Litoral paranaense: um caminho para a conservação da Mata Atlântica X estradas para o progresso
DOI:
https://doi.org/10.5380/guaju.v10i0.89618Palavras-chave:
Litoral do Paraná, Desenvolvimento territorial sustentável, estradas, empreendimentos lineares.Resumo
O Litoral do Paraná é uma região com características únicas e de extrema importância sociocultural, histórica, ambiental e econômica. As principais atividades econômicas realizadas na região são atividades portuárias, pesqueiras, praiano-turísticas e de conservação da natureza. Além disso a região faz parte da chamada “Grande Reserva da Mata Atlântica”, o maior fragmento contínuo de Mata Atlântica existente, correspondendo a cerca de 10% de toda a área remanescente do bioma. Diversos pesquisadores e instituições tem defendido seu uso como destino para o turismo de natureza, o que tem potencial para garantir não só a conservação da biodiversidade, mas também a prevalência de culturas tradicionais na região. Se por um lado existe grande reconhecimento e apelo para a conservação do patrimônio natural e histórico-cultural do litoral, por outro tem se observado um aumento progressivo de esforços de entidades privadas e públicas pela aprovação de complexos portuários e industriais, bem como infraestruturas diversas para a viabilização destes complexos, como rodovias e ferrovias, principalmente nas últimas duas décadas. Assim como em diversas outras áreas de economia emergente no globo, a abertura de estradas tem sido vista por alguns setores da sociedade como uma das maiores alternativas para fomentar o desenvolvimento econômico e reduzir a pobreza na região. Apesar de serem reconhecidas como ferramenta de desenvolvimento econômico e social, nem todas as estradas cumprem esse papel. O planejamento e construção de uma estrada deve ser muito bem avaliado pois, uma vez construída, uma rodovia se torna um elemento permanente na paisagem. O desafio atual para a região é buscar o equilíbrio entre as diversas reinvindicações privadas e públicas de crescimento industrial e portuário e a proteção do patrimônio natural da Mata Atlântica e seus serviços ecossistêmicos associados. A construção de novas rodovias, incluindo a duplicação de rodovias já existentes, deve ser prioritariamente planejada para as regiões para áreas onde a paisagem natural já se encontra fragmentada e com potencial para a melhoria do desenvolvimento agrícola, onde a instalação e ampliação dessas infraestruturas tragam benefícios econômicos e sociais sem maiores impactos ao meio ambiente. Dessa forma, áreas com baixa densidade de estradas, como é o caso do Litoral do Paraná, ou áreas de baixo tráfego devem ser privadas da construção de novas rodovias, uma vez que tais construções podem afetar os serviços ecossistêmicos e a viabilidade populacional de várias espécies. Quando pensamos na expansão da infraestrutura viária no Litoral do Paraná, devemos considerar que a abertura de novas estradas em uma área com alto valor socioambiental requer amplas e específicas análises e providências estratégicas sustentáveis, com intencionais esforços, sempre que possível para evitá-la. A conservação ambiental e o desenvolvimento econômico devem ser movidos pela responsabilidade ética e moral de reduzir e reverter os impactos antrópicos e salvaguardar a biodiversidade, as pessoas e o legado histórico de uma área. É essencial que o processo de proposição, licenciamento ambiental e construção de qualquer empreendimento na área do litoral do Paraná levem em consideração além dos interesses empresariais e do estado fatores como as características do bioma e da população local, com especial atenção para povos e comunidades tradicionais.
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