Uso da flora em assentamento agroextrativista do litoral de Sergipe, Brasil
Resumo
Este trabalho objetivou analisar o conhecimento que os moradores do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) São Sebastião possuem dos recursos florísticos do local, por meio das ferramentas utilizadas na etnobotânica. A área de estudo encontra-se no domínio de restinga, na zona rural da cidade de Pirambu, litoral norte de Sergipe, onde estão assentadas 28 famílias que desenvolvem atividades econômicas diretamente relacionadas aos recursos naturais, fato que garantiu o enquadramento do assentamento na modalidade diferenciada denominada “agroextrativista”, a saber: extrativismo dos frutos da mangabeira (Hancornia speciosa Gomes), artesanato com palha de ouricurizeiro (Syagrus coronata Martius Beccari) e agricultura familiar. Foram realizadas 39 entrevistas com auxílio de formulário semiestruturado. Os entrevistados citaram 162 nomes populares de plantas úteis, que resultaram na coleta e identificação de 90 espécies classificadas em 46 famílias botânicas, sendo as mais representativas Leguminosae (11), Myrtaceae (6) e Arecaceae (6), depositadas no Herbário da Universidade Federal de Sergipe (ASE). As categorias de uso com maior número de citações foram Medicinal (45) e Alimentícia (44). A maioria das espécies é nativa do Brasil (65,9%) e os três maiores valores de uso (VU) estiveram associados a elas, atribuídos para as espécies ouricurizeiro (S. coronata, VU = 1,38), macaxeira/mandioca (Manihot esculenta, VU = 0,89) e mangabeira (H. speciosa, VU = 0,87), confirmando que desempenham um importante papel para a subsistência e complementação da renda familiar. Os resultados da pesquisa demonstram que o potencial extrativista, objetivo da modalidade diferenciada de assentamento, ainda pode ser melhor explorado através da valorização do conhecimento dos assentados.
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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/guaju.v4i1.56407
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