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Sangue, Leite e Quarentena: Notas etnográficas sobre o puerpério na cidade de Melgaço, Pará

Soraya Fleischer

Resumo


Nos meses em que vivi em Melgaço, na porção marajoara do Pará, muito me impactaram três mulheres que perambulavam pela cidade descalças, despenteadas e sempre com as mesmas roupas, rotas e amarfanhadas. Foi me explicado que o sangue puerperal tinha-lhes subido para a cabeça. Neste artigo apresento este estado patológico, principal resultado de um resguardo mal cuidado. Para tanto, descrevo um conjunto de regras de comportamento, dieta e amamentação que era sustentado para se evitar tal estado. E, ao relembrar de um conflito ilustrativo entre uma moça recém-parida e sua irmã, intento mostrar como uma complexa gama de fatores se concentram nesse período de recuperação de pós-parto tornando o cumprimento da quarentena um constante desafio enfrentado pelas mulheres e famílias melgacenses.


Palavras-chave


puerpério; amamentação; Pará

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DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cam.v8i2.11169

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