Open Journal Systems

O INTERESSE DOS GEÓGRAFOS PELOS SONS: ALINHAMENTO TEÓRICO E METODOLÓGICO PARA ESTUDOS DAS PAISAGENS SONORAS

Lawrence Mayer Malanski

Resumo


A elaboração deste artigo objetivou o alinhamento teórico e metodológico de diferentes autores que contribuem para os estudos das experiências dos espaços e da paisagem sonora. Para tanto, adotou-se a perspectiva humanista da geografia fundamentada, sobretudo, em ideias de Maurice Merleau-Ponty. O método utilizado para sua elaboração foi de revisão narrativa de literatura, o qual não esgotou as fontes de informações e submeteu a interpretação das mesmas à subjetividade do autor. Os resultados revelam a possibilidade do estudo do mundo sonoro a partir de suas experiências individuais, o que perpassa a percepção dos espaços acústicos até a conformação de um mundo vivido. A percepção converte os objetos sonoros em eventos/signos o que, juntamente com a intersubjetividade, resulta na paisagem sonora. Além de signos, esses eventos podem ser compreendidos como sinais, símbolos, ruídos e sons fundamentais, que juntos caracterizam e dão identidades aos lugares. Assim, a paisagem sonora pode ser definida como uma formação mental intencional construída a partir da relação corporal do indivíduo com o mundo sonoro objetivo e com o outro. Ao tratar da experiência espacial, considera-se a escala no nível da percepção dos fenômenos sonoros nos locais, o que favorece o desenvolvimento de diferentes técnicas de coleta de informações em campo, tais como os passeios sonoros, as gravações, a elaboração de mapas sonoros pessoais e a posterior organização de catálogos de sons e de preferências sonoras.


Palavras-chave


Geografia humanista; Fenomenologia; Percepção; Paisagem

Texto completo:

ARTIGO AUTORIZAÇÃO

Referências


ALAMIS, S.; DESJEUX, D.; GARABUAU-MOUSSAOUI, I. Os métodos qualitativos. Petrópolis: Vozes, 2010.

BERNAT, S. Sound in landscape: the main research problems. Dissertations of Cultural Landscape Commission. Lublin, n. 23, p. 89-108, 2014. Disponível em: . Acesso em: 18/03/2016.

BUTTIMER, A. Humboldt, Granö and Geo-poetics of the Altai. Fennia, Helsinki, n. 188, v. 1, p. 11-36, 2010. Disponível em: . Acesso em: 03/08/2015.

CAPEL, H. Geografia humana y ciencias sociales: una perspectiva histórica. Barcelona: Montesinos Editor, 1987.CASTRO, I. E. O problema da escala. In: CASTRO, I. E.; GOMES, P. C. C; CORRÊA, R. L. (orgs.). Geografia: conceitos e temas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.

CERBONE, D. R. Fenomenologia. Petrópolis: Vozes, 2014.CÓRDOBA, M. La existencia encarnada del hombre em cuanto signo. Una aproximación semiótica a la corporeidad. Universidad de Navarra, Navarra, 2012. Disponível em: . Acesso em: 28/12/2015.

CREMASCO, M. V. F. Algumas contribuições de Merleau-Ponty para a psicologia em “Fenomenologia da percepção”. Revista da Abordagem Gestáltica, Goiânia, v. 15, n. 1, p. 51-54, 2009. Disponível em: . Acesso em: 28/12/2015.

DARDEL, É. O homem e a Terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva, 2011.

DREVER, J. Soundwalking: aural excursions into the everyday. In: SAUNDERS, J. (Org.). The ashgate research companion to experimental music. Aldershot: Ashgate, p. 163-192, 2009. Disponível em: . Acesso em 12/11/2015.

________. Topophonophobia: the space and place os acute hearing. In: Hearing Landscape Critically: music, place, and the space of sound. Cambridge, 2015. Disponível em: . Acesso em: 02/03/2016.

FELD, S. Pensando na gravação de paisagens sonoras. Música e Cultura, Rio de Janeiro, vol. 9, n. 1, 2014. Disponível em: . Acesso em: 08/11/2015.

FORTUNA, C. Imagens da cidade: sonoridades e ambientes sociais urbanos. Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, n. 51, p. 21-41, 1998. Disponível em: . Acesso em: 04/012/2015.GASPAR, J. O retorno da paisagem à geografia. Finisterra, Lisboa, n. 72, p. 83-99, 2001. Disponível em: . Acesso em: 03/08/2015.

GOODEY, B.; GOLD, J. Geografia do comportamento e da percepção. Departamento de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, edição especial n. 3, p. 7-21, 1986.

HOLMES, D. Soundscapes: Immersing yourself into the acoustic environment. Disponível em: . Acesso em: 19/09/2016.

HUMBOLDT, A. Views of nature: or contemplation on the sublime phenomena of creation. Londres: Harrisonand Son, 1850.I

FONT, J. N. El paisatge sonor de la Garrotxa. Revista de Girona, Girona, n. 111, p. 96-102, 1985. Disponível em: . Acesso em: 10/08/2015.KATO, K. Soundscape, cultural landscape and connectivity. Sites, Hamilton, v. 6, n. 2, p. 80-91, 2009. Disponível em: . Acesso em: 04/11/2015.

KRAUSE, B. A grande orquestra da natureza: descobrindo as origens da música no mundo selvagem. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

LINKOLA, H. Broken landscape –J. G. Granö’slandscape science from the standpoint of past and present landscape research. The permanent European Conference for the Study of the Rural Landscape. Berlim, 2006. Disponível em: . Acesso em: 03/08/2015.

LOWENTHAL, D. El pasado es umpaís extranõ. Barcelona: Editores Akal, 1998.

________. En busca de los sonidos perdidos: ¿Se puede recuperar el paisaje sonoro de nuestros antepasados?. El Correo, Paris, p. 15-17, nov. 1976. Disponível em: . Acesso em: 26/08/2015.

LYNCH, K. ¿De qué tiempo es este lugar?. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1975.

MCCARTNEY, A.; PAQUETTE, D. Walking, listening, speaking: the soundwalking interactions project. In: THIBAUD, J; SIRET, D. Ambiances in action / Ambiances em acte(s) -International Congress on Ambiances, Montreal, 2012. International Ambiances Network, p.189-194. Disponível em: . Acesso em: 12/11/2015.

MELLO, J B. F. O triunfo do lugar sobre o espaço. In: MARANDOLA, E.; OLIVEIRA, L. (orgs.). Qual o espaço do lugar? São Paulo: Perspectiva, p. 33-68, 2014.

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.

POCOCK, D. Sound and the geographer. Geography, Sheffield, n. 3, v. 74, p. 193-200, 1989. Disponível em: . Acesso em: 26 ago. 2015.

PORTEOUS, J. D.; MASTIN, J. Soundscape. Journal of Architectural and Planning Research, Chicago, n. 3, v. 2, p. 169-186, 1985. Disponível em: < http://goo.gl/ia1s0U>. Acesso em: 26/08/2015.

RELPH, E. Reflexões sobre a emergência, aspectos e essência de lugar. In: MARANDOLA, E.; OLIVEIRA, L. (orgs.). Qual o espaço do lugar? São Paulo: Perspectiva, p. 17-32, 2014.SALGUEIRO, T. B. Paisagem e geografia. Finisterra, Lisboa, n. 72. 2001. p. 37-53. Disponível em: . Acesso em: 03/08/2015.

SCHAEFFER, P. Tratado de los objetos musicales. Madri: Alianza Editorial, 2003.

SCHAFER, M. A afinação do mundo: uma exploração pioneira pela história passada e pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem sonora. São Paulo: Editora Unesp, 2011

SEAMON, D. Geography of the lifeworld: movement, rest and encounter. Londres: Croom Helm, 1979.SEEMANN, J. Cartografia e cultura: abordagens para a geografia cultural. In: ROSENDAHL, Z; CORREA, R. L. (Org.). Temas e caminhos da geografia cultural. Rio de Janeiro: Editora da UERJ, p 115-156, 2010.

SOKOLOWSKI, R. Introdução à fenomenologia. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

TORRES, M. A.; KOZEL, S.. Le paysage sonore de L’île des Valadares: perception et mémoire dans la construction de l’espace. Géographie et cultures, Paris, n. 78, p. 145-168, 2011. Disponível em: . Acesso em: 05/11/2015.

TUAN, Y. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Londrina: Eduel, 2013.

________. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Londrina: Eduel, 2012.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/raega.v40i0.46154