Evolução de uma turfeira na transição Pleistoceno/Holoceno na escarpa Serra da Esperança, Paraná, através do conteúdo de diatomáceas
DOI:
https://doi.org/10.5380/qeg.v15i0.59954Palabras clave:
Quaternário, Paleoclima, Sul do BrasilResumen
Buscou-se inferir, através de uma abordagem multi-proxy, o paleoambiente durante o Quaternário em uma região planáltica do sul do Brasil. Analisou-se um testemunho de 225 cm obtido no Depósito Aroeiras, Serra da Esperança, Guarapuava (PR). A cobertura atual é uma associação de floresta com araucárias e campos, na cota de 1.215 m.s.m., sob clima Cfb de Koeppen. A variação entre isótopos estáveis 13C, conteúdo de carbono e matéria orgânica, além de análises qualitativas de diatomáceas, apontam que na base do testemunho, datado de 13.754 anos cal. AP, o ambiente era predominantemente florestal. Em um segundo momento, ao redor de 9.315 anos cal AP, com a vegetação mais aberta, associada a redução de disponibilidade hídrica, ocorreu a formação do depósito turfoso. Por fim, a terceira e última fase mostra que o ambiente de turfeira se expandiu para um campo hidromórfico, com características próximas das configurações climáticas atuais. Os dados proxy analisados apontam para um quadro paleoclimático onde as fases glaciais pleistocênicas tardias foram caracterizadas por climas mais frios, porém úmidos o bastante para a gênese de ambientes ripários. A fase interglacial seguinte, holocênica, apresentou flutuações climáticas com eventos menos úmidos, por vezes bastante severos, que levaram à gênese da turfeira em estudo.
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