Open Journal Systems

CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE PAISAGEM

Liz Abad MAXIMIANO

Resumo


A noção de paisagem acompanha a existência humana desde o início, uma vez que a sobrevivência dos seres humanos sempre dependeu de sua relação com o meio. Entretanto, a formulação de um conceito de paisagem ocorreu ao longo de muito tempo, começando a se manifestar mais claramente a partir das observações de pintores, artistas e poetas, tanto do Oriente quanto no Ocidente. Na Antigüidade o ambiente fora do controle humano era olhado com desconfiança e entendido como elemento hostil, daí serem construídos jardins fechados para lazer, contemplação ou plantio de algumas espécies. No Ocidente, a partir de Humboldt, iniciam estudos mais sistemáticos que levariam à compreensão de paisagem como resultante de um complexo de interações entre elementos naturais e humanos. Contudo, ainda haveria discussões sobre o conceito e o método de abordagem da paisagem, passando por ênfases nos aspectos geomorfológicos, biológico ou ocupação humana de um espaço. Em meio a tendências à especialização da década de 60, Bertrand, geógrafo francês, descartou que paisagem fosse uma simples junção de elementos geográficos; antes definiu-a como combinação dinâmica, instável, dos elementos físicos, biológicos e antrópicos. Na Geografia ocidental contemporânea paisagem é entendida como produto visual de interações entre elementos naturais e sociais que, por ocupar um espaço, pode ser cartografada em escala macro ou de detalhe, e classificada de acordo com um método ou elemento que a compõe. Paisagem não é o mesmo que espaço, mas parte dele; algo como um parâmetro ou medida multidimensional de análise espacial.

Considerations about landscape concept

Abstract

Conceptions about landscape come together in human life, since mankinds existence has always depended on his relationship with nature. However, the expression of a landscape concept took some time, and its first concrete manifestation came through arts, both in Eastern and Western civilization. In ancient times, an environment out of human control was seen as a hostile element, so, there were closed gardens, built to enjoy plants, birds and leisure time. In the West, ideas and systematic studies started with Humboldt, who considered landscape to be a result of complex interactions between natural and human elements. Discussions would continue about the concept and evolving method for landscape studies, with an emphasis on geomorphology, or on vegetation, or on land use, or another aspect. There was a trend toward specialisation in the 60s research, and Bertrand defined landscape as a dynamic and unstable combination of physical, biological and anthropic factors. In contemporary western geography, landscape is a visual product of interaction between natural and social elements. As landscape occupies space, it can be mapped by different scales and classified according to a particular method or an element of its totality. Landscape is not the same as space, but part of it; something like a parameter or multidimensional measure of spatial analysis.


Texto completo:

PDF

Referências


BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: esboçometodológico.Cadernos de Ciências da Terra, São Paulo:Instituto de Geografia da USP, n. 13, 1972.

BURLE MARX, R. Ecologia e paisagismo. Inter Facies: Escri-tos e Documentos. São José do Rio Preto: Unesp, 1981.

CASTILLLO, R. A imagem de satélite como estatística dapaisagem: crítica a uma concepção reducionista da geografia.Ciência Geográfica, Bauru VIII, v. 1, n. 21, jan./abr. 2002.

DANSEREAU, P. Introdução à biogeografia. Separata de:Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro: InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística, Conselho Nacional deGeografia, n. 1, ano 11, 1949.

DANTAS, M. E.; COELHO NETO, A. L. O impacto do ciclocafeeiro na evolução da paisagem geomorfológica do médiovale do rio Paraíba do Sul. Cadernos de Geociências, Rio deJaneiro: IBGE, n. 15, jul./set. 1995.

FARINA, A. Principles and methods in landscape ecology.London: Chapman and Hall, 1998.

FORMAN, R. T. T. Land mosaics: the ecology of landscapesand regions. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.

JELLYCOE, G.; JELLYCOE, S. El paisaje del hombre: laconformación del entorno desde la prehistoria hasta nuestrosdías. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1995.

KOTLER, U. Paisagem - uma definição ambígua. C.J.Arquitetura: Revista de arquitetura, planejamento econstrução. Rio de Janeiro: FC Editora, n. 12, ano 3, 1976.

LEITE, M. Â. F. P. Destruição ou desconstrução: questões dapaisagem e tendências de regionalização. São Paulo: Hucitec,1994.

LEMOS, M. do S. da S. Cambissolos desenvolvidos decalcário da Chapada do Apodi (RN): caracterização, uso emanejo. Lavras, 1989. Dissertação (Mestrado) − Escola Su-perior de Agricultura de Lavras.

LIMA, R. N.; CAVALHEIRO, F.; SANTOS, J. E. Identificaçãodos biótopos e dinâmica da paisagem na bacia hidrográfica dorio Una (Parque Estadual Paulo Cesar Vinha). Guarapari ES.In: CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSER-VAÇÃO, 2., 1997, Curitiba. Anais... Curitiba: IAP, Unilivre, 1997.

MAXIMIANO, L. A. Classificação de paisagens no norte deCampo Largo − Paraná,segundo sua condição socioambiental. Curitiba, 2002. Dissertação (Mestrado) - Uni-versidade Federal do Paraná.

PASSOS, E. Relação entre vertente e solos em Umbará.Curitiba, 1987. Dissertação (Mestrado em Agronomia) − Uni-versidade Federal do Paraná.

ROSS, J. L. S. Relevo brasileiro: uma nova proposta declassificação.Revista do Departamento de Geografia da USP,São Paulo, n. 4, 1985.

_____.Geomorfologia: ambiente e planejamento. São Pau-lo: Contexto, 1990. Coleção Repensando a Geografia.

ROUGERIE, G.; BEROUTCHACHVILI, N. Geosystèmes etpaysages: bilan e méthodes. Paris: Armand Colin Éditeur,1991.

SAUER, C. O. A morfologia da paisagem. In: CORRÊA, R. L.;ROSENDAHL, Z. (Org.). Paisagem, tempo e cultura. Rio deJaneiro: EDUERJ, 1998.

SOTCHAVA, V. B. Por uma teoria de classificação degeossistemas de vida terrestre. São Paulo: Instituto deGeografia da USP, 1978.




DOI: http://dx.doi.org/10.5380/raega.v8i0.3391