Roupas que ficam guardadas na memória: sobre as relações entre vestir, sentir, lembrar e narrar
DOI:
https://doi.org/10.5380/cra.v24i2.91809Palavras-chave:
Antropologia dos Objetos, Roupas, Memória, Narrativa de Vida, Cultura MaterialResumo
Este artigo discute a forma como as pessoas se relacionam com suas roupas, no cotidiano e na memória, a partir de entrevistas com 46 jovens. Primeiro, aborda-se o poder das roupas de provocar sentimentos de segurança e insegurança, decorrente da sua eficácia na externalização da percepção sobre nossa identidade. Em seguida, trazendo à tona as redes de sociabilidade ao redor das roupas, enfatiza-se que elas ora marcam o espaço da singularidade, ora expressam e constroem vínculos sociais. A capacidade das roupas de sobreviverem ao tempo, carregando marcas de seus donos, faz com que compartilhá-las seja uma forma de materializar vínculos afetivos, e mostrar-se disposto a borrar a fronteira entre os corpos. Por fim, aborda-se a capacidade das roupas de carregar e evocar lembranças, e se perpetuar na memória, de modo que falar sobre elas é um caminho por meio do qual podemos interpretar retrospectivamente nossa própria vida e identidade.
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