Uma revisão crítica da antropologia de Carmen Junqueira

Autores

  • Lindinalva Laurindo Teodorescu Programa de Pós-doutorado em ciências sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.5380/cra.v18i1-2.57361

Palavras-chave:

Antropologia indígena, relações de poder, mulheres indígenas, ritos e mitos, natureza e cultura

Resumo

O artigo faz uma revisão crítica da antropologia produzida pela antropóloga Carmen Junqueira, junto ao povo Kamaiurá, do alto Xingu, ao longo de cinquenta anos de pesquisa. O texto faz ainda uma tentativa de relacionar a perspectiva histórica adotada pela antropologia de Carmen Junqueira e a perspectiva que dá conta da composição do universo, em termos de pluralidade de mundos, destacando os modelos desenvolvidos por Philippe Descola (2005; 2017) e Viveiros de Castro (2002) e a sociologia política de Luc Boltanski e Laurent Thévenot (1991). O interesse deste exercício é apontar as potencialidades abertas pelo trabalho etnológico de Junqueira para uma interlocução com abordagens contemporâneas das ciências sociais. A cosmologia indígena, o imaginário e o simbólico como constituição de realidades sociais, a circulação de bens e prestígio em um contexto político interétnico, são alguns dos temas que abrem uma série de reflexões e comparações entre estas diferentes perspectivas.

 

Abstract: This article reviews the anthropology produced by the anthropologist Carmen Junqueira, around the Kamaiurá people of the upper Xingu, over fifty years of research. Among the publications selected for analysis four themes were retained that are recurrent in her research and which constitute the core of her anthropology. They are: 1) the composition of the Kamaiurá universe (the forms of production, kinship and power relations, the leader´s bounty and sacrifice, changes and group interaction among the upper Xingu peoples, protectionist politics and power displacement in the village of Ipavu and rites as the foundation of the social system); 2) the space of women in indigenous societies (the mythical narratives and the situation of women); 3) the imaginary and the symbolic in the configuration of Kamaiurá time; 4) the animal world and the human world or the relation between nature and culture. In this last item, an attempt was made to compare the anthropology of Carmen Junqueira with the perspective that accounts for the composition of the indigenous universe in terms of a plurality of worlds, such as the model developed by Philippe Descola and Eduardo Viveiros de Castro.

 

 

Biografia do Autor

Lindinalva Laurindo Teodorescu, Programa de Pós-doutorado em ciências sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Doutora em sociologia pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales - Paris (França) sob direção de Claudine Herzlich. Integrou o Grupo de Sociologia Política e Moral, sob direção de Luc Boltanski, com quem concluiu o DEA (Diplôme des Études Approfondies). Mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo sob orientação de Carmen Junqueira. Graduação em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi pesquisadora no Instituto da Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Em seguida trabalhou na França no âmbito do CERMES (Centre de Recherche Médecine et Sciences Sociales). Foi responsável de pesquisa em ciências sociais na Association Nationale des Généralistes pour la Réflexion et l’Etude sur l’Hépatite C (ANGREHC) e Professora de Sociologia do Desvio Social e Sociologia da Saúde no Institut de Formation Sociale des Yvelines- França.

Publicação: Vivre Avec le sida en phase avance : Une étude de sociologie de la maladie. Paris: Editions L’harmattan; 1999. (Collection Logiques Sociales). Ameaça de identidade e permanência da pessoa. São Paulo: Cortez; 2004. (Coleção Questões de nossa época). (Em co-autoria com Paulo Roberto Teixeira): Historias da Aids no Brasil. Vol. I - As respostas governamentais à epidemia de Aids (2015) e Vol. II– A Sociedade civil se organiza para lutar contra a AIDS (2015). Publicou ainda diferentes artigos de sociologia em revistas nacionais e estrangeiras. Atualmente trabalha sobre a biografia da antropóloga Carmen Junqueira no âmbito do Programa de Pós-doutorado em Ciências Sociais da PUC-SP

Referências

AGOSTINHO, Pedro. 1974. KWARÍP, Mitos e Ritual no Alto Xingu. São Paulo: EPU.

BOLTANSKI, Luc et THEVENOT, Laurent. 1991. De la Justification - Les Economies de la grandeur. Paris: Gallimard.

CALAVIA SÁEZ, Oscar. 2012. “Do Perspectivismo ameríndio ao índio real”. Campos 13(2): 7-23. https://doi.org/10.5380/cam.v13i2.36728

CALVINO, Ítalo. 1997. “A combinatória e o mito na arte da narrativa”. In: Atualidade do mito. Tradução de Carlos Arthur R. do Nascimento. São Paulo: Duas Cidades.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. 2012. Savoir autochtones: quelles nature, quels apports? Leçon Inaugurale du Collège de France. Paris: Fayard.

DESCOLA, Philippe. 2005. Par-delà nature et culture. Paris: Gallimard.

DESCOLA, Philippe. 2010. Diversité de nature, diversité de culture. Paris: Bayard.

DESCOLA, Philippe. 2017. La Composition des Mondes. Entretien avec Pierre Charbonnier. Paris: Flammarion.

DURKHEIM, Émile. 2003. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes.

FRAZER, James. 1982. O Ramo de Ouro. Rio de Janeiro: LTC.

GALVÃO, Eduardo.1979. Índios e Brancos no Brasil. Encontros de Sociedades. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

GODELIER, Maurice. 1981. « O Fundamento do pensamento selvagem”. In: E. A. Carvalho (org.). Godelier: Antropologia. São Paulo: Ática.

GODELIER, Maurice. 1996. L’Énigme do Don. Paris: Flammarion.

GODELIER, Maurice. 2010. Au Fondement des Sociétés Humaines. Ce que nous Apprend l’Anthropologie. Paris: Flammarion.

HILLMAN, James. 1997. O código do ser. Uma busca do caráter e da vocação pessoal. Rio de Janeiro: Editora Objetiva.

JUNQUEIRA, Carmen. 1967. Os Kamaiurá e o Parque Nacional do Xingu. Tese de Doutorado. São Carlos: Universidade de Campinas.

JUNQUEIRA, Carmen. 1978. Os Índios de Ipavu - Um estudo sobre a vida do grupo Kamaiurá. São Paulo: Ática.

JUNQUEIRA, Carmen e PAIVA, Eunice. 1985. O Estado Contra o Índio. São Paulo: Publicação do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais - PUC.

JUNQUEIRA, Carmen. 1996. “Maíra”. In: D. Ribeiro (Org.). Maíra. Rio de Janeiro: Record.

JUNQUEIRA, Carmen. 2002. Sexo e desigualdade entre os Kamaiurá e os Cinta Larga. São Paulo: Olho d'água.

JUNQUEIRA, Carmen. 2004. “Pajés e feiticeiros”. Revista Estudos Avançados. 18(52): 289-302. https://doi.org/10.1590/S0103-40142004000300018

JUNQUEIRA, Carmen. 2008. Antropologia Indígena (Uma nova Introdução). São Paulo: EDUC.

JUNQUEIRA, Carmen e VITTI, Taciana. 2009. “O kwarýp Kamaiurá na aldeia de Ipavu”. Revista Estudos Avançados. 23: 133-148. https://doi.org/10.1590/S0103-40142009000100010

JUNQUEIRA, Carmen. 2010a. “Disputa política na sociedade Kamaiurá”. Revista Brasileira de Linguística Antropológica. 1:

-233. https://doi.org/10.26512/rbla.v1i2.12366

JUNQUEIRA, Carmen. 2010b. “Os diamantes do povo Cinta Larga”. In: D. Milan e O. Matos (Org.). Gemas da terra - imaginação estética e hospitalidade. São Paulo: SESC.

JUNQUEIRA, Carmen. 2015. “Linguagem dos Ritos”, Revista Brasileira de Linguística Antropológica 7: 21-33. https://doi.org/10.26512/rbla.v7i1.16287

JUNQUEIRA, Carmen. 2017. O tempo e o imaginário - O pajé e a antropóloga, 50 anos de diálogo. Manaus: EDUA. Disponível em: www.pucsp.br/sites/default/files/.../livro_carmen_junqueira_1.pdf

LEITE, Marcelo. 2017. “As Montanhas Sagradas dos Yanomanis”. Ilustríssima. Folha de São Paulo.

LEVI STRAUSS, Claude. 1971. Mythologiques - L’homme nu, tome 4. Paris: Plon.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 1976. As Estruturas Elementares do Parentesco. Petrópolis: Vozes.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 1976. O Pensamento Selvagem. São Paulo: Companhia Editora Nacional.

MAUSS, Marcel. 1974. “Ensaio sobre a dádiva. Forma e Razão da troca nas sociedades arcaicas”. In: Sociologia e Antropologia. São Paulo: EPU.

MEILLASSOUX, Claude. 1977. Mulheres, Celeiros & Capitais. Porto: Editora Afrontamento.

RAMOS, Alcida Rita. 2010. “Revisitando a Etnologia Brasileira”. In: C. B, Martins (coord.) e L.F.D, Duarte (org.). Horizontes das Ciências Sociais no Brasil/ Antropologia. São Paulo: AMPOCANPOCS.

RAMOS, Diego Faust. 2010. O tempo Kamayurá. Dissertação de mestrado. Florianópolis: UFSC.

RIBEIRO, Darcy. 1968. O processo civilizatório: etapas da evolução sociocultural. São Paulo: Civilização Brasileira.

RIBEIRO, Darcy. 1995. O Povo Brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. 1959. Les Confissions – Autres textes autobiographiques. Œuvres Complètes, tome I. Bibliothèque de la Pléiade. Paris: Gallimard.

SAHLINS, Marshall. 1965. «On the sociology of Primitive Exchange ». In: M. Bantonn (ed.). The Relevance of models for Social Antropology. Monographs I. London / New York: Tavistock Publications.

SZTUTMAN, Renato. “A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia de Eduardo Viveiros de Castro”. Revista Sexta Feira. www.antropologia.com.br/comu/colab/c13-release_vcastro.pdf.

TURNER, Terence. 2009. "The crisis of late structuralism. Perspectivism and animism: rethinking culture, nature, spirit, and bodiliness". Tipiti 7 (1): 1- 42.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2002. Inconstância da Alma Selvagem. São Paulo: Cosac & Naify.

Downloads

Publicado

2017-12-30

Como Citar

Laurindo Teodorescu, L. (2017). Uma revisão crítica da antropologia de Carmen Junqueira. Campos - Revista De Antropologia, 18(1-2), 89–115. https://doi.org/10.5380/cra.v18i1-2.57361

Edição

Seção

Dossiê