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VERTICALIZAÇÃO E SOCIABILIDADE: AS RELAÇÕES ENTRE MORADORES DE EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS E SUAS FORMAS DE USO E APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO

Viviane Kraieski de Assunção, Zaira da Silva Conceição

Resumo


O processo de verticalização avança para as cidades brasileiras de pequeno e médio porte, modificando as formas de habitação e influenciando as relações entre seus moradores. Este processo é consequência do avanço da economia capitalista e está associado a uma nova simbologia de status social, próprios da cultura de consumo da sociedade moderna contemporânea. Este artigo é resultado de uma pesquisa sobre as relações de sociabilidade e formas de uso e apropriação do espaço de moradores de edifícios residenciais no bairro Comerciário, no município de Criciúma, localizado no sul do estado de Santa Catarina, que vem sofrendo um rápido processo de verticalização nas últimas décadas. A investigação buscou compreender os relacionamentos e práticas que surgem a partir das mudanças nas formas de habitação e vizinhança. A pesquisa, de caráter qualitativo, foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas com trinta moradores do bairro selecionado. A investigação concluiu que a sociabilidade entre moradores de edifícios oscila entre relações superficiais, regidas pela cordialidade e solidariedade, e o individualismo, marcado pelo respeito à privacidade. A praticidade e a segurança dos edifícios, elogiadas pelos sujeitos da pesquisa, são entendidas como características do modo de vida urbano moderno, que inclui a aceleração das atividades rotineiras e a cultura do medo. A pouca utilização dos espaços de uso comum aponta para uma falta de apropriação destes espaços, o que torna possível classificá-los como não-lugares.

Palavras-chave


relações de vizinhança; conflito; não-lugar

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ARTIGO AUTORIZAÇÃO

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/raega.v44i0.47897