A mulher e seu quintal, caminhadas por um universo mágico-místicotransformacional
Resumo
Este trabalho apresenta reflexões preliminares acerca da experiência etnográfica no quintal de uma mulher que, segundo sua comunidade de pertença, “vira bicho”, o que corresponde à categoria nativa de populações amazônicas, “engerar”, referente a um processo mágico de metamorfose. O encontro com essa mulher se deu em uma comunidade quilombola na ilha do Marajó (PA), formada a partir da relação afroindígena, constituinte de um complexo cosmológico povoado de seres sobrenaturais que mantêm relações profundas com seus diferentes ambientes. Neles são estabelecidos vínculos complexos entre os elementos que os compõem. São lugares de morada em que o humano estabelece laços com os não humanos e com o si mesmo em movimento dialético. Os limites se definem e se borram
em constante (re)criação. É onde se produzem cotidianamente os sentidos do ser e estar no lugar, que, por sua vez, institui um movimento criativo, uma ético-estética de atuação e interação com ele.
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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cra.v20i1.70019
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