O SACERDOTE DE ÉRIS: A TRAJETÓRIA DE EMIR CALLUF NA DEFESA DA ORDEM DURANTE A DITADURA CIVIL-MILITAR (1964-1985)

Resumo

O presente artigo analisa a trajetória intelectual de Emir Calluf (1929-1993), padre e psicólogo curitibano que se destacou como figura pública durante a Ditadura Civil-Militar (1964-1985). Propomos a metáfora do “Sacerdote de Éris” para caracterizar seu estilo discursivo polêmico, combativo e orientado à defesa da ordem, da moral e dos bons costumes promovidos pelo regime. Partindo de sua origem em uma família socialmente influente e integrada às elites políticas e religiosas, o estudo mostra como seu longo processo de formação lhe proporcionou amplo capital cultural, convertido em autoridade intelectual e religiosa. Essa base legitimou sua atuação em diversos espaços: imprensa, televisão, livros e atividades pastorais, nos quais se apresentou como orientador moral, sobretudo da juventude. O texto destaca sua cruzada moral contra o cinema nacional, apontado como instrumento de degradação dos costumes e ameaça “subversiva” ao país. Seu discurso, que combinava argumentos religiosos, psicológicos e patrióticos, defendia abertamente a censura e o controle cultural, alinhando-se às diretrizes do governo militar. Conclui-se que seu discurso, embora marcado por aparentes polêmicas, não confrontava o regime, mas o reforçava, ajudando a construir a ilusão de debate público em um contexto autoritário. Ao revisitar a atuação de Calluf, o artigo evidencia o papel de intelectuais conservadores na sustentação simbólica da ditadura e contribui para a reflexão sobre os imaginários morais que persistem na história política brasileira.