A paternidade no centro pela busca de outras masculinidades entre grupos de homens

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/cra.v24i2.87792

Palavras-chave:

masculinidades, paternidade, parentalidade, gênero, grupos de homens

Resumo

O presente artigo resulta de etnografia digital realizada por quatro meses em 2020 em dois coletivos de Whatsapp, formados exclusiva e espontaneamente por grupos de homens cuja origem geográfica é o Distrito Federal. Os grupos de homens têm emergido nos últimos anos no país enquanto espaços nos quais sujeitos, que se identificam e são identificados com o gênero masculino, se reúnem para debater a atual condição do ser homem, por vezes com o propósito de questionar e revisar modelos tradicionais de masculinidade. Na arena virtual, foi evidenciado que as questões da paternidade e do seu exercício, a parentalidade, estão entre as preocupações e os afetos centrais daqueles que buscam esses locais para compartilhar dilemas psíquicos e subjetivos de sua existência gendrada, revelando valores e representações ainda muito conservadores. O artigo apresenta momentos-chave onde essa discussão se desdobrou em temas, como: a função do pai na formação da masculinidade do filho; quem pode legitimamente preencher a função paterna; e, a subversão da paternidade desde a afirmação de outras identidades de gênero hoje. A discussão desse objeto de estudo será articulada com reflexões sobre o patriarcado no Brasil e a construção social das masculinidades.

Biografia do Autor

Alberto Luís Silva, Universidade de Brasília/Doutorando e professor

Professor voluntário da Universidade de Brasília. Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós Graduação do Instituto de Ciências Sociais da UnB, sendo bolsista pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e realizando trabalho na linha de pesquisas Trabalho, Desigualdades e Diferenças. Concluiu o mestrado também no PPGSOL, em 2021, com bolsa CAPES. É pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Diversidade Sexual e de Gênero (NEDIG/CEAM/UnB); do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Mulheres (NEPEM/CEAM/UnB); e do Núcleo de Pesquisas sobre Instituições e Políticas Públicas (CNPq/UFPI), na linha de investigações sobre teoria política contemporânea. Compõe a equipe de consultora/es do Termo de Execução Descentralizada do Ministério das Mulheres, referente à reestruturação do Ligue 180, serviço de atendimento às denúncias de violência contra as mulheres. Foi editor-chefe da Pós - Revista Brasiliense da Pós Graduação em Ciências Sociais. Tem interesse e/ou experiência nas seguintes linhas de pesquisa: estudos sobre gênero e sexualidade, estudos sobre masculinidades, políticas públicas para a população LGBTQIA+, direitos humanos e diversidade e movimentos sociais. E-mail: albertosilvaterra@hotmail.com

Tânia Mara Campos de Almeida, Universidade de Brasília/Professora

Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora-UFJF (1989), mestra e doutora em Antropologia pela Universidade de Brasília-UnB (respectivamente, 1994 e 2001), com pós-doutorado em Representações Sociais pela UnB (Instituto de Psicologia, 2006), pela Université de Provence e pela EHESS (França, 2007). Atualmente, é pesquisadora e professora associada do Departamento de Sociologia -UnB, docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGSOL - nota 7 CAPES), bem como é integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Mulheres (NEPeM) da mesma universidade, tendo sido sua dirigente entre 2013 e 2018; sua vice-dirigente a partir de set/2023. Nos períodos de 2012 a 2016 e set/2022 a jul/2023, editora-adjunta da revista "Sociedade e Estado" (A1 Qualis CAPES); de jul/2020 a ago/2022 foi sua editora-responsável, além de integrar o corpo editorial de vários periódicos científicos. De 2016 - 2018, atuou como coordenadora dos bacharelados em Sociologia e Ciências Sociais do Departamento, sendo subchefe do mesmo Departamento de mai/2022 a fev/2024. Pesquisadora PQ2 do CNPq de 2020 a 2023.Tem experiência com docência, ensino e extensão na área das Ciências Sociais e Humanas, com ênfase nos seguintes temas e variadas publicações: gênero, violência, trabalho, saúde e religião. Participa do grupo de pesquisa do CNPq "Diálogos em Sociologia Clínica - UnB", coordena projeto de pesquisa financiado pela FAP DF no biênio 2023-2024, bem como coordena projeto de pesquisa em parceria com o Ministério das Mulheres de 2024 a 2025.

Referências

Almeida, M. V. (1996). Gênero, masculinidade e poder: Revendo um caso do Sul de Portugal. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.

Ambra, P. (2021). O que é um Homem? Psicanálise e História da Masculinidade no Ocidente. São Paulo: Zagodoni.

Áries, P. (1981). História Social da Criança e da Família. LTC.

Badinter, E. (1992). XY Sobre a Identidade Masculina. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Belotti, E. G. (1975). Educar para a Submissão O descondicionamento da mulher. Rio de Janeiro: Editora Vozes.

Bly, R. (1991). João de Ferro Um livro sobre homens. Editora Campus.

Butler, J. (2003). Problemas de Gênero Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Butler, J. O parentesco é sempre tido como heterossexual? (2003) Cadernos Pagu (21): pp.219-260.

Connell, Raewyn. (1995). Políticas da Masculinidade. Educação & Realidade, 20 (2): 185-206.

Corrêa, M. Repensando a família patriarcal brasileira Notas para o estudo das formas de organização familiar no Brasil. (1981). Cad. Pesq., São Paulo, (37): 5-16.

Courneau, G. (2014). Pai Ausente Filho Carente. (2014). São Paulo: Manole.

Del Priore, M. (2009). Ao Sul do Corpo Condição feminina, maternidades e mentalidades no Brasil colônia. São Paulo: Editora Unesp.

Época. Casa de mãe solteira é “fábrica de desajustados”, diz Mourão. 18/09/2018. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2018/09/casa-de-mae-solteira-e-fabrica-de-desajustados-diz-mourao.html. Acesso em: 26/05/2022.

Ferraz, C. P. Alves, A. P. (2017) Da etnografia virtual à etnografia online: deslocamentos dos estudos qualitativos em rede digital. ANPOCS: Caxambu.

Ferraz, C. P. (2019). A etnografia digital e os fundamentos da Antropologia para estudos em rede on-line. Aurora: revista de arte, mídia e política. São Paulo, v.12, n.35, p.46-69.

Fonseca, C. (2004). A certeza que pariu a dúvida: paternidade e DNA. Estudos Feministas, Florianópolis, 12 (2): 264.

Foucault, M. (2002). Em defesa da sociedade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Foucault, M. (2014). História da Sexualidade Vol. 1 A Vontade de Saber. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Freud, S. (2020). Luto e melancolia. LeBooks Editora.

Freud, S. (2013). Psicologia das massas e análise do Eu. L&PM.

Freyre, G. (2004). Casa Grande & Senzala. Global Editora.

Goffman, E. (2014). A representação do Eu na vida cotidiana. São Paulo: Vozes.

Goffman, E. (1981). Estigma Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. LTC.

hooks, bell. (2004). The Will to Change Men, Masculinity and Love. Nova York: Washington Square Press.

Kafka, Franz. (2004). Carta ao Pai. São Paulo: L&PM.

Kirjner, Daniel. (2016). Entre gênero e espécie: à margem teórica das Ciências Sociais e do feminismo. Tese de doutorado. Instituto de Ciências Sociais. Universidade de Brasília, Brasília.

Lacan, J. (2005). Nomes-do-pai. Rio de Janeiro: Zahar.

Laitano, C. (2020). Pai de todos Pai de ninguém: modelos de paternidade no período abolicionista. Nau Literária, vol.17, n.1.

Lauretis, T. (2019). A tecnologia do gênero. In HOLLANDA, Heloisa B. Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo.

Mesquita, Y. M., & Silva-Corrêa , H. C. (2021). A “Masculinidade Tóxica” em Questão: Uma Perspectiva Psicanalítica. Revista Subjetividades, 21(1), Publicado online: 24/03/2021. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i1.e10936

Pinho, G.S. (2020). Travessias da paternidade Um estudo sobre o pai e sua função na clínica e na cultura. Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Roudinesco, E. (2003). A família em desordem. Rio de Janeiro: Zahar.

Segato, R. L. (1998). O percurso do gênero na Antropologia e para além dela. Série Antropológica. Brasília.

Segato, R.L. (2003). La economía del deseo en el espacio virtual: Hablando sobre religión por la internet. Las estructuras elementales de la violencia. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes.

Skageby, J. (2011). Online Etnographic Methods: Towards a Qualitative Understanding of Virtual Community Practices. Copyright IGI Global. Linkoping, Sweden.

Sleenes, Robert W. (2012). Na Senzala Uma Flor Esperanças e recordações na formação da família escrava. Campinas: Editora Unicamp.

Thurler, A.L. (2009). Em Nome da Mãe O não reconhecimento paterno no Brasil. Florianópolis: Editora Mulheres.

Thurler, Ana Liési. (2006). Outros horizontes para a paternidade brasileira no século XXI? Sociedade e Estado, Brasília, v.21, n.3, set./dez.

Trevisan, J.S. (2017). Pai Pai. São Paulo: Alfaguara.

Welzer-Lang, D. (2001). A construção do masculino: dominação das mulheres e homofobia. Estudos Feministas, 461.

Downloads

Publicado

2024-10-03

Como Citar

Silva, A. L., & de Almeida, T. M. C. (2024). A paternidade no centro pela busca de outras masculinidades entre grupos de homens. Campos - Revista De Antropologia, 25(1). https://doi.org/10.5380/cra.v24i2.87792

Edição

Seção

Dossiê