Roupas que ficam guardadas na memória: sobre as relações entre vestir, sentir, lembrar e narrar

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/cra.v24i2.91809

Palavras-chave:

Antropologia dos Objetos, Roupas, Memória, Narrativa de Vida, Cultura Material

Resumo

Este artigo discute a forma como as pessoas se relacionam com suas roupas, no cotidiano e na memória, a partir de entrevistas com 46 jovens. Primeiro, aborda-se o poder das roupas de provocar sentimentos de segurança e insegurança, decorrente da sua eficácia na externalização da percepção sobre nossa identidade. Em seguida, trazendo à tona as redes de sociabilidade ao redor das roupas, enfatiza-se que elas ora marcam o espaço da singularidade, ora expressam e constroem vínculos sociais. A capacidade das roupas de sobreviverem ao tempo, carregando marcas de seus donos, faz com que compartilhá-las seja uma forma de materializar vínculos afetivos, e mostrar-se disposto a borrar a fronteira entre os corpos. Por fim, aborda-se a capacidade das roupas de carregar e evocar lembranças, e se perpetuar na memória, de modo que falar sobre elas é um caminho por meio do qual podemos interpretar retrospectivamente nossa própria vida e identidade.

Biografia do Autor

Clara Calazans Espindola, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia.

Mestre em Sociologia e Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina.

Referências

Espindola, C. (2021). Falar sobre roupas e falar sobre si: um estudo sobre o lugar das roupas em narrativas de vida. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Sociais) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis.

______. (2023). Narrar uma vida em mensagens de voz: uma experiência de pesquisa através de áudios de WhatsApp. In XIV Reunião de Antropologia do Mercosul: reconexões e desafios a partir do sul global. São Paulo: Síntese Eventos, p. 1-15.

Espindola, C. & Bergamo, A. (2023). No armário da memória: contando histórias sobre roupas. Plural (USP), v. 30, p. 175-195.

Banim, M., & Guy, A. (2001). Dis/continued selves: why do women keep clothes they no longer wear? In Guy, A., & Green, E., & Banim, M. (eds). Through the wardrobe: women’s relationship with their clothes. Nova York: Berg.

Bergamo, A. (2007). A experiência do status: roupa e moda na trama social. São Paulo: Editora UNESP, 2007.

______. (2009). As estampas da memória: aproximações e distanciamentos entre a memória e a história da moda. Iara – Revista de Moda, Cultura e Arte, 2(2), 62–84. https://www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistaiara/wp-content/uploads/2015/01/04_Iara_vol2_n2_Dossie.pdf

Bourdieu, P. (2008 [1986]). A ilusão biográfica. In P. Bourdieu. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus.

Bruner, J. (2014). A criação narrativa do eu. In Bruner, J. Fabricando histórias: direito, literatura, vida. São Paulo: Letra e Voz.

Buckley, C. (1998). On the margins: theorizing the history and significance of making and designing clothes at home. Journal of Design History, 11(2), 157–171. https://doi.org/10.1093/jdh/11.2.157

Crane, D. (2006). A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade das roupas. São Paulo: Editora Senac.

Cwerner, S. (2001). Sociology of the wardrobe. Fashion Theory, 5(1), 79–92. https://doi.org/10.2752/136270401779045725

Elias, N. (2001 [1969]). A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte. Rio de Janeiro: Zahar.

Fisher, T., & Woodward, S. (2014). Fashioning through materials: material culture, materiality and processes of materialization. Critical Studies in Fashion and Beauty, 5(1), 3–23. http://dx.doi.org/10.1386/csfb.5.1.3_2

Giddens, A. (2002). Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

Goffman, E. (2011 [1967]). Ritual de interação: ensaios sobre o comportamento face a face. Petrópolis: Vozes.

Harvey, J. (2003). Homens de preto. São Paulo: Editora UNESP.

Kopytoff, I. (2008). A biografia cultural das coisas: a mercantilização como processo. In A. Appadurai (ed.), A vida social das coisas: as mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense.

Lyon, M. (1995). Missing emotion: The limitations of cultural constructionism in the study of emotion. In Cultural Anthropology, 10(2), 244–263.

Maluf, S. (2012). Eficácia simbólica: dilemas teóricos e desafios etnográficos. In F. Tavares & F. Bassi (eds), Para além da eficácia simbólica: estudos em ritual, religião e saúde. Salvador: EDUFBA.

Mauss, M. (2003 [1925]). Ensaio sobre a dádiva: forma e razão da troca nas sociedades arcaicas. In M. Mauss. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify.

Perrot, M. (1989). Práticas da memória feminina. Revista Brasileira de História, 9(18), 9–18. https://www.anpuh.org/revistabrasileira/view?ID_REVISTA_BRASILEIRA=23

Polhemus, T. (2016). No supermercado do estilo. Contracampo, 35(2), 7–12. https://doi.org/10.22409/contracampo.v35i2.932

Pollak, M. (1992). Memória e identidade social. Estudos Históricos, 5(10), 200–212. https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/1941

Rosenthal, G. (2014). História de vida vivenciada e história de vida narrada: a interrelação entre experiência, recordar e narrar. Civitas, 14(2), 227–249. https://doi.org/10.15448/1984-7289.2014.2.17116

Silvano, F., & Mezabarba, S. (2019). Encontros entre moda e antropologia: inícios, debates e perspectivas. in Cadernos de Arte e Antropologia, 8(1), 15–27. https://doi.org/10.4000/cadernosaa.1869

Slater, A. (2014). Wearing in memory: materiality and oral histories of dress. Critical Studies in Fashion and Beauty, 5(1), 125–139. https://doi.org/10.1386/csfb.5.1.125_1

Stallybrass, P. (2012). O casaco de Marx: roupas, memória, dor. Belo Horizonte: Autêntica Editora.

Wilson, E. (2003). Adorned in dreams: fashion and modernity. Nova York: I. B. Tauris.

Woodward, S. (2005). Looking good: feeling right - aesthetics of the self. In D. Miller & S. Küchler (eds). Clothing as material culture. Oxford: Berg.

Downloads

Publicado

2024-10-03

Como Citar

Espindola, C. C. (2024). Roupas que ficam guardadas na memória: sobre as relações entre vestir, sentir, lembrar e narrar. Campos - Revista De Antropologia, 25(1). https://doi.org/10.5380/cra.v24i2.91809

Edição

Seção

Artigos