Stasis e Dívida na Córcira Antiga

Conexões e Comparações em um Estudo de Caso

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/clio.v14i2.96564

Palavras-chave:

conexão, Córcira, escravidão antiga, Mediterrâneo, stasis, Tucídides

Resumo

O artigo tem como tema a stasis ocorrida na ilha de Córcira em 428-427 AEC, conforme registrada por Tucídides, investigando por que os escravizados se uniram ao demos contra os oligarcas. O estudo busca estabelecer um diálogo entre História Antiga e perspectivas globais por meio de conexões e comparações. Examina como a Córcira se inseria nas redes de redistribuição do Mediterrâneo por meio de sua localização geográfica e comparações com dinâmicas similares. A seguir, aborda a questão da dívida como um processo de longa duração, que encontrou um quadro propício para se desenvolver no mundo grego comparado ao Antigo Oriente Próximo. O artigo busca compreender a servidão ou escravidão por dívidas no período clássico, articulando-a com o processo de endividamento e sua relação com a escravidão “genuína”. Argumenta-se que a participação de Córcira nas redes de redistribuição e o endividamento das populações foram determinantes para explicar a stasis da ilha e o seu papel na obra de Tucídides. Sugere-se uma possível unidade entre demos e escravizados, unidos por interesses compartilhados em face do poder oligárquico. Apesar das incertezas, o trabalho desafia concepções estabelecidas na historiografia ao abrir novas perspectivas sobre a complexa dinâmica social e política do mundo antigo.

Biografia do Autor

Bruno Santrovitsch da Silva, Universidade Federal da Paraíba

Professor-historiador e mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Paraíba. É especialista em Metodologia de Ensino de História, membro do corpo editorial da Revista Saeculum (UFPB) e licenciado em História pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG).

Atua principalmente na área de História Antiga com ênfase em Historiografia Grega.

Referências

ARISTÓTELES. Política. Tradução e notas de António Campelo Amaral e Carlos de Carvalho Gomes. Lisboa, Portugal: Editora Vega, 1998.

ARISTÓTELES. República dos Atenienses. Tradução, introdução e notas de Denis Correa. 1. ed. São Paulo: Madamu, 2023.

BÍBLIA. Bíblia de Jerusalém. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.

ESTRABO. The Geography of Strabo. Tradução de Duane W. Roller. 1st ed. 1st rep. United Kingdom: Cambridge University Press, 2014.

HERÓDOTO. The landmark Herodotus: the Histories. Tradução por Andrea L. Purvis. New York: Anchor Books, 2007.

TUCÍDIDES. The Landmark Thucydides: a comprehensive guide to the Peloponnesian War. Tradução de Richard Cawley. 1. ed. New York: Free Press, 2008.

TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Tradução de Mario da Gama Kury. 3. ed. Brasília: Editora da Unb, 1987. Disponível em: https://funag.gov.br/loja/download/0041-historia_da_guerra_do_peloponeso.pdf. Acesso em 4 de jul. de 2024.

XENOFONTE. The Landmark Xenophon’s Hellenika: a new translation. Tradução de John Marincola. 1. ed. New York: Anchor Books, 2009.

ALLISON, G. T. A caminho da guerra: Os Estados Unidos e a China conseguirão escapar da armadilha de Tucídides?. 1. ed. São Paulo: Intrínseca, 2020.

BÖRM, H. Civil Wars in Greek and Roman Antiquity: Contextualizing Disintegration and Reintegration. In: BÖRM, H.; MATTHEIS, M.; WIENAND, J. (ed.). Civil War in Ancient Greece and Rome: Contexts of Disintegration and Reintegration. Stuttgart, Alemanha: Fraz Steiner Verlag, 2016.

BLOK, J.; KRUL, J. Debt and its aftermath: the Near Eastern background to Solon's seisachtheia. Hesperia: The Journal of the American School of Classical Studies at Athens, v. 86, n. 4, p. 607-643, 2017.

BRUCE, I. A. F. The Corcyraean Civil War of 427 BC. Phoenix, v. 25, n. 2, p. 108-117, 1971.

CONRAD, S. O que é história global. Tradução de Teresa Furtado e Bernardo Cruz. 1. ed. Lisboa: Edições 70, 2019.

CORREA, D. The (not so violent) staseis and metabolai in the Aristotelian Athenaion Politeia. Crises (Staseis) and Changes (Metabolai): Athenian Democracy in the Making, v. 239, p. 25, 2022.

DETIENNE, M. Comparar o Incomparável. Tradução de Ivo Storniolo. 1. ed. Aparecida, SP: Idéias e Letras, 2004.

FINLEY, M. A servidão por dívida e o problema da escravidão. In: FINLEY, M (org.). Economia e Sociedade na Grécia Antiga. Tradução de Marylene Pinto Michael. 2. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013, p. 170-188.

FINLEY, M. Escravidão antiga e ideologia moderna. Tradução de Norberto Luiz Guarinello. 1. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1991.

FRANCISCO, G. da S; MORALES, F. A. Desvelando o atenocentrismo. Revista de Cultura e Extensão USP, v. 14, p. 67-79, 2016.

FRAZIER, F. Quelques remarques autour des antonymes de dèmos chez Thucydide. Ktema, v. 28, n. 1, p. 89-104, 2003.

GOMME, A. W. A forgotten factor of Greek naval strategy. The Journal of Hellenic Studies, v. 53, n. 1, p. 16-24, 1933.

GRAEBER, D. Debt: the first five thousand years. Nova Iorque: Melville House Publishing, 2011.

GUARINELLO, N. L. História Antiga. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2013.

GUARINELLO, N. L. Uma morfologia da História: as formas da História Antiga. Politeia-História e Sociedade, v. 3, n. 1, 2003.

HARRIS, E. M. Did Solon abolish debt-bondage? The Classical Quarterly, v. 52, n. 2, p. 415-430, 2002.

HORDEN, P.; PURCELL, N. The Corrupting Sea: A Study of Mediterranean History. Malden, MA: Wiley-Blackwell, 2000.

HORNBLOWER, S. A Commentary on Thucydides: Volume I: Books I-III. 1. ed. 1. reimp. Oxford, England: Oxford University Press, 1991.

HUDSON, M. … and forgive them their debts: Lending, Foreclosure and Redemption from Bronze Age Finance to the Jubilee Year. Dresden: Islet Verlag, 2018.

HUDSON, M. The Collapse of Antiquity: Greece and Rome as Civilization’s Oligarchic Turning Point. Counter Punch, 2023.

KRISTENSEN, K. R. Gortynian Debt Bondage. Some New Considerations on IC IV 41 IV-VII, 47 and 72 I. 56-II. 2, X. 25-32. Zeitschrift für Papyrologie und Epigraphik, p. 73-79, 2004.

LIVERANI, M. Antigo Oriente: História, Sociedade e Economia. Tradução de Ivan Esperança Rocha, 1. ed. São Paulo: Edusp, 2023.

LORAUX, N. The Divided City: on memory and forgetting in Ancient Athens. New York: Zone Books, 2006.

MARX, K. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da economia política. Tradução de Mario Duayer e Nélio Schneider. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2011.

MIŚKIEWICZ, R. Stasis in Corcyra: who was fighting there? Classica Cracoviensia, n. 23, p. 55-75, 2020.

MORALES, F. A.; SILVA, U. G. da. História Antiga e História Global: afluentes e confluências. Revista Brasileira de História, v. 40, n. 83, p. 125-150, 2020.

MUNN, M. L. Z. Corinthian trade with the punic west in the Classical period. Corinth: Results of Excavations Conducted by the American School of Classical Studies at Athens, p. 195-217, 2003.

STE. CROIX, G. E. M. de. The Origins of the Peloponnesian War. London, England: Duckworth, 1972.

STE. CROIX, G. E. M. de. The Class Struggle in the Ancient Greek World: from the Archaic Age to the Arab Conquests. Ithaca, New York: Cornell University Press, 1981.

VLASSOPOULOS, K. Free spaces: identity, experience and democracy in classical Athens. The Classical Quarterly, v. 57, n. 1, p. 33-52, 2007a.

VLASSOPOULOS, K. Unthinking the Greek Polis: Ancient Greek History beyond Eurocentrism. Cambridge: Cambridge University Press, 2007b.

VLASSOPOULOS, K. Slavery, freedom and citizenship in classical Athens: beyond a legalistic approach. European Review of History—Revue européenne d'histoire, v. 16, n. 3, p. 347-363, 2009.

VLASSOPOULOS, K. What do we really know about Athenian society? Annales. Histoire, Sciences Sociales - English Edition, v. 71, n. 3, p. 419-439, 2016.

WILLIAMS, M. F. Two Traditional Elements in Thucydides' Corcyrean Excursus. The Classical World, v. 79, n. 1, p. 1-3, 1985.

Downloads

Publicado

29-11-2024

Como Citar

Santrovitsch da Silva, B. (2024). Stasis e Dívida na Córcira Antiga: Conexões e Comparações em um Estudo de Caso. Revista Cadernos De Clio, 14(2). https://doi.org/10.5380/clio.v14i2.96564

Edição

Seção

Artigos