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ÁGUAS PASSADAS: SOCIEDADE E NATUREZA NO RIO DE JANEIRO OITOCENTISTA

Diogo de Carvalho CABRAL

Resumo


O artigo discute as relações entre sociedade e natureza, na cidade do Rio de Janeiro, no século XIX. Nossa proposta metodológica é construir múltiplas narrativas que se desdobram e conectam a partir da observação das relações diretas e indiretas dos humanos com uma das substâncias mais importantes à sua reprodução biológica e social: a água. Assim construída, a trama entrelaça, de maneira complexa e contraditória, as propriedades, estruturas e processos do mundo biofísico, de um lado, e as ações humanas, nos domínios material, simbólico e ideológico. Em seu conjunto articulado, essas narrativas oferecemnos uma leitura da cidade e suas transformações. Esse tipo de método geohistoriográfico apresenta a vantagem de diluir as divisões apriorísticas,monolíticas e estáticas entre o social e o natural em favor de uma leitura dialética que parte do movimento e da transgressão contínuas entre aquelas fronteiras.

Palavras-chave


Metabolismo da água; Relações sociedade-natureza; Rio de Janeiro; século XIX; História Ambiental.

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/raega.v23i0.24836