CONHECIMENTOS DE DISCENTES DE ENFERMAGEM SOBRE VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
DOI:
https://doi.org/10.5380/ce.v17i4.30392Palavras-chave:
Violência sexual, Currículo, Educação em enfermagem, Enfermagem pediátrica, AdolescenteResumo
A profissão da enfermagem, como fenômeno histórico, é influenciada pelas variáveis sociais, políticas e econômicas de cada época, estando sujeita às transformações em sua prática no decorrer do tempo. Diante das diversas transformações sociais que vêm ocorrendo ao longo dos últimos anos no Brasil, do acelerado processo de modernização científica e tecnológica que estamos sujeitos, somos impulsionados a protagonizar novas formas de conhecimento. Tais mudanças exigem posicionamento na área de formação profissional, que é desafiada a dar respostas, muitas vezes, às questões que emergem no campo social. Dentre os problemas emergentes no âmbito da saúde que tem exigido modificações na atuação profissional, focaliza-se, neste trabalho, a violência sexual contra crianças e adolescentes. Essa questão foi considerada, por muito tempo, apenas um problema social e não de saúde pública e, por isso, pouco tratada nos currículos dos cursos de graduação de Enfermagem. Nas últimas décadas, a violência ganhou maior visibilidade e se tornou um problema por diversos setores, dentre eles o da saúde. Objetivou-se por meio de deste estudo: a) analisar se o projeto pedagógico curricular da graduação de Enfermagem possibilita a formação do aluno para lidar com a violência sexual contra crianças e adolescentes na prática profissional; b) investigar os conhecimentos dos discentes do último semestre do curso de graduação de Enfermagem de uma instituição de ensino superior pública a respeito da violência sexual contra crianças e adolescentes. Tratou-se de uma pesquisa de campo, descritiva, exploratória, desenvolvida a partir de uma abordagem qualitativa. Selecionamos como cenário do estudo uma escola de Enfermagem que representa excelência na formação de enfermeiros no Brasil e que mantém seu currículo em constante discussão e transformação, de acordo com as demandas em saúde. Esperava-se encontrar no projeto pedagógico curricular da instituição traços de mudanças na formação profissional do enfermeiro para lidar com a violência sexual contra crianças e adolescentes. Para a efetivação da pesquisa, inicialmente, foi solicitada à direção do curso de graduação uma autorização, a qual foi concedida. O estudo também foi autorizado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade, sob o protocolo 0779/10. O grupo de sujeitos da pesquisa foi composto por dois docentes do curso de graduação em Enfermagem que ministravam aulas nas disciplinas do Departamento de Pediatria e 26 discentes que estavam cursando o último semestre da graduação na instituição selecionada, no ano de 2010. Foram critérios de inclusão: alunos do último semestre da graduação em Enfermagem pesquisado e professores enfermeiros ministrantes de aulas sobre a temática da violência contra crianças e adolescentes em disciplinas do Departamento de Pediatria da escola de enfermagem. A produção dos dados consistiu de três etapas: análise do projeto pedagógico curricular do curso de graduação em Enfermagem da instituição participante do estudo; realização de entrevista com base no roteiro de perguntas discursivas aos professores que trabalham com a temática da violência contra crianças e adolescentes em disciplinas do Departamento de Pediatria; aplicação de entrevista aos alunos utilizando-se de um roteiro sobre conhecimentos e crenças acerca da violência sexual contra crianças e adolescentes. A coleta de dados foi realizada entre os meses de agosto e outubro do ano de 2010. Os participantes foram entrevistados de maneira confidencial e individual respeitando-se os preceitos éticos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Adotou-se a técnica de ‘entrevista focalizada’ com roteiros constituídos de perguntas discursivas. O tratamento dos dados foi realizado com base na Análise de Conteúdo e foram utilizados procedimentos sistemáticos e objetivos para descrever o conteúdo das mensagens, permitindo a produção de conhecimento a partir delas. Após a análise do projeto pedagógico curricular vigente no período da pesquisa, constatou-se que nenhuma das disciplinas da matriz curricular possuía em seu conteúdo programático, especificamente, o tema da violência sexual contra crianças e adolescentes. Apesar dessa temática não constar na matriz curricular, foram entrevistados os participantes da pesquisa a fim de verificar se em algum momento era abordado o assunto. A partir das entrevistas foram identificadas fragilidades na formação do enfermeiro, a saber: o déficit no tratamento do tema da violência e suas diversas expressões na graduação e a falta de estágios e práticas de campo na área de violência sexual. Desse modo, o objetivo de formar os alunos para lidar com problemas de saúde que emergem no campo social, como a violência sexual, proposto pela escola de enfermagem, não foi totalmente alcançado no ano de 2010. Os resultados obtidos a partir das entrevistas dos alunos representam os aspectos mais significativos em relação aos conhecimentos dos mesmos sobre o tema e sobre a formação do enfermeiro para lidar com esta questão. Não foram identificadas evidências de que os alunos possuíam formação científica para abordar sobre a temática da violência, contudo, percebeu-se que eles tinham familiaridade com o assunto. Muitos discentes atribuíram a outros profissionais o papel de lidar com a violência sexual contra crianças e adolescentes, principalmente, ao psicólogo e assistente social. Em nenhuma das respostas os participantes citaram como papel do enfermeiro notificar os casos suspeitos ou confirmados de violência sexual contra crianças ou adolescentes e demonstraram que desconheciam os procedimentos para a notificação, revelando uma situação preocupante que repercute no enfrentamento e manejo desse problema. Evidenciou-se a necessidade de delimitação do papel do enfermeiro diante da violência, por entidades representativas e pelo órgão que normatiza e regulamenta o exercício profissional, o Conselho Federal de Enfermagem, e de implantação de disciplinas e estágios na graduação que favoreçam a formação profissional na área. Diante dos resultados, não se pode negar que, atualmente, exista a necessidade de adequar o currículo do curso de Enfermagem incluindo o tema da violência.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
A Cogitare Enfermagem se reserva no direito de efetuar, no artigo publicado, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores.
O estudo publicado é de inteira responsabilidade do(s) autor(es), cabendo exclusivamente à Cogitare Enfermagem a avaliação do manuscrito, na qualidade de veículo de publicação científica. Não será permitido acréscimo ou mudança de autoria durante a etapa de avaliação ou após aceite do texto submetido.
A Cogitare Enfermagem não se responsabiliza por eventuais violações à Lei nº 9.610/1998, Lei Brasileira de Direitos Autorais.
A Cogitare Enfermagem permite que o autor detenha o copyright dos artigos aceitos para publicação, sem restrições.
Propriedade Intelectual e Termos de uso
Responsabilidade do Autor:
Quanto a autoria, os autores necessitam especificar, na página de identificação, qual o tipo de contribuição individual que exerceu durante a elaboração do artigo. Conforme os critérios estabelecidos pelo ICMJE disponível em: http://www.icmje.org/recommendations/browse/roles-and-responsibilities/defining-the-role-of-authors-and-contributors.html .
É importante destacar que são considerados quatro critérios mínimos de autoria, e todos aqueles designados como autores devem atendê-los, são eles:
- Contribuições substanciais para a concepção ou desenho do estudo; ou a aquisição, análise ou interpretação de dados do estudo;
- Elaboração e revisão crítica do conteúdo intelectual do estudo;
- Aprovação da versão final do estudo a ser publicado;
- Responsável por todos os aspectos do estudo, assegurando as questões de precisão ou integridade de qualquer parte do estudo.
Não será permitido acréscimo ou mudança de autoria durante a etapa de avaliação ou após aceite do texto submetido.
Os artigos publicados estarão licenciados sob a licença Creative Commons CC BY 4.0 Creative Commons — Attribution 4.0 International — CC BY 4.0 – A atribuição adotada pela Cogitare Enfermagem é permitida:
- Compartilhar – copiar e redistribuir o material em qualquer mídia ou formato;
- Adaptar – remixar, transformar e construir sobre o material para qualquer finalidade, mesmo comercialmente;
- Atribuição — Você deve atribuir o devido crédito, fornecer um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações. Você pode fazê-lo de qualquer forma razoável, mas não de uma forma que sugira que o licenciante o apoia ou aprova o seu uso;
- Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.
Responsabilidade do Site:
A Cogitare Enfermagem encoraja os Autores a arquivar seus manuscritos aceitos, publicando-os em blogs pessoais, repositórios institucionais e mídias sociais acadêmicas, bem como postando-os em suas mídias sociais pessoais, desde que seja incluída a citação completa à versão do website da revista.”