Reabertura de submissões para dossiê: A Segunda Guerra Mundial, o Holocausto e a questão do colonialismo
A pergunta que Enzo Traverso colocou há alguns anos permanece sem uma resposta satisfatória no campo de estudos da Segunda Guerra e do Holocausto: estamos vivenciando uma nova “disputa dos historiadores”? (referência à Historikerstreit dos anos 1980). O debate sobre a natureza da guerra ultrapassou, ao longo das décadas, o campo dos estudos militares e nos proporcionou entendimento por diferentes áreas, que foram desde a micropolítica aos estudos sobre genocídio e a natureza do mal. Contudo, essas perspectivas multidirecionais não se conectavam, e cada uma explicava os horrores da guerra de forma independente. Uma ausência significativa passou a ser observada na historiografia alemã, especialmente na chamada “Escola de Munique” (Institut für Zeitgeschichte – IfZ) e em parte da historiografia norte-americana, que foi o colonialismo. Tanto na primeira geração de estudiosos sobre a Segunda Guerra e o Holocausto, como Saul Friedlander, Ernst Nolte, Martin Bozsat, Hans Mommsen, Israel Gutman, quanto na geração posterior, com Goetz Aly, Omer Bartov, Peter Longerich, Martin Gilbert, Richard Evans, o colonialismo nunca ocupou um papel de destaque explicativo na natureza do conflito e da escalada brutal de violência que proporcionou o genocídio. Naturalmente, alguns pontos fora da curva, como o singular trabalho de Arno Mayer e um pouco mais recentemente Mark Mazower, trouxeram a dimensão “imperial” como foco de discussão para explicação desses fenômenos. É importante recordar que Hannah Arendt havia apontado o potencial de gerar o vínculo entre a violência estatal e o nacionalismo, mostrando como esse cenário poderia gerar os mais terríveis horrores. Entretanto, essa fala foi apagada ao longo do tempo, para dar destaque à questão do antissemitismo em seu texto e, em seguida, ao constructo teórico do totalitarismo. Hoje, com o que se pode chamar de “giro” decolonial, a própria leitura de sua obra, especialmente na Alemanha e nos EUA, tem ganhado cada vez mais espaço por tratar dos massacres oriundos da exploração colonial. É nesse sentido que vemos como urgente a ampliação desse debate, que pouco ou quase não chegou ao sul global. A proposta deste Dossiê é receber textos de perspectivas multidirecionais que abordem o tema da Segunda Guerra e do Holocausto, levando em consideração a perspectiva do nazismo como uma manifestação do colonialismo. Nossa intenção é buscar novas perspectivas e abordagens que mostrem como os estudos sobre o racismo e a questão colonial impactaram os estudos sobre a Guerra e o Holocausto.
Prazo para envio dos textos: 31/01/2026
