Sangue, Leite e Quarentena: Notas etnográficas sobre o puerpério na cidade de Melgaço, Pará

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5380/cam.v8i2.11169

Palavras-chave:

puerpério, amamentação, Pará

Resumo

Nos meses em que vivi em Melgaço, na porção marajoara do Pará, muito me impactaram três mulheres que perambulavam pela cidade descalças, despenteadas e sempre com as mesmas roupas, rotas e amarfanhadas. Foi me explicado que o sangue puerperal tinha-lhes subido para a cabeça. Neste artigo apresento este estado patológico, principal resultado de um resguardo mal cuidado. Para tanto, descrevo um conjunto de regras de comportamento, dieta e amamentação que era sustentado para se evitar tal estado. E, ao relembrar de um conflito ilustrativo entre uma moça recém-parida e sua irmã, intento mostrar como uma complexa gama de fatores se concentram nesse período de recuperação de pós-parto tornando o cumprimento da quarentena um constante desafio enfrentado pelas mulheres e famílias melgacenses.

Biografia do Autor

Soraya Fleischer, CFEMEA

doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atua como assessora técnica da ONG Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), em Brasília

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Como Citar

Fleischer, S. (2007). Sangue, Leite e Quarentena: Notas etnográficas sobre o puerpério na cidade de Melgaço, Pará. Campos - Revista De Antropologia, 8(2), 81–97. https://doi.org/10.5380/cam.v8i2.11169

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