“Isto não é uma taberna, é um casino!”: o curso de pagador de banca

Autores

  • João Gomes Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas / Instituto de Ciências Sociais - Universidade de Lisboa e Fundação para a Ciência e Tecnologia https://orcid.org/0000-0002-3954-1977

DOI:

https://doi.org/10.5380/cra.v21i1.73062

Palavras-chave:

Casinos, ensino, pagadores de banca, técnica, atitude

Resumo

Durante longas décadas, os casinos em Portugal permaneceram universos sociais e laborais hermeticamente fechados. O Estado impôs, desde cedo, o seu isolamento social, procurando, igualmente, restringir o acesso dos jogadores aos seus espaços. Esta selectividade e exclusivismo foram, prontamente, apropriados pelos trabalhadores do sector, ou seja, eles não hesitaram em mobilizar práticas de “oclusão social” que visavam restringir o acesso à categoria profissional de pagador de banca (dealer/croupier), preservar a raridade do seu título e impedir a vulgarização das suas competências profissionais. Este artigo, baseado numa investigação etnográfica, procura analisar as dinâmicas de constituição do “habitus” profissional dos pagadores de banca de casino, nomeadamente, pretende examinar os métodos de inculcação, incorporação e apropriação da técnica e atitude correctas. O artigo procura demonstrar, igualmente, como essa inculcação, incorporação e apropriação representam, simultaneamente, um ajustamento a todo um universo material e simbólico, isto é, a todo um saber ser e saber estar.

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Publicado

2020-11-19

Como Citar

Gomes, J. (2020). “Isto não é uma taberna, é um casino!”: o curso de pagador de banca. Campos - Revista De Antropologia, 21(1), 139–162. https://doi.org/10.5380/cra.v21i1.73062

Edição

Seção

Artigos