patrimonio-natural-rppn/> Acesso em 15 set. 2017.

PALMEIRA, M. Desmobilização e conflito, relações entre trabalhadores e patrões na agroindústria pernambucana. Revista de Cultura e Política, São Paulo: ano 1 (1), p. 41-68, agosto, 1979.

PLOEG, J. D. Sete teses sobre a agricultura camponesa. In: PETERSEN, P. (org.). Agricultura familiar camponesa na construção do futuro. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2009. p. 17 – 32.

PORTO GONÇALVES, C. W. “Da geografía às geo-grafias: um mundo em busca de novas territorialidades”, em Ceceña, Ana Esther y Sader, Emir (coordinadores) La Guerra Infinita. Hegemonía y terror mundial. Buenos Aires, CLACSO, 2002.

SANTOS, M. Técnica, espaço, tempo. São Paulo: Hucitec, 1997.

SOUZA FILHO, C, F, M. A função social da terra. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2003.

SOUZA FILHO, C, F, M. Terra mercadoria, terra vazia: povos, natureza e patrimônio cultural. Insurgência: Revista de Direitos e Movimentos Sociais, v. 1, p. 57-71, 2015. Disponível em: <http://periodicos.unb.br/index.php/insurgencia/article/view/16774/11912>. Acesso em 15 set. 2017.

STÉDILE, J. P; FERNANDES, B. M. Brava Gente: A trajetória do MST. Percemo Abreu. 2012.

WRM. Movimento Mundial Pelas Florestas Tropicais. Boletim 169. Disponível em< http://wrm.org.uy/pt/artigos-do-boletim-do-wrm/secao1/um-projeto-de-reducao-de-desmatamento-no-parana-brasil-e-a-perseguicao-das-comunidades/>. Acesso em 26 set. 2017.

Publicado

2019-06-09

Como Citar

Filho, E. V., & Torres, K. I. (2019). ESTADO DE INJUSTIÇA E CONFLITO SOCIOAMBIENTAL: O CASO DO ACAMPAMENTO JOSÉ LUTZENBERGER. RAEGA - O Espaço Geográfico Em Análise, 46(2), 88–100. https://doi.org/10.5380/raega.v46i2.58105

Edição

Seção

Artigos